Viagens pelo país, retorno à sala de aula, livros em finalização para o lançamento. Os candidatos à Presidência de 2018 viraram a chave após a derrota nas eleições de outubro. O UOL procurou os 12 políticos presentes na disputa para mostrar o que estão fazendo e qual a opinião deles sobre os cem primeiros dias do governo Jair Bolsonaro (PSL), a se completarem na próxima quarta-feira.
A grande maioria dos candidatos fez muitas críticas ao presidente, em especial a suas declarações e ao mau uso de redes sociais, além de cobrar mais diálogo e projetos para o país.
A reforma da Previdência foi o principal ponto tocado pelos candidatos. Outras questões foram as falas do presidente durante as viagens aos EUA, ao Chile e a Israel e a negação de que houve um golpe militar em 1964.
Os ex-presidenciáveis mantêm vida política intensa, cumprindo agenda dentro e fora do país, e grande influência dentro de seus partidos.
Fernando Haddad (PT)
Idade: 56 anos
Quantidade de votos em 2018: 31.342.005 (1º turno) e 47.038.963 (2º turno)
O que está fazendo agora: Haddad voltou a ser professor e dá um curso de pós-graduação no Insper, em São Paulo. Tem sido atuante nas críticas ao governo nas redes sociais e mantido contato com políticos como o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), e com o ex-candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos. Além disso, tem participado eventualmente da Executiva Nacional do PT e viajado pelo país.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: Procurado pelo UOL, não respondeu. Mas, em artigo publicado na segunda-feira (1º), na Folha, avaliou que “é um desgoverno que rapidamente se esgota”. “Não há políticas públicas apresentadas à nação, como se demonstra com o caos no Ministério da Educação, o exótico Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o confuso Ministério do Meio Ambiente. Gerar conflitos passou a ser conteúdo e é a única forma de governar. Criam-se ‘inimigos’ o tempo inteiro para dividir o país e com isso supostamente sustentar o governo”, continuou no texto.
Ciro Gomes (PDT)
Idade: 61 anos
Quantidade de votos em 2018: 13.344.366
O que está fazendo agora: Vice-presidente nacional do PDT, Ciro tem seguido com palestras dentro e fora do país, sempre com declarações ácidas contra o governo Bolsonaro. Também está terminando um livro sobre economia política, que deve ser lançado ainda no primeiro semestre. No próximo dia 11, em Brasília, dará uma entrevista coletiva apresentando um balanço dos primeiros dias de Bolsonaro na Presidência e lançará um “Observatório de Políticas Públicas”.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “O governo não apresentou ainda nenhuma ação concreta que se reverta em mais empregos para a população ou redução de crimes violentos, por exemplo. E, para esconder a falta de projetos, a falta de comando e seus inúmeros problemas internos, tenta explorar temas moralistas que em nada contribuem para o Brasil.”
Geraldo Alckmin (PSDB)
Idade: 66 anos
Quantidade de votos em 2018: 5.096.349
O que está fazendo agora: É presidente nacional do PSDB e professor de medicina da Uninove. Tem atuado politicamente pouco após a eleição. Estreou no último dia 1º como colaborador do programa “Todo Seu”, da TV Gazeta, ao lado do apresentador Ronnie Von. Formado em medicina, o ex-governador de São Paulo falou sobre cuidados com a saúde e deu dicas para uma boa qualidade de vida.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: A assessoria do político informou ao UOL que ele não poderia responder sobre o tema porque estava em viagem. Na quinta-feira (4), entretanto, ele se reuniu com Bolsonaro e defendeu a reforma da Previdência, mas com alterações no projeto proposto pelo governo, preservando o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e aposentadoria rural.
Como chefe do partido, disse que “o PSDB tem uma postura de independência em relação ao governo”. “Não há nenhum tipo de troca, não participaremos do governo, não aceitamos cargos no governo e votamos com o Brasil”, disse.
Ainda cobrou mais diálogo por parte do governo para amadurecimento do presidente. “Quanto mais a gente ouve, menos a gente erra. O caminho é o diálogo. Política é diálogo. Não é troca-troca. Mas é diálogo. Saber ouvir é uma grande virtude. Dr. Ulisses [Guimarães], que era um estadista, dizia sempre que o homem tem dois ouvidos e uma boca sempre para ouvir mais do que fala. Então, ouvir é importante na política.”
João Amoêdo (Novo)
Idade: 56 anos
Quantidade de votos em 2018: 2.679.744
O que está fazendo agora: Amoêdo reassumiu a presidência do Novo desde janeiro e se diz focado em acompanhar o trabalho dos mandatários e preparar o partido para as eleições de 2020. Ele viaja pelos estados para participar de conferências, reuniões e encontros para difundir os ideais do partido e para defender a aprovação da reforma da Previdência.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “As reformas são essenciais para a economia voltar a crescer e gerar empregos, em especial a da Previdência, para o Brasil ter um sistema justo e sustentável. Além disso, defendo a aprovação de projetos que tenham como objetivo combater a corrupção e acabar com a impunidade. Debates que não sejam voltados para solucionar os problemas de nosso país atrapalham e tiram o foco do que realmente importa. Acredito que para uma gestão eficiente é necessário ter uma boa equipe e ter prioridades. No governo Bolsonaro, quanto ao primeiro quesito, há quadros ótimos, como Sergio Moro e toda a equipe econômica, porém tem deixado a desejar em outras áreas, especialmente na educação. Com relação a definição das prioridades, o governo vem dando maior ênfase às polêmicas, enquanto deveria direcionar todos os esforços na aprovação das reformas para o Brasil voltar a gerar empregos e cortar privilégios.”
Cabo Daciolo (Patriota)
Idade: 43 anos
Quantidade de votos em 2018: 1.348.323
O que está fazendo agora: Deixou o cargo de deputado federal pelo Patriotas em fevereiro e foi para a reserva do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: Procurado pelo UOL, ele não respondeu. Em publicação na quarta-feira (3) em seu Facebook, Daciolo fez um balanço negativo do governo. “Estamos infelizmente visualizando que estão entregando a nossa nação. Entregaram a Embraer, agora estão aí para entregar [a base] Alcântara [no Maranhão], infelizmente; entregaram nossos aeroportos. Mas Deus sabe todas as coisas. Se estamos vivendo esse momento, tenho como vitória da nossa nação clamar a Deus, entrar num jejum e em oração porque a guerra está muito maior no plano espiritual, do que no carnal.”
Henrique Meirelles (MDB)
Idade: 73 anos
Quantidade de votos em 2018: 1.288.948
O que está fazendo agora: O emedebista é Secretário da Fazenda e do Planejamento do estado de São Paulo e não tem se notabilizado por comentários políticos.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: A assessoria do político não enviou retorno ao UOL sobre o pedido de comentário sobre a análise do governo. Em entrevista à revista Época, em março, elogiou a reforma da Previdência de Bolsonaro: “A proposta inicial é muito boa. Mas, diferente da nossa, não houve negociação prévia, e por isso se optou por uma proposta abrangente. O que vai ser relevante a partir de agora é o que vai ser de fato aprovado durante o processo negocial”.
Marina Silva Rede
Idade: 60 anos
Quantidade de votos em 2018: 1.069.577
O que está fazendo agora: Atua em duas frentes como cidadã: contribui com a Rede Sustentabilidade no debate de formas de inovação na prática política e se dedica a conversar com lideranças políticas e de diferentes segmentos da sociedade sobre os “retrocessos que estão se desenhando e se aprofundando nas áreas ambiental, social e de direitos humanos”.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “Começo por um olhar sobre a atuação pessoal do presidente. A impressão é que ele se demora no papel de candidato em campanha. Quando você se elege, muda da fase da verbalização para a fase da implementação do que foi seu projeto referendado pelas eleições, incluindo nele os dados da máquina governamental, a realidade do orçamento, os diálogos com os outros poderes da República e os diversos segmentos da sociedade.
O presidente tem se mostrado também frágil e despreparado nas suas concepções para orientar políticas públicas muito importantes para o país, como economia, educação, relações internacionais e meio ambiente.
A visão do presidente Bolsonaro é de ruptura e partir do zero em várias agendas que deveriam ser continuadas. Outro traço de seu desempenho que é notável é o déficit de liderança para focar na solução de problemas graves, conduzir a equipe e mobilizar a sociedade para solucioná-los.
Essa dificuldade se origina não só em traços pessoais, mas também porque ele delega funções de líder, permanece fazendo campanha nas mídias sociais, passa a impressão de confusão e falta de objetividade para todos os setores da sociedade em volta e com isso tem perdido popularidade. São 100 dias para ficar muito apreensivo e com expectativa muito baixa do que poderão ser os tempos vindouros para o Brasil.”
Alvaro Dias (Podemos)
Idade: 74 anos
Quantidade de votos em 2018: 859.601
O que está fazendo agora: É senador da República e líder do Podemos no Senado. Tem usado seu tempo em plenário para fazer alertas ao governo. Na quinta, disse que é necessário “adotar medidas urgentemente para conter o endividamento público e a elevação do déficit”. Afirmou ainda que a reforma da Previdência não é “tábua de salvação” para todos os problemas do país.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “100 dias de intensa atividade nas redes sociais e preocupante insegurança de gestão”.
Guilherme Boulos (PSOL)
Idade: 36 anos
Quantidade de votos em 2018: 617.122
O que está fazendo agora: Filiado ao PSOL, Boulos atua como professor e integra a coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Também tem se articulado com nomes de esquerda para formar uma frente de oposição mais ampla ao governo.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “São 100 dias de desgoverno. Esse período foi suficiente para Bolsonaro ser desmascarado daquele que dizia representar a nova política. O Brasil assistiu a todo o laranjal do PSL. Aquele que iria botar ordem, que representava a segurança pública contra violência no Brasil foi desmascarado com a sua ligação e da sua família com milicianos suspeitos de terem matado Marielle Franco.
É um governo de contradições viscerais, que são expostas todos os dias. Não tem a mínima capacidade de gerir a máquina pública, não conseguiu construir as condições básicas: resultado que o Brasil está parado. E o que ele apresentou de agendas é um desastre.
Na segurança pública, Sergio Moro recicla vários projetos e o que apresenta de novidade é muito ruim. Ele adota a fórmula de mais repressão, dá uma espécie de salvo-conduto para forças de segurança que matam em serviço. E a reforma da Previdência não é reforma, é a destruição da Previdência Pública. É substituir a Previdência como direito pela capitalização, tornar ela um privilégio a quem pode pagar. E não podemos esquecer que há poucos dias Bolsonaro determinou comemoração pelo golpe militar, quer falsear e reescrever a história e isso tem gerado indignação na sociedade brasileira.
Os primeiros 100 dias de governo costumam ser de trégua da oposição, mas nesse caso foi o governo que não deu trégua para oposição porque foi um disparate a cada dia.”
Vera (PSTU)
Idade: 51 anos
Quantidade de votos em 2018: 55.762
O que está fazendo agora: Vera é diretora nacional do PSTU e educadora do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos. Na área política, tem atuado especialmente com foco na campanha lançada pelo partido contra a reforma da Previdência.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “Nos cem primeiros dias do seu governo, Bolsonaro confirma tudo o que já denunciávamos a partir do que ele mesmo dizia e do que não dizia também durante a campanha eleitoral. É um governo de ultradireita, apoiado nas Forças Armadas, com uma equipe improvisada, mas decidida a resolver a crise econômica e política dos capitalistas nacionais e internacionais. Recorde em declarações polêmicas que desagradam e põem em crise os setores da burguesia e suas representações no Congresso Nacional e desagrada ao mesmo tempo, com os seus projetos de ataque aos direitos, os trabalhadores, os mais pobres e a classe média. As declarações têm sido cada vez mais desastrosas.
É um governo polêmico, desastrado, confuso. Toda vez que abre a boca e fala muito ou pouco, causa uma crise com setores variados da economia e da política. Conseguiu a proeza de virar chacota e perda de popularidade não só com as ‘besteiras’ que diz, mas sobretudo pelo que faz, como comemorar o 31 de março como um grande feito da ditadura militar que assassinou, torturou, estuprou e perseguiu mulheres, homens, jovens e crianças.
Podemos e devemos derrotar o governo, destruir o seu Estado e construir a nossa democracia. E tudo o que eles mais temem é o projeto de sociedade socialista.”
Eymael (PDC)
Idade: 79 anos
Quantidade de votos em 2018: 41.710
O que está fazendo agora: Preside o DC (Democracia Cristã) e é empresário e dono de empresa na área de relações públicas. Tem atuação politicamente contra o fim da cláusula de barreira.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “Tivemos alguns desvios de comunicação, que espero que cessem com um pouco mais de vivência no cargo. Nossa posição é de independência construtiva. O que pudermos colaborar, vamos naquilo que tivermos semelhança.”
João Goulart Filho (PPL)
Idade: 62 anos
Quantidade de votos em 2018: 30.176
O que está fazendo agora: É presidente do PPL e atua hoje no processo de incorporação do partido ao PCdoB. Também se dedica a escrever o segundo volume do livro “Jango e Eu. Memórias de um Exílio sem Volta”.
Comentário sobre os 100 dias do governo Bolsonaro: “Os primeiros cem dias do governo Jair Bolsonaro revelam uma administração desastrosa, caracterizada por medidas inconsequentes em praticamente todas as áreas. Desde a política externa de submissão incondicional ao governo norte-americano, ao aprofundamento dos ataques aos direitos dos trabalhadores, passando pela defesa de pontos de vista medievais nos costumes. Nestes cem dias não houve por parte do governo nenhuma medida no sentido da melhoria da vida do povo, da criação de empregos, da ampliação do mercado interno e da retomada do crescimento econômico.”
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Carlos Madeiro