Um misto de emoções

Descubra como o uso da comida para aliviar emoções pode ser um sinal de transtorno; SAIBA QUAL

Esses comportamentos geram sentimentos de angústia, a pessoa pode sentir-se enojado, deprimido ou muito culpado por perder o controle.

Foto: reprodução
Foto: reprodução

Entre os meses de janeiro e abril deste ano um assunto foi bastante comentado durante a exibição do Big Brother Brasil 2024. A modelo Yasmin Brunet relatou, durante sua participação no programa, sobre possuir o Transtorno de Compulsão Alimentar e acendendo uma discussão sobre o tema.

Para quem não sabe, a compulsão alimentar, também conhecida como Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), é um transtorno alimentar caracterizado pela ingestão de grandes quantidades de comida em um curto período de tempo, acompanhada por uma sensação de perda de controle sobre a alimentação. As pessoas que sofrem desse transtorno geralmente comem rapidamente, mesmo quando não estão fisicamente famintos, e não param de comer mesmo depois de se sentirem desconfortavelmente cheias, é o que afirma a psicóloga clínica, Karla Azevedo.

A profissional destacou ainda como é possível diferenciar os sintomas de uma compulsão alimentar do hábito frequente de comer. Segundo ela, embora seja difícil distinguir os sintomas de uma compulsão alimentar dos sintomas de um hábito de consumo frequente, algumas características particulares podem ajudar a distinguir cada um.

“A compulsão alimentar é um transtorno caracterizado por padrões específicos de comportamento e sentimentos relacionados à alimentação, enquanto o hábito regular de comer pode ser uma rotina sem os mesmos elementos emocionais e comportamentais”. informou.

Além disso, uma das características principais na compulsão alimentar é a ingestão de grandes quantidades de alimentos em um curto período de tempo, ocorrendo em menos de duas horas de intervalo, e a sensação de perda de controle durante o episódio, como não poder parar de comer ou não ter controle sobre o que e quanto come.

“Podemos observar também que em um momento de crise compulsiva, a pessoa come rapidamente e tende a se isolar, devido à vergonha ou ao constrangimento sobre a quantidade de comida ingerida. Esses comportamentos geram sentimentos de angústia, a pessoa pode sentir-se enojado, deprimido ou muito culpado por perder o controle. Os episódios ocorrem pelo menos uma vez por semana em um período de pelo menos três meses”, destacou Karla Azevêdo.

A psicóloga apresentou um exemplo de compulsão alimentar, que seria quando uma pessoa que, em um curto espaço de tempo, consome uma pizza inteira, uma caixa de biscoitos, e um litro de sorvete, sentindo-se incapaz de parar de comer e, depois, se sente profundamente culpada e enojada.

“Já o hábito frequente de comer tem como principal característica a regularidade, ou seja, comer frequentemente ao longo do dia, mas em quantidades moderadas e proporcionais às refeições. Também o individuo tem controle sobre sua alimentação e para de comer quando está satisfeito. Não há necessidade de esconder o comportamento, come naturalmente em situações sociais, ou seja, sem sentimentos de culpa, vergonha ou angustia relacionados ao hábito alimentar”, acrescentou.

Principais sinais

Os principais sinais de compulsão alimentar podem ser divididos em comportamentais, emocionais e físicos. Como ingestão em grandes quantidades de comida em um curto período de tempo, comer rápido, sozinho, sentimento de falta de controle, esconder alimentos para comer mais tarde em segredo, estocar grandes quantidades de comida, de acordo com a psicóloga.

“Os sinais emocionais são angústia, ansiedade e estresse, fazer uso da comida como uma forma de aliviar emoções negativas, sentimentos de inadequação e baixa autoestima, também sentimentos de culpa e vergonha. Já os sinais físicos são o aumento significativo de peso, desconforto físico, problemas de saúde como, diabetes do tipo 2, hipertensão e colesterol alto.”, afirmou.

Tratamento

Segundo Karla Azevêdo, ao reconhecer os sinais do transtorno é fundamental procurar ajuda de um profissional de saúde mental, pois para um melhor critério diagnóstico o profissional irá diferenciar a recorrência dos episódios compulsivos, os sentimentos em relação aos episódios, se há ausência de comportamentos compensatórios como a indução de vômitos e uso de laxantes, o que vai diferenciar a compulsão de outros transtornos alimentares como a bulimia nervosa, por exemplo.

“Após o diagnostico, o tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar, combinando intervenções terapêuticas, medicamentosas e apoio nutricional. Podemos adicionar também grupos de autoajuda, com o objetivo de fornecer suporte emocional e troca de experiências entre pessoas que enfrentam o mesmo transtorno”, disse.

A compulsão alimentar é desenvolvida ou a pessoa já nasce com uma pré-disposição ao transtorno?

“Pode ser resultado de uma combinação de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e ambientais. Não há uma única causa que explique o desenvolvimento do Transtorno da Compulsão Alimentar, mas há uma interação complexa entre predisposições inatas e influências ambientais”, destacou a psicóloga.

Estudos mostram que há uma tendência familiar para transtornos alimentares, sugerindo uma predisposição genética. Indivíduos com parentes de primeiro grau que têm transtornos alimentares têm um risco maior de desenvolver esses transtornos. Pesquisas em genética tentam identificar genes específicos que possam aumentar a vulnerabilidade ao transtorno, no entanto, a genética por si só não é determinante.

“Não podemos esquecer os neurotransmissores, pois as alterações nos níveis de serotonina e dopamina podem estar associadas ao transtorno, esses neurotransmissores são envolvidos na regulação do humor, apetite e comportamento alimentar. Já os fatores psicológicos estão associados aos traumas e experiências adversas, como abusos físicos, emocional ou sexual, condições como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e baixa autoestima. Comer pode servir como mecanismo de enfrentamento para lidar com emoções negativas, como tristeza, ansiedade, também pessoas que tem uma autoimagem corporal negativa podem estar em maior rico de desenvolver compulsão alimentar, incluindo os perfeccionistas.”, completou.

Quanto aos fatores ambientais, a beleza idealizada, a magreza, dietas restritivas, assim como os ciclos repetidos de perda e ganho de peso pedem desencadear episódios de compulsão. “E, não podemos esquecer a influência familiar, com preocupações excessivas com peso e dieta, problemas de relacionamento dentro da família, como conflitos frequentes ou falta de suporte emocional, podem aumentar o risco”, destacou.