Um dos onze membros da CPI da Pandemia, o senador Otto Alencar (PSD-BA) revelou que o governo federal tem tentado intimidar a Comissão, que teve a sua primeira reunião realizada na terça (27). Alencar foi responsável por convocar a sessão, por ser o parlamentar mais velho entre os membros da CPI, aos 73 anos, e disse que desde então vem recebendo ameaças pelo celular. “O governo tem apelado de todas as formas para desestabilizar a CPI”, afirmou o senador em entrevista à CNN Brasil.
“Dia 27 de abril eu convoquei a sessão. Daí em diante meu celular recebeu mensagens, ameaças, mais de 500 mensagens de robôs, de pessoas de outros códigos [de área], muitas do Rio de Janeiro, com as coisas mais absurdas na tentativa de intimidação”, revelou Otto Alencar.
Antes de ser deputado federal por 28 anos pelo Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) era vereador carioca, e sempre teve o seu reduto eleitoral concentrado na capital fluminense, assim como dois de seus três filhos parlamentares: o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Alencar disse ainda chamar atenção a forma como o governo Bolsonaro tem demonstrado receio da CPI, que visa investigar as ações e omissões da gestão federal na condução da pandemia, além da atuação também de estados e municípios sobre a Covid-19. Segundo o senador, o governo mostra “quase uma confissão de culpa”.
“O que me chama atenção é esse receio exagerado do governo, quase que uma confissão de culpa pela omissão, pela submissão dos agentes do governo que estavam comandando o Ministério da Saúde. A ciência não se dobra a uma ordem que não seja sintonizada com aquilo que a medicina prescreve. Não pode um profissional de saúde receber determinação, mesmo sendo presidente, de alguém que não conhece a medicina”, finalizou Otto.
Para Alencar, o governo Bolsonaro está por trás do pedido feito na Justiça para tentar barrar a escolha de Renan Calheiros (MDB-AL) como relator da CPI, o que acabou se confirmando na terça. Renan chegou a ser impedido de tomar posse como relator graças a uma decisão liminar, que depois foi suspensa. A liminar concedida na segunda (26), véspera da primeira reunião da CPI, atendeu a um pedido da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada próxima de Bolsonaro. Ontem, ela recorreu ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da Primeira Região) para ainda tentar barrar a indicação de Renan à relatoria da CPI.
O senador Otto Alencar também lembrou a atitude de três senadores: Jorginho Mello (PL-SC), Marcos Rogério (DEM-RO) e Eduardo Girão (Podemos-CE), que entraram com um mandado de segurança no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a escolha de Renan como relator. Alencar reconheceu sua surpresa com o fato. “Para a minha surpresa três colegas vão ao STF. Também não vai ter respaldo jurídico. O que me chama atenção é a falta de respeito com o colega [Renan]. Não creio que o Supremo vai tomar essa decisão, me parece muito mais um ato cênico para chamar atenção da mídia e da imprensa”, disse o senador.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba