Raízes nordestinas

Fundador da Imperatriz, paraibao Zé Katimba participa de desfile da campeã, aos 90 anos; VÍDEO

Aos 90 anos de idade, um personagem paraibano foi importante para a vitória da Escola Imperatriz Leopoldinens, a grande campeã do carnaval 2023 no Rio de Janeiro. O fundador da escola, José Inácio dos Santos, mais conhecido como Zé Katimba, desfilou no abre-alas, representando o cangaceiro Volta Seca (o mais jovem integrante do bando de Lampião).

José Inácio dos Santos, Zé Katimba / Foto: divulgação

Aos 90 anos de idade, um personagem paraibano foi importante para a vitória da Escola Imperatriz Leopoldinens, a grande campeã do carnaval 2023 no Rio de Janeiro. O fundador da escola, José Inácio dos Santos, mais conhecido como Zé Katimba, desfilou no abre-alas, representando o cangaceiro Volta Seca (o mais jovem integrante do bando de Lampião).

Nas palavras do jornalista e roteirista carioca Leonardo Bruno, em publicação nas redes sociais, “Katimba é um dos sambistas fundamentais do carnaval carioca, e se hoje a Imperatriz coloca a nona estrela em sua bandeira, ele é um dos maiores responsáveis”. Zé Katimba participou da fundação da Imperatriz Leopoldinense, em 1959, tendo atuado em diversas funções desde então:  puxou corda, foi passista, mestre-sala, empurrou carro e foi vice-presidente.

A vitória da Imperatriz, 22 anos depois da última conquista, veio com uma fábula sobre Lampião, o Rei do Cangaço. O enredo retratou a vida e a morte daquele que para muitos foi herói, mas para outros foi um terrível vilão, barrado no inferno e no céu, à luz da cultura do cordel. Uma história da vida real, mas que já integra o folclore e o imaginário nordestino sobre o personagem que marcou a região.

Ainda de acordo com Leonardo Bruno, sendo autor de clássicos como “Martim Cererê”, “Só dá Lalá” e do recente “Axé Nkenda”, Katimba “pintou de dourado a discografia da Imperatriz, tendo vencido dez sambas-enredo ao longo de cinco décadas”. Fora do carnaval, também é sambista respeitado, com discos gravados, sucessos como “Tá delícia, tá gostoso” e uma parceria longa com Martinho da Vila.

Zé Katimba desfilou ao lado do ator Matheus Nachtergaele, que contracenou com o paraibano na avenida. (ASSISTA AO VÍDEO ABAIXO). Radicado no Rio, o paraibano foi eleito “Cidadão Samba” pelo jornal Extra e já ganhou o prêmio de Personalidade do Estandarte de Ouro. Neste desfile vitorioso da Imperatriz, veio  que também era compositor, autor de canções que retratavam o imaginário da cultura nordestina).

Confira a biografia a seguir

Filho único de Josefa e João, ele nasceu na pequena Guarabira, no brejo da Paraíba. Começo de vida difícil, onde, para matar a sede, tinha que dividir o dique seco com o gado esquálido. Chegou ao Rio de Janeiro de navio, saído de Cabedelo. Ele, o pai e a mãe vieram como clandestinos – o pequeno dormia na cozinha da embarcação.

A primeira lembrança que tem do samba é do tempo no Morro do Adeus, em Bonsucesso, quando tinha 10 anos de idade. Carregava lata d’água na cabeça. Na ida até a fonte, junto com outros meninos, se divertia batucando na lata. Ali na Zona da Leopoldina, em 1959, foi um dos fundadores do Grêmio Recreativo Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense. No início, era puxador de corda. Passou a ser compositor que mais ganhou sambas de enredo na escola, até hoje.

Aos 17 anos, fez uma música em homenagem ao velho João Inácio – cordelista, peão de obra e seu pai: “Conviveu com madrugada/como qualquer um de nós/Hoje, está desafinada/sem ninguém, abandonada/sem ilusões, sem amores/A viola, que foi bonita, que o braço só era fita, como qualquer um de nós”. Pura poesia, pura emoção.

Na época da ditadura militar, seu talento, junto com  Martinho da Vila – seu principal parceiro -, prestou grande contribuição à música de protesto contra as restrições democráticas. E aí escreveu: “Vamos levantar a bandeira da fé/vamos nos unir que dá jeito/e mostrar que nós temos direito/ pelo menos, à composição/para lutar pelos nossos direitos/temos que organizar um mutirão”. A música ficou censurada por uns 10 anos, até que Luiz Carlos da Vila gravou.

CARREIRA

Com mais de 800 composições gravadas, figuram como seus parceiros, Martinho da Vila seu parceiro mais constante há mais de 40 anos, João Nogueira, João Donato, Jorge Aragão, Alceu Maia, Roque Ferreira, Preto Jóia, Toninho Geraes, Paulinho Rezende, Carlos Colla, Agepê e muitos outros.

Entre os maiores sucessos estão Martin Cererê (Zé Katimba e Gibi), O teu cabelo não nega – Só dá Lala (Zé Katimba/Gibi/Serjão), Do jeito que o rei mandou (Zé Katimba e João Nogueira), Tá delícia, tá gostoso (ZéKatimba/Alceu Maia), Minha e tua (Zé Katimba/Martinho da Vila/Alceu Maia), Recriando a criação (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me faz um dengo (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me beija, me beija (Zé Katimba/Martinho da Vila), Danadinho, danado (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me ama mô (Zé Katimba/Martinho da Vila), Café com leite (Zé Katimba/Martinho da Vila), Jaguatirica (Zé Katimba/Martinho da Vila), Me curei (Zé Katimba e Martinho da Vila) e Festa pros olhos (Zé Katimba/Martinho da Vila).

As músicas de Katimba ganharam voz com: Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Emílio Santiago, Elimar Santos, Demônios da Garoa, João Nogueira, Agepê, Simone, Julio Iglesias, Alcione, Leci Brandão, Elza Soares, Jorge Aragão, além lógico, dele próprio.

Na década de 70, virou personagem da novela Bandeira Dois, escrita por Dias Gomes para a Rede Globo, num Katimba interpretado por ninguém menos que Grande Otelo. Seu samba Martin Cererê, tema da trama, gravado pela Som Livre, vendeu 700 mil cópias.

Katimba continua em plena atividade poética.

Em 2007, em música ainda inédita, ele filosofa “O que marca ponto é o momento do encanto/do encontro marcado/exorcizar os demônios/juntar os hormônios/na mão que afaga”.

Em 2008, retornou à Imperatriz Leopoldinense, da qual havia se afastado há alguns anos.

Em 2009 – Foi lançada a primeira biografia, “Zé Katimba” Que Grande Destino Reservaram pra você” escrita pelo jornalista e biografo Fernando Paulino;

Ainda dezembro de 2009 o Zé Katimba,  foi homenageado com a medalha Pedro Ernesto. A entrega da Medalha de Mérito Pedro Ernesto, partiu da iniciativa do vereador Eliomar Coelho, é uma honraria concebida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro àqueles personagens que se destacam na sociedade brasileira. A homenagem vem fazer o devido reconhecimento ao sambista Zé Katimba por todo seu empenho na valorização da cultura popular brasileira, seja através do seu trabalho desenvolvido na Imperatriz Leopoldinense há mais de 50 anos ou na composição de clássicos atemporais do samba.

Compôs em parceria com Martinho da Vila, a música “Na Minha Veia “que deu nome ao CD da Simone “Na Veia” lançada 2009 e também faz parte do DVD “Em boa companhia”. “Na Minha Veia” foi gravada também pelo Martinho da Vila no seu CD e DVD “Lambendo a Cria”. Compôs também em parceria com o Martinho da Vila uma música em homenagem a Dona Ivone Lara, que teve como título “Lara”. Este samba foi gravado pelo próprio Zé Katimba, Martinho da Vila e Martinália.

No Carnaval de 2013, Katimba foi eleito Cidadão Samba do Rio, numa votação pela internet da qual participaram mais de 30 mil pessoas. Na disputa, tinham monstros sagrados do samba como Nelson Sargento, Martinho da Vila, Monarco, Neguinho da Beija-Flor, entre outros. O concurso teve o apoio oficial do Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, sob organização do jornal Extra. Já durante o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio, Katimba foi eleito Personalidade do Ano, pelo júri do prêmio Estandarte de Ouro, organizado pelo jornal O Globo.

Ainda em 2013 – Zé Katimba a convite da Prefeitura de Guarabira/PB retornou a sua terra natal após 70 anos. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Guarabira – PB, com a medalha honorífica “Osmar de Araújo Aquino” pela sua magnífica e exemplar história.

A Secretaria de Cultura de Niterói, na pessoa do seu secretario, o músico Arthur Maia, iniciou a produção de um CD comemorativo aos seus 80 anos de vida, com o título Minha Raiz,  Minha História. Foram selecionadas 10 composições, com participação de Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Diogo Nogueira e Monica Mac.

2014 – Katimba continua colhendo vitórias e mais vitórias no mundo do samba. Dessa vez, ganhou em parceria com, Adriano Ganso, Aldir Senna, Jorge do Finge e Marquinho Lessa. O enredo 2015 da Imperatriz é “Axé, Nkenda! Um ritual de liberdade – e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”. Vitória do Katimba é vitória do próprio samba.

Em 20 de novembro de 2014, dia que se celebra o Dia da Consciência Negra, Katimba foi homenageado no Quilombo dos Palmares com a Medalha Zumbi dos Palmares, aprovada pela Camara Municipal de Niteroi.

Ainda em 2014, Zé Katimba foi homenageado no evento “Um Rio de Samba” criado pela Secretaria Municipal de Turismo e realizado pela Riotur , com o diploma Baluarte do Samba Carioca.

Em 2015, durante o desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio, o samba de enredo composto por Katimba e parceiros, foi eleito como o melhor samba de enredo, pelo júri do prêmio Estandarte de Ouro, organizado pelo jornal O Globo.

Em março, lançou seu primeiro CD intitulado Minha raiz, minha história, com as participações especiais de: Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Diogo Nogueira e Monica Mac.

Confira as fotos e o vídeo a seguir

Fonte: Polêmica Paraíba com informações de Leonardo Bruno e assessoria
Créditos: Polêmica Paraíba