Por Ricardo Noblat
Quem disse?
“Tentam mais uma vez destruir a reputação de […] Usam métodos totalitários, com cerceamento dos direitos mais básicos para obter, forçadamente, testemunhos que possam ser usados em peças de acusação”.
E quem disse?
“No Brasil, alguns querem impedir candidatura. Busca-se impedir ao povo a livre escolha. Reinterpreta-se a Constituição, as leis e os decretos ao sabor do momento. Veem-se crimes em atos de absoluto respeito às leis e total obediência aos princípios democráticos.”
Não, não foi Lula, nem seus advogados que disseram. Foi Michel Temer. E ele o fez por meio de nota oficial distribuída pela Secretaria de Comunicação da presidência da República a propósito da recente prisão de 13 pessoas, algumas delas seus diletos amigos.
Nada mais parecido com um político liberal do que um político conservador, dizia-se no passado. Hoje, nada mais parecido com um político de esquerda às voltas com denúncias que podem pôr seu futuro em risco do que um político de direita nas mesmas condições.
Temer e Lula têm tudo a ver dada às circunstâncias. A situação de Lula é pior porque ele já foi condenado três vezes por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Temer usou o cargo com sucesso para escapar de duas denúncias por crimes semelhantes. Talvez não escape à terceira.
É por isso que fria e calculadamente, Lula torce para que Temer se dê bem. A recíproca é verdadeira. Outro dia, Lula elogiou a capacidade de resistência de Temer e sua disposição para manter-se de pé. Mais de uma vez, Temer afirmou que o melhor seria que Lula pudesse ser candidato.
Os dois são velhos amigos e parceiros há muito tempo no exercício do poder. E por experientes, sabem que enfrentam o mesmo tipo de perigo e o mesmo inimigo – um Brasil menos corrupto que tenta nascer contra a vontade do Brasil velho corrupto de guerra que insiste em sobreviver.
Lula e Temer dominam os mesmos códigos e compartilham as mesmas práticas políticas. Natural, pois, que falem a mesma língua.
Fonte: Ricardo Noblat
Créditos: Ricardo Noblat