Carinhoso, amoroso, preocupado e cuidadoso. Essas são algumas das características do homem que vem aplicando golpes em mulheres do Distrito Federal por meio de um aplicativo de relacionamentos. Ele apresenta-se com o nome de David e diz ter 36 anos, mas usa um perfil falso com fotos de um astro chinês chamado Yan Wu. O caso é investigado pela 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro).
Após se envolver emocionalmente com as mulheres, David diz que vai ajudá-las a aplicarem dinheiro em moeda virtual e pede para que as vítimas realizem transferências, afirmando que teria ficado muito rico com a aplicação. Com vida de luxo, o chinês conta que se mudou para Brasília recentemente e estaria morando no Hotel Royal Tulip, um dos mais sofisticados da capital.
O portal Metrópoles entrevistou vítimas que fazem parte da lista com pelo menos 10 mulheres envolvidas pela lábia de David. E o modus operandi é sempre o mesmo: o homem usa o Tinder para se aproximar das vítimas e, após algumas conversas, diz estar apaixonado.
“Conversamos por duas semanas, e ele dizia que me amava. Ele falava que trabalhava com investimento e não sabia falar português. Nós trocamos muitas fotos, e ele tinha um conteúdo de foto e vídeo que era muito vasto. Mandava fotos dele criança, com amigos e família, mas tudo usando as fotos desse chinês famoso”, afirmou umas das mulheres que preferiu não se identificar.
Algumas das vítimas afirmam que David pedia fotos íntimas e gostava de saber da vida financeira delas. “Ele dizia que me ajudaria a ficar rica. Falava que queria ajudar a mim e à minha filha financeiramente e, a partir daí, eu comecei a desconfiar. Sempre insistia nesse investimento do bitcoin, dizia que ensinaria tudo”, detalhou outra vítima ao Metrópoles.
O falso chinês dizia não usar outras redes sociais e sempre abordava as mulheres pelo aplicativo de relacionamento. Também mantinha uma conversa íntima e agradável com as vítimas por semanas e, depois do vínculo criado, partia para o golpe financeiro.
União
Após descobrir que se tratava de um perfil fake, a vítima cortou relações com o golpista e avisou todas as mulheres que seguiam David. “Uma menina chegou no meu Instagram e disse: ‘Nós demos match no mesmo cara no Tinder, o David. Bom, ele está mentindo, se passando por um astro chinês’. Depois que ela disse isso, tudo fez sentido”, lamentou.
O homem mantinha conversas diferentes com as mulheres, mas todas afirmaram que ele insistia no investimento em bitcoin. “Com certeza, trata-se de um golpe financeiro. Faz a gente confiar nele, pede dinheiro e fala que vai aplicar para a gente. Ele disse que entendia tudo do mercado financeiro”, reclamou uma das vítimas.
As seis mulheres, que quase caíram no mesmo golpe, criaram um grupo no WhatsApp com o objetivo de se apoiar e evitar que outras pessoas acreditem em David. “Queremos alertar as mulheres. É muito ruim ser passada para trás, acreditar em alguém e cair em um golpe. Não queremos que isso aconteça com ninguém”, destacou uma delas.
Estelionato sentimental
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga o caso como estelionato sentimental. Em agosto de 2020, uma mulher teria perdido cerca de R$ 80 mil após se envolver amorosamente com um homem pelas redes sociais. Na ocasião o “Don Juan” fez outras 26 vítimas, que também transferiram dinheiro depois de se apaixonarem pelo golpista.
Para o delegado Douglas Fernandes, responsável pelo caso, o estelionato sentimental surge, principalmente, nas redes sociais. “É importante as pessoas não transferirem valores para quem desconhecem, ainda mais se tratando de sites de relacionamento, sem que tenha tido qualquer contato pessoal com a pessoa”, alertou.
A 3ª DP apura se David tentava aplicar um golpe financeiro e se lesou outras pessoas no DF. “Muitas vezes, as vítimas têm vergonha de registrar esse tipo de ocorrência”, finalizou Douglas.
Em abril, a PCDF lançou uma cartilha na tentativa de prevenir esse tipo de estelionato. Nos crimes que estão em apuração, estrangeiros conseguiram enganar sempre mulheres para adquirir bens e dinheiro.
Segundo a corporação, a partir de sites de relacionamento ou redes sociais, os autores identificam as vítimas, geralmente com idades entre 40 e 70 anos, e passam a estabelecer relação supostamente amorosa. Com o tempo, começam a pedir ajuda financeira, prometendo recompensa ou ressarcimento futuro.
A PCDF reforça que, caso não deseje fazer a comunicação do fato presencialmente, aquelas que se sentirem lesadas podem fazer registros pela Delegacia Eletrônica ou ainda pelo telefone 197.
Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba