opinião

Proposta do PT de abraçar um candidato de centro a presidência da Câmara é pra rir ou pra chorar? - por Francisco Airton

"O Lira é o candidato do Centrão. O Centrão tem um acordo com o Bolsonaro. Pode ter um acordo com a gente também", afirmou o Vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá ao defender o apoio a Arthur Lira, candidato de Bolsonaro na Câmara!

“O Lira é o candidato do Centrão. O Centrão tem um acordo com o Bolsonaro. Pode ter um acordo com a gente também”, afirmou o Vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá ao defender o apoio a Arthur Lira, candidato de Bolsonaro na Câmara!

E eu pergunto: Isso é pra rir ou pra chorar? Eu jamais tinha visto uma esquerda tão desbundada durante toda a minha vida de militância política. Será que o “sacode” sofrido pela esquerda nas últimas eleições deixou o valente Partido dos Trabalhadores tão sem prumo assim, ao ponto de se confundir com uma direita (contra quem lutou a vida inteira) e decepcionar filiados por todo o Brasil, lideranças e combatentes históricos, jogando na lixeira tudo o que já foi conquistado ou construído? Seria melancólico um final assim!

Confesso que me assusta ver um partido que ajudei a construir, em quem acreditei ideologicamente, de repente abandonar as armas e abraçar manobras simplesmente para se manter vivo! Sim, estou falando aqui humildemente, mas com a autoridade de quem no comecinho da década de 1980, pichava muros e gritava palavras de ordem em busca de justiça social, pelo fim da ditadura militar, pelos companheiros de luta – que sequer conhecia os rostos – mas que tinha a certeza que comungavam com os mesmos anseios e que queria uma Democracia plena nesse país! Fui firme quando defendi a primeira candidatura de um trabalhador rural para prefeito da cidade de Barbalha, no Ceará – Sebastião, de saudosa memória – quando ninguém acreditava que fosse possível manter uma campanha de um candidato de mãos calejadas. Visitei com novos companheiros, comunidades em Juazeiro do Norte, também, Cará, com velas acesas por que a localidade ainda nem tinha luz elétrica! Defendi (e ainda defendo) tudo por que lutei. Não dá para ver agora essa estrela que por anos carreguei espetada no peito e que ainda trago aqui dentro, destruída de forma irresponsável, por quem entrou pela porta dos fundos, tirando proveito do que estava se transformando o partido ao longo dos anos.

Acompanhei o seu crescimento e o seu triunfo ao eleger o primeiro trabalhador (um metalúrgico) como presidente do Brasil – Luís Inácio LULA da Silva – por duas vezes seguidas, que deixou a presidência com o maior índice de aprovação e que elegeu e reelegeu um sucessor (Dilma Roussef) e poderia ter sido eleito novamente, não fosse as artimanhas montadas para impedir que fosse novamente candidato! Um trabalhador que ousou ameaçar poderosos e políticos pequenos, carreiristas, que por não se encaixarem na ideologia de esquerda, viam seus empregos ameaçados. Vi com tristeza, paraibanos e cearenses (minhas duas terras amadas) participando do golpe preparado que destruiria de vez com a Democracia e desmontaria pouco a pouco um país (naquele momento) altivo e respeitado por outras grandes nações.

Mas é óbvio que o partido cometeu pecados. Fez alianças com quem não deveria (o que veio a saber depois) mas que, mesmo assim, não aprendeu. Continuou namorando com personagens danosos a sua imagem. Que festejaram com aquilo que parecia a derrocada do Lula e do PT e se refestelavam com aqueles resultados, buscando uma candidatura própria, quem sabe? Mesmo assim – a estrela traída e abusada nos momentos mais cruciais – tentava reaproximação com essas mesmas figuras como se aquele nome fosse indispensável para se seguir vivendo! Os equívocos praticados por grandes lideranças petistas ao tentar acordos e escolher mal alguns representantes ou parceiros, desdenhando de quadros próprios, levaram a esquerda a se perder, quase totalmente, nas últimas eleições. Os grandes perdedores nessa campanha eu não preciso apontar. Ganhou o Centrão!

Então é baseado nesse resultado que o Quaquá propõe uma aliança com o Centro? E a esquerda de lutas, onde fica? Eu conheço uma grande liderança de direita do Cariri/Cearense que me dizia numa entrevista de rádio, que a sua grande meta era acabar com o PT! Conseguiu? Ainda não sei. Mas esse é um projeto que vem sendo construído desde 2014! Essa mesma liderança acabou derrotada na campanha para prefeito, mas definitivamente não foi para o PT, embora tenha recebido o apoio petista! Ali ganhou uma candidatura de Centro! Infelizmente tenho de admitir que o partido só tem contribuído para garantir esse projeto de derrocada anunciado pela liderança aqui mencionada! Mas uma coisa fica patente: ou Lula entende de uma vez por todas que ainda é o maior líder político da América Latina, vivo e que – portanto não precisa buscar qualquer outro nome dentro do Centrão, que por enquanto está preocupado apenas em promover o próprio nome. Que o partido entenda de uma vez por todas, que não será pintando a estrela na cor rosa e buscando alianças com figuras nebulosas, que irá recuperar o respeito que com tanta garra se conquistou!

Lira é o candidato apoiado por Jair Bolsonaro para substituir Rodrigo Maia. Segundo o site Agenda do Poder, que cobre a política do Rio de Janeiro, Quaquá argumenta que Lira é um nome do Centrão e aponta eventuais vantagens de uma aliança com o parlamentar. Quais vantagens? Essa aliança que cheira a retrocesso, é o atestado de que cansamos e que o namoro com o fascismo pode ser, até, uma alternativa?

Mas há, ainda, uma luz no fim do túnel em relação ao desmonte que se tenta implantar dentro da esquerda. Na contramão do que pensa algumas lideranças azuladas de dentro do PT e de acordo com o jornal 247, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou, em vídeo publicado nas suas redes sociais e em seu site, que não existe a menor possibilidade de o PT apoiar a candidatura de Arthur Lira. “Hoje o PT é linha de frente na oposição a Bolsonaro e todos os retrocessos que o governo dele representa, por isso, em hipótese alguma, Lira, que é seu candidato, contará com apoio do PT”, afirmou. Ainda há esperança!

Diante de tudo que foi aqui exposto e se algum militante acha que estou errado na minha linha de pensamento quanto aos rumos que está tomando o Partido dos Trabalhadores e a esquerda como um todo, sinto muito. Lamentavelmente vejo nebulosidade nesses rumos. Cabe, no entanto, a própria militância ser mais atuante nessas decisões equivocadas e exigir uma postura mais coerente do partido e suas “modernas” lideranças, para que se restaure a linha de pensamento e se retome a luta pelo resgate das lutas e das conquistas perdidas ao longo do caminho. Precisamos ter de volta a democracia que está sendo destruída a passos largos, constituir um governo mais, ou totalmente comprometido com as causas sociais, com o meio ambiente, no cuidado com o desmatamento consentido, as queimadas, com a saúde, a educação e, acima de tudo, um governo que veja a vida do cidadão como um bem maior!

Fonte: Francisco Airton
Créditos: Polêmica Paraíba