O escândalo do vazamento e uso de dados para fins políticos fez com que o Facebook enfrentasse sua maior turbulência nos mercados desde julho de 2012. As ações da empresa registraram, no acumulado da semana, um tombo de 13,89%. Isso representa uma queda de US$ 74,6 bilhões em seu valor de mercado, ou R$ 235 bilhões, segundo dados da Bloomberg News — o equivalente a pouco mais de uma Vale, ou um Bradesco.
Só nesta sexta-feira, os papéis perderam 3,34%. Para os investidores, o cofundador e diretor executivo da empresa, Mark Zuckerberg, não soube lidar com a crise. Ele só se manifestou cinco dias depois de reportagens do “New York Times” e do “Guardian” revelarem o uso de dados de 50 milhões de usuários do Facebook pela consultoria Cambridge Analytica (CA). O fato de ele ter pedido desculpas e prometido mudanças não foi considerado o bastante.
E o cerco dos governos ao Facebook está aumentando. Depois da Câmara dos Representantes, o Senado americano pediu oficialmente que Zuckerberg deponha no Congresso.
Além disso, surgiram novas provas do envolvimento da CA com política. O “NYT” revelou nesta sexta-feira que um dos primeiros clientes da consultoria foi John Bolton, ex-embaixador de George W. Bush na ONU e recém-anunciado como o novo conselheiro de Segurança Nacional do governo do presidente Donald Trump — em cuja campanha foram usados os dados dos usuários do Facebook.
De acordo com a reportagem, o John Bolton Super PAC (Comitê de Ação Política) contratou a consultoria especificamente para desenvolver perfis psicológicos de eleitores com informações das respectivas contas no Facebook, informaram ex-funcionários e documentos da CA.
Criada em 2013 como subsidiária do grupo Strategic Communications Laboratories (SCL), a CA foi chamada pelo comitê de Bolton em agosto de 2014. O jornal indica que, nos dois anos seguintes, houve um investimento de quase US$ 1,2 milhão, primeiramente para “pesquisas de opinião”. No entanto, o contrato, obtido pelo “NYT” indica que o comitê estava pagando por “microdirecionamento comportamental com messagens psicográficas”. Para isso, a CA teria usado dados do Facebook.
— Os dados e a modelagem que o PAC de Bolton recebeu vieram de dados do Facebook — afirmou Christopher Wylie, ex-funcionário da consultoria que denunciou o uso de dados pessoais sem autorização.
O “Guardian”, por sua vez, revelou que a CA mentiu às autoridades britânicas sobre seu envolvimento na campanha do Brexit. Brittany Kaiser, ex-diretora da consultoria, disse ao jornal britânico que a empresa teve “seis ou sete reuniões” com representantes do grupo Leave.EU. O diretor executivo da CA, Alexander Nix, havia negado qualquer serviço para a campanha do Brexit.
Segundo Kaiser, a CA teria preparado perfis psicológicos a partir de dados de eleitores fornecidos pelo Ukip, partido pró-Brexit. Nesta noite, autoridades britânicas vasculharam a sede da CA, em Londres.
Fonte: Agência O Globo
Créditos: Agência O Globo