O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, foi o segundo entrevistado do Jornal Nacional, da TV Globo, e do Jornal das Dez, da GloboNews, nesta terça-feira (28).
A série de entrevistas terá ainda nesta semana Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede). Ciro Gomes (PDT) foi o primeiro entrevistado.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Jair Bolsonaro. Leia:
JORNAL NACIONAL
“Estavam discutindo ali, comemorando o lançamento de um material para combater a homofobia, que passou a ser conhecido como ‘kit gay’. Entre esse material, estava esse livro [Aparelho Sexual e Cia – Um guia inusitado para crianças descoladas]. Se bem que na biblioteca das escolas públicas tem”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: O livro “Aparelho Sexual e Cia – Um guia inusitado para crianças descoladas”, do suíço Phillipe Chappuis, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, não fez parte do projeto conhecido como “kit gay”.
O kit fazia parte do projeto Escola sem Homofobia, que por sua vez estava dentro do programa Brasil sem Homofobia, do governo federal em 2004. Era voltado para a formação de educadores, e não tinha previsão de distribuição do material para alunos. O programa não chegou a ser colocado em prática.
Elaborado por profissionais de educação, gestores e representantes da sociedade civil, o kit era composto de um caderno, uma série de seis boletins, cartaz, cartas de apresentação para os gestores e educadores e três vídeos.
O Ministério da Educação (MEC) informou que não produziu, comprou ou distribuiu o livro “Aparelho Sexual e Cia” e ele não fez parte do Programa Nacional do Livro Didático. Mas as redes estadual e municipal de ensino podem adotar outros livros que acharem convenientes, de forma independente, sem consultar o ministério.
O Ministério da Cultura (MinC) informou que comprou 28 exemplares do livro, em 2011, dentro do Programa Livro Aberto, que não tem relação com bibliotecas escolares. O programa tinha como meta zerar o número de cidades sem bibliotecas.
“Mantive a minha linha em Brasília, inclusive citado no Mensalão por Joaquim Barbosa como o único deputado da base aliada que não foi comprado pelo PT”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja o porquê: A citação do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa sobre Bolsonaro se referiu a uma votação específica que aconteceu em outubro de 2003, e não a todo o esquema do mensalão do PT.
Durante o seu voto no julgamento, Barbosa citou a votação da Lei de Falências para exemplificar a compra de votos no Congresso. Ele afirmou que “os líderes dos quatro partidos cujos principais parlamentares receberam recursos em espécie do Partido dos Trabalhadores orientaram suas bancadas a aprovar o projeto” e que “somente o sr. Jair Bolsonaro, do PTB, votou contra a aprovação da referida lei”. “Todos os demais votaram no sentido orientado pelo líder do governo e do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados”, disse, na ocasião.
O ex-ministro afirmou, porém, que “vários parlamentares do PT também desobedeceram à orientação da liderança do partido e do governo e votaram contra a subemenda em referência”.
O Fato ou Fake já havia checado essa mesma declaração durante entrevista na GloboNews, no último dia 4.
“[Fui] citado por Alberto Youssef como um dos três deputados do PP que não buscou dinheiro na Petrobras”
A declaração é #FATO. Veja o porquê: Em depoimento prestado em outubro de 2014 com base em acordo de delação premiada da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef detalhou o esquema de corrupção no Partido Progressista (PP), em que políticos recebiam pagamentos em troca de apoio em votações. Em vídeo, ele citou o nome de três parlamentares que não recebiam dinheiro: uma senadora (Ana Amélia) e dois deputados (Paulo Maluf e Bolsonaro).
“A CLT já garante salários iguais para homens e para mulheres”
A declaração é #FATO. Veja o porquê: O artigo 461 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) estabelece que “sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade”.
No primeiro parágrafo do mesmo artigo, a lei diz que “o trabalho de igual valor, para os fins deste capítulo, será o que for feito com igual produtividade e com a mesma perfeição técnica entre pessoas cuja diferença de tempo de serviço não for superior a dois anos”.
Apesar disso, dados do IBGE apontam que, no 2º trimestre de 2018, o rendimento médio real das mulheres representava 76,5% do salário médio dos homens no país.
“Evitar que para se abrir uma empresa leve em média 100 dias no Brasil. E isso tem que fazer para ajudar a ter emprego no Brasil”
A declaração é #FATO. Veja o porquê: O tempo médio para abrir uma empresa no Brasil é, de fato, alto: 79,5 dias, segundo levantamento de 2017 do Doing Business, do Banco Mundial, que reúne informações sobre empresas 100% nacionais de 190 países, das atividades industriais ou comerciais e que empregam de 10 a 50 pessoas no primeiro mês de operação. Em algumas cidades do país, porém, o tempo médio de abertura de empresas supera os 100 dias, de acordo com levantamento da Endeavor do mesmo ano. É o caso de Campinas (SP), Porto Alegre, Manaus, Teresina e Caxias do Sul (RS), por exemplo.
“Eu fui o único a votar contra [a PEC das Domésticas] em dois turnos”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Nenhum deputado votou contra a PEC das Domésticas nos dois turnos de votação no plenário da Câmara. No 1º turno, em 21 de novembro de 2012, Bolsonaro estava ausente e não participou da votação da proposta. Naquela vez, apenas os deputados Roberto Balestra (PP-GO) e Zé Vieira (PR-MA) foram contra a PEC.
No 2º turno, em 4 de dezembro de 2012, dois deputados se posicionaram contra a proposta: o deputado Vanderlei Siraque (PT-SP) e o candidato a presidente pelo PSL, deputado Jair Bolsonaro, então filiado ao PP do Rio de Janeiro.
A PEC 478 de 2010 ampliava os direitos trabalhistas de domésticas, babás, cozinheiras e outros trabalhadores em residências. A proposta foi promulgada em 3 de abril de 2013.
“Em novembro de 2010, estava passando pelos corredores da Câmara e tomei conhecimento que tinha acabado o 9º Seminário LGBT Infantil”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: Não ocorreu na Câmara dos Deputados, em novembro de 2010, nenhum evento chamado “9º Seminário LGBT Infantil”.
Em maio de 2012, foi organizado no auditório Nereu Ramos, da Câmara, o “9º Seminário LGBT no Congresso Nacional”, um evento realizado anualmente. Naquele ano, foram discutidos os temas “infância e sexualidade”.
Idealizador do seminário, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) escreveu no pedido de autorização para organizar o evento que o objetivo era debater com a sociedade civil e o governo federal “sobre a infância e a adolescência de meninos e meninas que sofrem bullying e violência doméstica por escapar dos papéis de gênero definidos pela sociedade”.
O lema do seminário foi “Todas as infâncias são esperança”. Especialistas em direito, educação, sexualidade, psicologia e cultura participaram do seminário.
“Entre na internet, pegue lá ‘Plano Nacional de Promoção e Cidadania LGBT.’ São 180 itens, entre eles a desconstrução da heteronormatividade, ou seja, estão ensinando em algumas escolas que homem e mulher está errado, pode ser, sim, homem com homem, mulher e mulher”
A declaração é #FAKE. Veja o porquê: O Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, produzido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2009, tem 180 itens, mas em nenhum momento menciona que um relacionamento heterossexual, entre homem e mulher, está errado.
O objetivo do plano é “orientar a construção de políticas públicas de inclusão social e de combate às desigualdades para a população LGBT, primando pela intersetorialidade e transversalidade na proposição e implementação dessas políticas”.
O documento menciona a palavra “heteronormatividade” apenas uma vez, no item 1.2.20, quando diz que o Sistema Único de Saúde (SUS) precisa reconhecer e incluir nos sistemas de informação e no planejamento familiar, “todas as configurações familiares protagonizadas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, com base na desconstrução da heteronormatividade”. Heteronormatividade é um conceito usado pra tratar a relação homem e mulher como norma e as demais, como desvio.
“Não, me desculpe, a senhora não ouviu [eu falar que uma mulher deve ganhar menos que um homem]. Eu nunca [disse isso]”
A equipe do Fato ou Fake já havia checado declaração similar durante o debate da RedeTV.
JORNAL DAS 10
“Meninas entre 10 a 19 anos são responsáveis por 20% dos partos no Brasil”
A declaração é #FATO. Veja o porquê: A Pesquisa Saúde Brasil, realizada pelo Ministério da Saúde com base em dados do Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos) relativos ao ano de 2015, aponta uma taxa de nascidos vivos de jovens entre de 10 e 19 anos em todo o país de 18%, percentual próximo ao citado pelo candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, em entrevista ao Jornal das Dez, da GloboNews. Esse percentual representa 546.529 crianças dos cerca de 3 milhões de nascidos vivos no ano. De acordo com esse estudo, divulgado em maio de 2017, o Nordeste é a região do país que registra a maior taxa de nascidos vivos de jovens menores de 20 anos (32%), enquanto o Centro-Oeste contabiliza a menor taxa (8%).
“Temos aproximadamente 10 mil [médicos] cubanos no Brasil”
A declaração é #FATO. Veja o porquê: Segundo o Ministério da Saúde, atualmente 8.557 médicos cubanos atuam no país por meio do programa Mais Médicos, o que representa um percentual de 47% dos profissionais que participam da iniciativa. O número de brasileiros que integram o programa é apenas um pouco menor: são 8.459 médicos formados no Brasil ou no exterior.