Um caderno e uma caneta levada por familiares tornaram-se os aliados do ex-ministro José Dirceu para passar o tempo na cela que ocupa no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Ele, assim como alguns condenados e réus da Operação Lava-Jato, estão escrevendo diários sobre o dia a dia na prisão ou preparando livros para serem publicados futuramente.
Durante uma visita, o ex-ministro comentou com o advogado Roberto Podval sobre a autobiografia que está escrevendo. Apesar de ser formado em Direito, queria saber se tinha algum tipo de impeditivo.
Podval respondeu que não, afinal achava que esse era uma boa forma de fazer os dias passarem mais rápido atrás das grades. Dirceu foi considerado culpado pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa e deve cumprir 20 anos e 10 meses de reclusão. Pelo mensalão, ele foi condenado a 7 anos e 11 meses de prisão.
— Ele está escrevendo. Vai falar sobre tudo. Não vou falar nada para não perder a graça — despistou o advogado, que afirmou não saber se alguma editora manifestou interesse na obra e nem como é a estrutura do livro.
Como na cela não pode entrar computador, Dirceu escreve a autobiografia em cadernos e os entrega a familiares durante as visitas, para o conteúdo ser digitalizado. O advogado afirmou não ter visto nenhum trecho porque quer ler o livro apenas depois de pronto.
Um a um, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa contabiliza todos os depoimentos que presta à Justiça, ao Ministério Público e a outros órgãos de controle. Já foram 208 desde que foi preso, ainda em 2014. O 209º, para a Controladoria-Geral da União (CGU), já está marcado para janeiro. A história por trás dos mais importantes estará nas páginas do livro que ele está escrevendo. Serão 22 capítulos, dos quais dez estão escritos.
O primeiro delator da Lava-Jato diz que contará sobre a sua visão da operação e o dia a dia na Polícia Federal em Curitiba, onde dividiu cela com pedófilos, traficantes e com o doleiro Alberto Youssef.
— Vai ter no livro muitas histórias pitorescas sobre eu e ele (Youssef) lá dentro (da PF) — afirmou Paulo Roberto ao GLOBO, seguindo com alguns detalhes do dia a dia na cadeia. — Toda noite tinha um culto religioso. Tinha um livro chamado “Harpa Cristã” e, nele, tinha os cantos. Então, todos cantávamos, cada um na sua cela.
O pastor estava numa cela também. Ele era da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e andou praticando algumas coisas erradas. Tem muitas coisas pitorescas e folclóricas que eu vou detalhar. Isso não vai estar em nenhum outro livro. O público sabe detalhes da operação, agora, entrando nos detalhes pessoais, isso ninguém sabe.
Ele dedicará uns parágrafos para falar até mesmo do agente Newton Ishii, o japonês da Federal. Em um capítulo, Paulo Roberto tratará sobre como foi o processo até a assinatura do acordo de delação premiada e a volta para a casa.
O empreiteiro Marcelo Odebrecht escreve um diário, mas sem garantia de virar livro. Já o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha estava escrevendo um livro sobre o impeachment de Dilma.
Fonte: O Globo