Um relatório da Euromonitor International, intitulado “10 Principais Tendências Globais de Consumo 2019”, apontou as correntes de ideias emergentes para este ano e que podem se consolidar nos próximos. Entre elas, aparece a JOMO, sigla para Joy of Missing Out. Em tradução livre, a alegria de perder ou de não participar de algo importante, anunciado nas redes sociais.
É a ideia oposta ao FOMO, sigla para Fear of Missing Out, ou o medo de estar por fora de algo que todos estão comentando, e que, por um bom período, fez com que as pessoas se sentissem na obrigação de se manterem conectadas o tempo todo. Nessa nova linha, da JOMO, estão os chamados suicidas virtuais, pessoas que decidem desconectar para proteger seu bem-estar mental, com o objetivo de priorizar o que realmente gostam de fazer.
Há dois anos longe do Instagram e do Facebook, Daiane Barbosa de Jesus, 27 anos, recreacionista escolar, garante que não sente mais falta desse tipo de entretenimento, embora a adaptação ao novo estilo de vida tenha sido desafiadora. “Estou mais feliz sem expor a minha vida pessoal”, diz.
Para a psiquiatra Sara Bottino, coordenadora do Projeto de Prevenção da Violência nas Redes Sociais, da Unifesp, as pessoas estão começando a se dar conta de que as redes sociais criam uma realidade ilusória: “As redes aumentam a conexão com as pessoas, mas tudo ocorre de forma superficial. Na prática, podem elevar a sensação de vazio e solidão”.
Ela acredita que, antes de transformar essa conexão em um hábito nocivo, é importante ter discernimento para lidar com esses meios de comunicação de forma saudável.
“Não creio que seja necessário sair de todas as redes, pois a pessoa pode ficar isolada e perder oportunidades de encontros. Se decidir sair de vez, é importante manter essa interação com as pessoas de outras maneiras”, afirma.
Daiane garante que está bem resolvida com sua decisão. “Não sinto falta porque minha vida individual e coletiva mudou por completo. Em meio a tantas polêmicas e ao mau uso das redes sociais, hoje me sinto mais tranquila. Encontro meus amigos e temos assuntos e curiosidades diversas, que antes não tínhamos para comentar, por causa do hábito de postar tudo que ocorria em nossos cotidianos”, conta.
Na maioria dos casos, é a forma incorreta de usar as redes sociais que ocasiona problemas. “As pessoas se envolvem muito, se importam com tudo o que é postado nas redes e sentem-se na obrigação de comentar. Por isso, podem acabar esgotadas”, diz Dora Sampaio Góes, psicóloga do Programa de Dependências Tecnológicas do IPq – Instituto de Psiquiatria do HC.
Mônica Kikuti, 40 anos, agente de segurança, também preferiu cair fora, ao perceber que estava criando muitos laços online, porém, com poucos vínculos afetivos. “Tinha mais de três mil amigos no Facebook, mas, quando minha mãe faleceu, havia uns dez ao meu lado. Notei que muita gente segue, dá likes mas, se a gente realmente precisa, fora da tela, a maioria não tem disponibilidade”, afirma.
Na época, ela também estava vivenciando o luto de uma separação e decidiu que não queria se expor ou receber notícias de sua ex: “Decidi me ausentar e, assim, evitar o bombardeio de perguntas”.
Ela diz que, no começo, teve mais dificuldade para se acostumar, porque havia criado um hábito de acompanhar as notificações, que chegavam a todo momento: “É natural sentir falta, pois a gente vicia nisso. Mas percebi que precisava começar a prestar atenção em outras coisas e isso foi libertador”.
Diminuição do estresse
Nos Estados Unidos, já existe o Dia Nacional de Desconexão, quando as pessoas são incentivadas a passar 24 horas offline, para redescobrir outros prazeres simples da vida. Trata-se de um novo olhar sobre o papel da tecnologia, que propõe um equilíbrio entre as horas que se gasta navegando e o tempo dedicado a diversos outros tipos de atividades.
Marcelo Fernandes da Silva, 44 anos, técnico em manutenção mecânica, decidiu sair de vez quando percebeu que o conteúdo recebido via redes não agregava muito à sua vida: “Muitas exposições são absolutamente desnecessárias. As pessoas perderam a noção do que é e para que servem a rede social”. Para ele, os debates e as polêmicas que surgem nesses ambientes são absolutamente frágeis, pois a maioria das pessoas fala sem saber dos assuntos ou sem compreendê-los totalmente. “Elas apenas recebem e repassam sem entender nada. A maioria não tem noção de qual é o seu espaço ou papel na sociedade”, afirma. Ele garante que sua saída definitiva das redes aliviou a carga de estresse diário.
A psicóloga Dora não defende a ausência absoluta das redes, salvo em casos específicos, pois avalia que as conexões online são necessárias. “Não é preciso sair, para aquilo não impactar tanto na vida da pessoa, a menos que essas atividades virtuais estejam prejudicando-a. Mas é fundamental ter foco e disciplina na utilização”, explica.
Ela ressalta que é preciso refletir sobre a importância das conexões virtuais e ter autocontrole para interagir com as pessoas também fora das telas.
Fonte: UOL
Créditos: UOL