Sem aval do presidente eleito, Jair Bolsonaro, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, já começou a trabalhar pela reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados.
O chefe da equipe econômica do novo governo tem medo de que sua proposta de reforma da Previdência não avance no Congresso Nacional e orientou deputados a conversarem com Maia, que já se disse convergente com essa agenda.
“O Guedes falou comigo. Sabia que eu ia jantar com o Rodrigo [Maia] e disse: ‘fala que tenho muito apreço por ele, pelo nome dele e pela pessoa dele e acho que ele poderia colaborar muito com o novo governo”, relata o deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL-SP).
Guedes e Rodrigo Maia têm amigos em comum e conversam frequentemente por telefone.
Assim como empresários e investidores, Maia diz ter votado em Bolsonaro por causa do ministro da Economia do presidente eleito.
Guedes defende reformas estruturais e privatizações —bandeiras conhecidas do deputado—, apesar de ainda não ter apresentado o conteúdo dos projetos.
Bolsonaro já disse publicamente que não vai interferir na eleição para o comando da Câmara dos Deputados, que será renovado em fevereiro, e que, na sua opinião, há “outros bons nomes”, além de Maia, na disputa.
A orientação do presidente eleito é que seu partido só defina quem vai apoiar após sua posse, em 1º de janeiro, mas Guedes resolveu atuar no varejo, conversando individualmente com os deputados do PSL.
Os filhos de Bolsonaro Eduardo e Flávio têm dado declarações públicas contra a candidatura de Maia.
Segundo eles, deputado e senador eleitos, respectivamente, o atual presidente da Câmara representa a velha política à qual seu pai é refratário.
Como mostrou a Folha, Maia tenta se equilibrar entre a esquerda e a base de Bolsonaro para se reeleger ao comando da Casa.
Ele tem feito almoços e jantares semanalmente e conversado com parlamentares em grupo e também individualmente.
Partidos do centrão —aliados de primeira ordem de Maia até outubro— articulam um bloco para isolar PT e PSL, as duas maiores bancadas da Casa, ainda sem garantias de que vão apoiar a reeleição do deputado do DEM ao comando da Casa.
Maia não queria a formação do grupo. Avaliava que era melhor tentar apoio inclusive do partido de Bolsonaro e evitar fortalecer siglas que podem abandoná-lo às vésperas da eleição.
Ouviu, porém, que não seria possível fazer uma aliança tão ampla. Além disso, brigas internas no PSL mostram a falta de unidade na bancada do partido.
O objetivo do bloco é esvaziar a sigla do presidente eleito, deixando-a sem postos importantes nas comissões e na Mesa Diretora.
Com o PT, a postura deve ser um pouco diferente, e o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ficar com espaços relevantes na Casa.
Esse isolamento começou a preocupar a ala do PSL que defende tomada de posição mais clara na disputa pelo comando da Câmara, mesmo que o apoio não seja oficial, diante do discurso de Bolsonaro de que não vai interferir nas eleições do Congresso.
Há deputados do PSL que trabalham pela eleição de Maia, como a novata Joice Hasselmann (SP) que, na semana passada, brigou com Eduardo Bolsonaro, justamente sobre a articulação do partido.
Quem acompanha de perto a corrida pelo comando da Câmara diz que, há duas semanas, a situação de Maia era mais crítica.
A candidatura do vice-presidente da Casa, Fábio Ramalho (MDB-MG), ganhou força entre o baixo clero e outros quatro nomes se uniram a ele para se opor a Maia.
João Campos (PRB-GO), Capitão Augusto (PR-SP), JHC (PSB-AL) e Alceu Moreira (MDB-RS) formalizaram com Ramalho um acordo para apoiar aquele que conseguir passar para o segundo turno da disputa.
Após as declarações dos filhos de Bolsonaro contra Maia, porém, seu nome voltou a ganhar força.
A maior parte dos deputados não quer um presidente da Câmara alinhado ao novo governo, que, inclusive, se ancora no discurso antissistema e contra a política tradicional.
Fonte: Uol
Créditos: Uol