A falta de conhecimento do presidenciável Jair Bolsonaro sobre economia tem chamado a atenção. Em uma entrevista recente concedida à jornalista Mariana Godoy, da RedeTV, o deputado enrolou-se ao ser questionado sobre sua opinião a respeito do chamado tripé macroeconômico. “Quem vai falar de economia por mim é minha equipe econômica no futuro”, afirmou. “Se exigem de mim a questão da economia, então teriam de exigir entendimento de medicina, (pois) eu vou indicar o ministro da Saúde.”
Logo após a entrevista, a mídia passou a relatar que o deputado tem mantido encontros semanais com Adolfo Sachsida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para discutir temas da economia nacional e internacional. Em outubro, o site O Antagonista já havia adiantado que Sachsida era o “conselheiro misterioso” de Bolsonaro.
O currículo de Sachsida no Ipea informa que ele é doutor em economia pela Universidade de Brasília e concluiu seu pós-doutorado na Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, além de ter sido consultor do Banco Mundial para a Angola. Embora possua currículo na área, o pesquisador é mais conhecido por seu ativismo político e seu alinhamento com algumas das pautas preferidas de Bolsonaro e seus seguidores. Filiado ao DEM, o pesquisador concorreu a deputado distrital nas eleições de 2014.
Seu perfil radical incomodou até mesmo o governo de Michel Temer. Sachsida protagonizou uma das passagens mais rápidas pelo Esplanada dos Ministérios da história. Em julho do ano passado, Mendonça Filho, ministro da Educação, o nomeou como assessor especial da pasta, mas desistiu uma dia depois com a revelação de postagens de Sachsida nas redes sociais em defesa do movimento Escola sem Partido. Em entrevista de 2015, o pesquisador chegou a afirmar que “a ideologia é o problema mais sério no Ipea hoje”.
O apoio do pesquisador a uma pauta cara a Bolsonaro não é único ponto em comum entre o conselheiro e o presidenciável. Em seu canal no Youtube, Sachsida até trata de economia, mas também aborda temas que vão desde o ensino da “ideologia de gênero nas escolas” à defesa de que Adolf Hitler era “de esquerda”.
Quando o tema é a economia, o pesquisador costuma defender as reformas de Temer, como fez Bolsonaro nas votações da emenda constitucional que congelou os gastos públicos por 20 anos e das alterações na Consolidação das Leis do Trabalho. Em um vídeo, Sachsida defende, por exemplo, a “modernização da legislação trabalhista” com base no fato de a Consolidação das Leis do Trabalho ter inspiração no fascismo italiano.
Em comum com Bolsonaro, o pesquisador demonstra apreço pela política de encarceramento. Em um texto de discussão escrito com outro pesquisador no âmbito do Ipea, Sachsida defende que o combate à criminalidade “pode ser feito com sucesso sem passarmos por grandes mudanças na estrutura socioeconômica da sociedade. “Aumentar a taxa de encarceramento e a taxa de policiamento são políticas públicas capazes de reduzir a taxa de homicídios, independentemente de a desigualdade de renda diminuir ou de o nível de escolaridade da população aumentar”, conclui o estudo.
Para defender que Hitler “era de esquerda”, uma tese popular entre seguidores de Bolsonaro, o pesquisador estabelece que é de esquerda quem prioriza o Estado em detrimento do indivíduo, a função social da propriedade em oposição à propriedade privada e o controle estatal de preços em lugar do livre mercado.
Assim, o pesquisador entende que Hitler, por defender a imposição do Estado sobre a economia, seria de esquerda. Para sustentar sua tese, o pesquisador recorre a uma comparação entre o PT e a legenda alemã. “O PT é a sigla do partido dos trabalhadores. Da mesma maneira, o partido nazista era uma sigla: Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Você realmente acredita que um partido socialista dos trabalhadores é um partido de direita?”, afirma, antes de concluir. “Hitler era socialista antes e depois de assumir o poder.”
https://www.youtube.com/watch?v=kyl2LseqbUQ
Fonte: Carta Capital
Créditos: Carta Capital