A disputa para representar o PSDB nas urnas durante a corrida ao Palácio do Planalto em 2022 chega ao fim neste domingo. As prévias, realizadas pela primeira vez no partido para as eleições presidenciais, foram marcadas por embates com críticas entre os candidatos, memes nas redes sociais e acusações de manobras para conseguir votos e apoio ao governo Bolsonaro.
Apesar de contar com três nomes — o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (AM); o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (RS), e o governador de São Paulo, João Doria (SP) —, a polarização se deu especialmente entre o gaúcho e o paulista, candidatos favoritos que protagonizaram os principais conflitos da campanha e expuseram entraves internos da legenda.
Em outubro, a campanha de Leite acusou o diretório de São Paulo de ter filiado 92 prefeitos e vice-prefeitos do estado fora do prazo estabelecido pela legenda para participar da votação, dia 31 de maio. A Comissão das prévias do PSDB acatou a reclamação e determinou a exclusão destes filiados da lista de eleitores. Em resposta, o Diretório da legenda em São Paulo, sob influência de Doria, pediu a exclusão de outros 32 nomes de apoiadores do governador do Rio Grande do Sul, alegando o mesmo motivo referente à data de ingresso na sigla. O pedido também foi acatado pela Comissão.
O clima de tensão se intensificou com o início dos debates, com trocas de farpas relacionadas ao apoio a Bolsonaro por parlamentares ligados a Leite — que critica o presidente de forma mais tímida — e a presença do deputado federal Aécio Neves (MG) na campanha do gaúcho.
A adesão de parte da bancada do PSDB que apoia a candidatura de Leite à PEC dos Precatórios também se tornu um motivo de crítica dos adversários do governador gaúcho. Por outro lado, Leite destacou a alta rejeição ao nome de Doria nas pesquisas eleitorais como um ponto desfavorável à eleição do tucano para representar o PSDB em 2022.
Durante a campanha das prévias, surgiram alguns memes nas redes sociais em referência à disputa no PSDB. Um dos mais compartilhados fazia referência ao governador João Doria que, em evento em Guarabira, cidade do interior da Paraíba, pediu à plateia que aqueles que já tivessem ido à cidade de Dubai, nos Emirados Árabes, levantassem o braço. Ele discorria sobre soluções para o problema da seca e citava a cidade no exterior como um exemplo. Porém, dado o elevado preço de uma viagem para Dubai, a frase dita em uma região pobre do país foi recebida com críticas, e um vídeo que registrou o momento repercutiu nas redes sociais e virou meme.
Já na última semana de campanha, o governador João Doria (SP) investiu contra o adversário e divulgou um vídeo nas redes em que provocava Eduardo Leite com uma série de memes em que encaixava o rosto do governador gaúcho em personagens famosos e históricos que perdiam competições. Em uma das montagens, o rosto de Doria foi colocado no famoso personagem do desenho animado Papa-Léguas no momento em que a ave corre veloz à frente do personagem Coiote, que no vídeo carrega a face de Leite.
O vídeo não foi o primeiro que o paulista divulgou durante as prévias em tom bem humorado buscando atrair votos. No início de novembro, Doria voltou a assumir apelidos famosos, como o de “coxinha” e de “calça apertada”, em tom de brincadeira para dizer que, apesar disso, “fez o que qualquer presidente cabeça no lugar faria: trabalhar sem importar o partido, a ideologia, o sexo, a religião”, em alusão ao seu esforço pela vacina contra a Covid-19.
Denúncias sobre o aplicativo de votação
Faltando poucos dias para a escolha do candidato, o aplicativo utilizado na votação também foi um motivo para uma nova crise nas prévias do PSDB. Na última semana, o ex-governador Geraldo Alckmin (SP), que está em negociação com outros partidos, cadastrou-se na plataforma para participar da eleição. Por estar de saída da legenda, o movimento gerou insatisfação entre os apoiadores de Doria.
No dia seguinte ao episódio com Alckmin, o aplicativo foi mais uma vez razão de um entrave nas prévias. Um vereador do município de Tapiratiba, no interior de São Paulo — Edson Aparecido Moraes, conhecido como Cabelinho — gravou um vídeo em que ensinava a fraudar a plataforma.Na gravação, o vereador tentava se inscrever para votar nas prévias com o título de outra pessoa, e o aplicativo aceitava a inscrição, mesmo com a foto e o documento do próprio Cabelinho.
Após a repercussão, aliados de Leite chegaram a pedir o adiamento da disputa, movimento que foi repudiado em uma nota conjunta emitida pelas equipes de Doria e Virgílio. O PSDB alegou que as falhas já foram corrigidas e que o sistema passou a ter uma camada extra de segurança. Com isso, a data e o método de eleição foram mantidos.
Vacinação
Outro episódio recente, relacionado à data de início da campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil, também foi utilizado na campanha. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o governador do Rio Grande do Sul confirmou que ligou para João Doria, no início do ano, para repassar um pedido do então secretário de Governo Luiz Eduardo Ramos, hoje secretário-geral da Presidência, para que o início da imunização fosse adiado. Leite afirmou que repassou a mensagem do ministro a Doria em “esforço de concertação política” e criticou a abordagem do assunto por adversários internos nas prévias do PSDB.
Ao colunista do GLOBO Lauro Jardim, o governador de São Paulo disse que, na época, respondeu lamentar que Leite tenha “se prestado a atender um pedido dessa natureza do general Ramos” e que estava “ao lado da vida e dos brasileiros”.
Apesar das desavenças, os postulantes a representar o PSDB em 2022 afirmaram que não deixarão o partido caso não sejam escolhidos no domingo, e buscaram um tom de reconciliação nos últimos dias das prévias. Em comum, ambos se colocam dispostos a representar a legenda contra a reeleição de Bolsonaro.
Os governadores João Doria e Eduardo Leite, protagonistas dos conflitos durante a campanha, se encontraram em Porto Alegre na terça-feira e adotaram um tom mais ameno. Em vídeo gravado junto ao governador gaúcho, Doria afirmou que eles estarão juntos após o fim das prévias:
“Podemos estar disputando, mas somos do mesmo partido, estaremos juntos a partir do dia 22. Mais juntos do que nunca”, disse o paulista.
Fonte: O globo
Créditos: Polêmica Paraíba