O Papa Francisco disse hoje em conferência de imprensa que os gastos mundiais com o armamento são “escandalosos”, em especial quando ainda há pessoas morrem de fome.
“A indústria e o comércio das armas, também contrabando de armas, são uma das maiores corrupções e, por trás disto, está sempre a lógica da defesa”, observou, durante o voo de regresso ao Vaticano, desde Talin, propondo exércitos “razoáveis e não-agressivos” para defender as fronteiras de cada país, de forma “lícita”.
“A indústria das armas hoje é escandalosa, perante um mundo com fome”, insistiu, em conferência de imprensa.
O Papa disse estar consciente de que “a situação dos três países bálticos” está sempre em perigo, face à história de sucessivas “invasões”, defendendo que a Europa deve estar “próxima” destas nações.
Questionado sobre a mensagem de “abertura aos outros”, que deixou na Lituânia, Letónia e Estónia, desde sábado, Francisco recordou o contacto com emigrantes lituanos na Argentina, mostrando-se impressionado com o esforço de “conservar a identidade”, sem deixarem de se inserir no país de acolhimento.
O pontífice elogiou ainda a “abertura prudente e bem pensada” dos países bálticos aos migrantes e refugiados, falando de um “problema grave”, que não é “fácil” de resolver.
O Papa quis falar aos jornalistas sobre a visita à antiga prisão do KGB, em Vilnius, onde rezou pelas vítimas das perseguições do século XX.
“É uma história de invasões, de ditaduras, de crimes, de deportações”, recordou, ao falar das imagens de tortura, de execuções por motivos políticos ou religiosos, bem como do gueto onde foram mortos “milhares de judeus”, na capital da Lituânia.
“Nesse dia [domingo], digo-vos, fiquei desfeito: fez-me pensar na crueldade. E digo-vos, a crueldade não acabou: a mesma crueldade encontra-se hoje em muitos locais de detenção, em muitas cadeias”.
O Papa recordou a crueldade do autoproclamado ‘Estado Islâmico’ ou nas cadeias de algumas partes do mundo.
“Também a sobrelotação de uma prisão é um modo de torturar, de não viver com dignidade”, precisou.
“Quero deixar-vos esta mensagem, como jornalistas: isto é um escândalo, um grave escândalo da nossa cultura e da nossa sociedade”.
Francisco disse ainda ter ficado impressionado com o “ódio contra a religião”, durante a ocupação soviética, evocando o contacto com um bispo lituano que passou 10 anos deportado na Sibéria.
“Muitos homens e mulheres, por terem defendido a sua própria fé e identidade, foram torturados e deportados na Sibéria e não voltaram, foram mortos. A fé destes três países é grande, é uma fé que nascem precisamente do martírio”, referiu.
O Papa elogiou a dimensão ecuménica no Báltico, “como não há noutros lugares, de forma tão generalizada”, e convidou a valorizar o papel dos avós na “transmissão da cultura, da identidade e da fé”, em tempos de perseguição e ditadura.
No final de uma viagem “cansativa”, o pontífice quis deixar uma palavra de agradecimento aos jornalistas: “Muito obrigado pelo vosso trabalho”.
Depois de ter passado pela Lituânia e pela Letónia, desde sábado, Francisco regressou a Roma, partindo da Estónia.
Em 66 meses de pontificado, o Papa fez 24 viagens internacionais, nas quais visitou 37 países incluindo Portugal.
Fonte: Agência Eclesia
Créditos: Agência Eclesia