Resquícios de um assentamento colonial que remonta ao século 18 foram encontrados sob a densa área florestal de Rondônia, na região amazônica, e revelam detalhes impressionantes da presença portuguesa em uma das regiões mais remotas e impenetráveis do Brasil.
A descoberta foi feita pelo projeto Amazônia Revelada, coordenado pelo arqueólogo Eduardo Neves, com uso de LiDAR (Light Detection and Ranging), tecnologia capaz de reproduzir mapas tridimensionais de territórios a partir de pulsos de lasers que “varrem” o solo para gerar uma imagem da topografia local.
Esse método já foi responsável por descobertas similares no México, em que uma antiga cidade Maia foi descoberta na Península de Yucatán (leia mais aqui), e em investigações sobre antigas estruturas celtas.
Em Rondônia, na antiga ocupação descoberta pelo LiDAR, foram descobertas estruturas lineares que correspondem a ruas e edifícios de pedra. Entre eles, foram identificadas outras formações complexas, como uma estrutura de pedra conhecida como “Serra da Muralha”.
A simetria e o planejamento no local sugerem a presença de um povoado colonial que deveria servir como posto dos portugueses, e um sítio arqueológico composto por elementos de cerâmica, também encontrado na região, ainda deve ser avaliado pelos pesquisadores.
Ao longo dos últimos anos, Neves e sua equipe têm buscado, com o Amazônia Revelada, desafiar a visão de que a região amazônica é uma “selva intocada”, sem presença de civilizações complexas. Durante o período colonial, a Amazônia era um território estratégico e foi alvo de projetos para a defesa de fronteiras contra incursões estrangeiras, como as espanholas.
O assentamento descoberto em Rondônia pode ter sido parte desse esforço de exploração de recursos e proteção territorial do território amazônico.
Embora ainda não tenham sido realizadas escavações detalhadas da descoberta, os traços de muros de pedra e de outras estruturas encontradas sugerem que o assentamento abrigava uma pequena comunidade de colonos.
“Ainda não sabemos exatamente o que são”, disse Neves. “Podem ter sido áreas de cultivo ou talvez locais de habitação, mas teremos que voltar a campo para escavar e entender melhor seu significado”.
De acordo com o arqueólogo, esta é uma descoberta inédita nas profundezas amazônicas do Brasil. “Essas formações são conhecidas em outros lugares, como a Bolívia, mas esta é a primeira vez que as vemos do lado brasileiro”, afirmou ele.