Você pode pensar neste ato dos traficantes de João Pessoa, na Paraíba, de duas formas (entre várias que não interessam aqui). E vai estar certo nas duas, sem julgarmos o que seria bom ou ruim, o famoso “juízo de valor”. Primeiro, leia os “mandamentos” que o poder paralelo de três comunidades locais escreveram nas paredes:
– Não usar drogas na frente de crianças;
– Motoqueiros: andar devagar pelas ruas;
– Não escutar som alto tarde da noite;
– O sossego da população é primordial;
– Não roubar na comunidade, em respeito ao cidadão de bem;
– Respeitar todos os moradores;
– Não aceitamos talaricagem;
– União e respeito uns com os outros.
A primeira forma é ler estas palavras em um país com a venda de drogas liberada, um exercício de imaginação. O “código de ética” do tráfico seria bastante positivo, quase uma ata do seu prédio, seu condomínio, sua vila. Principalmente a parte da “talaricagem”, que é se envolver com homem ou mulher comprometidos. Se bem que… se a pessoa estiver afim… Enfim, deixa pra lá. Tudo muito plausível, certo?
Outra é ler estes “mandamentos” modernos em um país onde a venda de drogas é um crime, mas as pessoas gostam tanto de drogas que entram na ilegalidade mesmo assim para comprá-las e vendê-las. Que é o que acontece em todos os países onde a venda de drogas é proibida. Como o Brasil. Completamente errado ditar estas regras, não é?
Certo nos dois casos. O muro, como a folha em branco, recebe qualquer coisa sem reclamar. O problema são as entrelinhas.
A polícia achou aquilo uma afronta, uma demonstração de poder inaceitável, quase como usar armas pesadas em público (que é o que traficantes de droga fazem para ganhar dinheiro vendendo drogas). Chamados, os policiais do 5º Batalhão foram nos bairros Bancários, Mangabeira e Costa e Silva (aliás… que triste ainda existir um bairro com este último nome). Fizeram o quê? Picharam por cima, informa o G1:
“Denuncie! 190”, escreveram, dando o telefone da polícia. Então… já sabe: Se virem qualquer pessoa vendendo drogas ou impondo o poder paralelo, como ditar regras a serem seguidas em uma parede, ligue para o 190 e denuncie. Mas se puderem ter “respeito uns com os outros” também, nada mal. [Nota do Editor: Não há qualquer ironia neste último parágrafo, é sempre bom avisar]
Fonte: Surrealista
Créditos: Surrealista