Daniella desidratou rapidamente

Temendo fogo amigo e vendo o jogo ficar mais difícil Cássio deve escolher um "curinga" e adotar o "voto marcado" - Por Júnior Gurgel

O “voto marcado” foi usado à primeira vez nas eleições de 1998, quando o Clã Cunha Lima foi alijado da disputa para o governo do estado, após duas derrotas consecutivas nas convenções do PMDB, para José Maranhão.

O CURINGA DE CÁSSIO: MARCAÇÃO DO VOTO

Por Júnior Gurgel

Não é a primeira vez que o senador Cássio Cunha Lima “bate uma parada” (decide uma eleição) com um curinga. A pesquisa do Instituto 6 sigma – divulgada há 25 dias – trouxe números ou índices extremamente desconfortáveis para o vice-presidente do Senado Federal, que pressentiu seu favoritismo ameaçado na disputa.

No somatório geral computando o primeiro e o segundo voto – duas vagas para o Senado – o tucano figurava num quadro de empate técnico com o deputado federal Veneziano Vital do Rego. Por sua vez, o ex-prefeito de Campina Grande – considerando a margem de erro – tecnicamente também estaria empatando com o terceiro candidato, Luís Couto, que perigosamente se mostrava ao alcance de Daniella Ribeiro, a quarta candidata. Roberto Paulino, lançado três dias antes da realização da amostragem, apareceu muito distante e figurou com apenas 5% das intenções de votos.

Comentamos a pesquisa neste espaço e elencamos que dentre os riscos a que se expunha o senador Cássio Cunha Lima, existia a perigosa “armadilha” do voto partidário (PMDB), sem segunda opção. Roberto Paulino é o único candidato da legenda e bastante identificado com Veneziano Vital do Rego, por suas históricas posições anti-Cunha Lima.

O “fogo amigo” de sua companheira de chapa, Daniella Ribeiro, a arrancada de Luís Couto com a fidelidade da militância petista; José Maranhão – liderando as pesquisas – “puxando” Roberto Paulino… A única alternativa do “tucano” foi usar a velha tática, que já funcionou duas vezes na Paraíba, coincidentemente ou não, sob sua inspiração ou apoio. “Marcação do voto”.

A exposição midiática da candidata ao Senado pelo PP começou sombrear o “terreiro” do tucanato campinense. De repente – sem nenhuma justificativa plausível – onze vereadores da base de apoio do prefeito Romero Rodrigues manifestaram a intenção de apoiar Roberto Paulino. Uma semana de divulgação sobre a “debandada”, a campanha de Daniella desidratou rapidamente.

O IBOPE foi a campo, e conferiu a “despencada” pepista. Cássio Cunha Lima (refeito do susto) apareceu com 41%, Veneziano Vital do Rego ficou distante (mesmo crescendo) com 33%; Luís Couto (praticamente estagnado) 22% e Daniella Ribeiro com magros 14% empatada tecnicamente com Roberto Paulino (11%). Indecisos, nulos e brancos, não sabem ou não responderam, somam 52%.

O “voto marcado” foi usado à primeira vez nas eleições de 1998, quando o Clã Cunha Lima foi alijado da disputa para o governo do estado, após duas derrotas consecutivas nas convenções do PMDB, para José Maranhão. Como se não bastasse as derrotas, o pavor de perder a posição como primeira (nas circunstâncias da época) já segunda força política do estado, pairava sob a ameaça do ex-governador Tarcísio de Miranda Buriti se eleger Senador da República, fato que o levaria a disputar o pleito para o governo do estado em 2002.

Ney Suassuna, suplente de Antonio Mariz, estava na titularidade do mandato com a renuncia do falecido ex-governador. Porém, não tinha densidade eleitoral. Os Cunha Lima, “marcaram” o voto. Despejaram na então vereadora Cozete Barbosa 216.006 votos. Buriti alcançou 394.294 e Ney Suassuna atingindo seu limite máximo, saiu vitorioso do pleito com 455.959. Os 61.710 sufrágios que faltaram a Buriti estavam, para surpresa de Cozete, nos 216.006 que ela obteve.

O outro momento em que o voto foi marcado ocorreu nas eleições de 2002, disputa pelo segundo lugar para o Senado da República, entre Wilson Braga, Efraim e novamente Tarcísio de Miranda Buriti. Wilson Braga estava disparado nas pesquisas como o segundo colocado, já que o primeiro lugar era do ex-governador José Maranhão. Lançado as pressas, Buriti corria contra o tempo perdido, e estava à frente de Efraim Morais.

Foi uma das eleições mais concorridas para o senado da república, preocupante para o Clã Cunha Lima. Braga ou Buriti poderiam chegar ao senado. Efraim Morais aproveitou a oportunidade. Há 20 dias antes do pleito, estava atrás de Braga com uma diferença de 18%. Algo inimaginável de ser alcançado. Buriti crescia rapidamente. A saída foi “marcar” o voto, “turbinando” outras candidaturas sem menor chance ou inexpressivas.

Maranhão obteve 803.083. Efraim Morais – viu o milagre acontecer – 594.191; Wilson Braga – não querendo acreditar – 591.320; Tarcísio Buriti 510.734. Turbinados ou “marcados”: Lígia Feliciano 169.895 (Campina Grande e região metropolitana de João Pessoa); Simão Almeida 119.905; E na região do Sabugi, reduto de Efraim Morais, irmão de Cozete Barbosa Bala Barbosa 60.290.

Wilson Braga perdeu por uma diferença de apenas 2.801. Registre-se em tempo: Simão Almeida, Bala e Lígia Feliciano nunca conseguiram se eleger vereador em Campina Grande. Depois do IBOPE, em outubro próximo (2018) o voto ainda será marcado? Ou Daniella, para não ficar sem mandato, tentará voltar a ocupar seu assento na Casa Epitácio Pessoa?

Fonte: http://www.apalavraonline.com.br/colunista/junior-gurgel/
Créditos: junior gurgel