Eu brinquei ao ler essa manchete, dizendo que as definições de autoestima foram definitivamente atualizadas. Mas na verdade o “ex-presidente” nos deu uma brecha para pensarmos na gritante diferença entre vaidade e autoestima. Há um abismo entre elas. A vaidade é vazia e desprovida de autocrítica. Sempre em busca da aprovação da opinião pública, inclusive se contorcendo para manipular a seu favor ou pelo menos manter os holofotes em si. A vaidade jamais é sinal positivo e indica fragilidades no caráter de quem a cultiva. É sempre frágil o caráter de pessoas que dependem da opinião alheia. Essas pessoas em geral não são espontâneas, são premeditadas e performáticas, já que estão conectadas com algo muito duvidoso: a oscilante e superficial visão que as pessoas têm a respeito de outras pessoas.
A opinião pública é ilusória, pois não dá conta da complexidade das pessoas e não está interessada nisso. A opinião pública quer uma parede em branco para projetar suas insatisfações, carências e inseguranças. E o vaidoso/a se coloca nessa condição, tentando personificar as idealizações, suas e da opinião pública.
Nada disso tem qualquer relação com a autoestima. A autoestima, em primeiro lugar exige um trabalho sério de autoconhecimento, coisa que mata a vaidade, já que revela nossas sombras e nos obriga a lidar com elas de maneira madura. Quem tem autoestima entende o jogo histérico da opinião pública e decide não jogar. O nome disse é serenidade.
Um dos sinais claros de autoestima é o comportamento livre de imposições sociais. Coisa que o vaidoso não consegue, pois vive condicionado ao teatro de máscaras sociais, se equilibrando entre as projeções alheias e as suas próprias idealizações de si mesmo. A parte mais triste da vida de um vaidoso, além da prisão psíquica e social em que ele se coloca, é a perda gradativa do senso do ridículo. Em algum momento a opinião pública vai sempre achar uma “parede humana” nova ou vai se decepcionar com algum lapso de sinceridade do vaidoso e lhe virar as costas. Daí ele começa a jogar sozinho, se torna patético e perdido. Convém repudiar a vaidade e abraçar a autoestima sendo uma pessoa real e sem máscaras. Máscaras caem.
Fonte: Joice Berth
Créditos: Joice Berth