O esvaziamento das manifestações pró-impeachment da presidente Dilma tem algumas causas evidentes. Vale ressaltar três delas, rapidinho. Primeiro, o período é desfavorável. Envoltos às festas, confraternizações e reencontros natalinos, muitos não estavam estimulados a ir às ruas. Segundo, a maneira como o pedido de impeachment foi aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), resultado da chantagem, em meio às manobras e esquemas para se salvar. Cunha é investigado pela Lava Jato, é acusado de mentir na CPI da Petrobras, de manobrar no Congresso para aprovar o que quer, de ter arregimentado uma exército no Conselho de Ética para não ser cassado. O histórico do político, responsável por dar início à “derrubada” da presidente, não é aprovado.
O terceiro ponto tem a ver com as dúvidas que ainda pairam sobre a gravidade do crime de responsabilidade cometido pela presidente Dilma. Não há um consenso sobre a força das pedaladas fiscais ou da suplementação orçamentária, sem autorização do Congresso, para retirar a presidente. O povo também tem lá suas dúvidas e, mesmo não tendo conhecimento técnico, sabe enxergar quando a política partidária e interesses de grupos estão se sobrepondo ao real interesse do país.
Sobre as manifestações aqui em JP, alguns destaques. Não vimos faixas e cartazes com pedidos de cassação do mandato de Eduardo Cunha. A crítica de quem usou o microfone para se manifestar estava focada no PT, por causa dos esquemas de corrupção da Petrobras, o aparelhamento da máquina para oficializar esquemas de propina, nas várias obras públicas pelo país, inclusive, nas de Transposição do Rio São Francisco. Havia um sentimento antipetista maior do que qualquer outra coisa.
Diante do fracasso das manifestações, os grupos que organizaram tentaram minimizar e disseram que foi só um esquente para um futuro protesto, em março. Talvez. A situação só vai mudar e a insatisfação só vai às ruas se o governo não conseguir tirar o país da paralisia. E não está fácil. O Congresso, ou boa parte dele, trabalha para isso. E sem estabilidade econômica, quando passar o réveillon, o carnaval, há uma perspectiva de aumento do desemprego, aumento da inflação, juros altos, dólar alto. É nesse cenário que a oposição aposta para conseguir levar o povo para as ruas e avenidas.
Aliás, esse movimento de levar o país ao caos até março e abril para conseguir o cenário do impeachment é o que se chama de golpe. O impeachment em si não é. Está previsto na constituição, mas essa “articulação” da oposição brasileira, que pode ter o apoio do PMDB… Isso sim é golpe. Prejudica não só o governo, mas o país inteiro. Sem falar na postura dos parlamentares. A maioria não tem moral ou legitimidade para afastar (ainda com motivos questionáveis) uma presidente eleita de maneira democrática. Não são poucos os investigados de participar de esquemas de corrupção, beneficiários do aparelhamento do estado. Os parlamentares só terão apoio da população se conseguiram provar que não estão num circo. Por enquanto, não conseguiram.
Contra
O governador Ricardo Coutinho (PSB) vai engrossar o ‘caldo’ contra o impeachment. Hoje, lança o movimento ‘Paraíba pela Democracia: Golpe Nunca Mais’, no Espaço Cultural.
Também
Outro socialista engajado é o deputado estadual Jeová Campos. Semana passada, redigiu uma Nota de Solidariedade que expressa “repúdio contra o desrespeito as regras democráticas”.
Fundos de Pensão
A CPI dos Fundos de Pensão, presidida pelo deputado federal Efraim Filho (DEM), ouve hoje o lobista Adir Assad e o presidente da Engevix, José Sobrinho. A empresa presida por Sobrinho é acusada de pagamento de propina em contratos com o governo. Já o lobista, além de envolvimento nos desvios da Transposição do RSF, é acusado de intermediar notas frias entre Fundos de Investimento e Institutos de Fundos de Pensão. Eles foram presos na Lava Jato e estão presos em Curitiba. À coluna, o deputado disse que foi preciso conseguir uma autorização do Juiz Sérgio Moro.
Secas
A Operação Vidas Secas investiga desvio R$ 200 milhões, em dois lotes das obras de Transposição do SF. Empresas fantasmas foram usadas. O rombo lá se revelará ainda maior.
Aumento da água
O deputado estadual Bruno Cunha Lima (PSDB) quer discutir, em audiência pública, o aumento de 22% na conta d’água. Já protocolou o pedido.
Tese
“Se estivéssemos em um período regular de chuvas e abastecimento d’água esse percentual já seria discutível, imagine só, na crise que estamos vivendo”, alfinetou o parlamentar.
D’água
Segundo ele, em CG, as pessoas só dispõem de água em três dos sete dias da semana (em alguns bairros o racionamento “branco” é ainda mais rigoroso – são semanas sem uma gota).
Demora
O governo estadual tenta segurar como pode, mas a situação não parece ser tão boa. As contas do Hospital de Trauma atrasadas, fornecedores reclamando da demora no pagamento.
Não ajudará
O Conselho Regional de Economia da PB (Corecon) também se pronunciou contra a criação do TCM. De acordo com manifesto, a PB tem muitos problemas para superar. O TCM não ajudará.
Jornal da Paraíba