“Existe uma coisa que se chama disciplina. E a disciplina mais elevada é a disciplina intelectual, é aquela em que você obedece firmemente as decisões que foram tomadas. Então é isso que eu vou fazer nesse período, cumprir as decisões do presidente Bolsonaro”, respondeu Mourão ao ser questionado se pretende tomar alguma atitude que possa ser vista como radical. Segundo o vice, apenas quem não o conhece bem o considera radical.
Bolsonaro representará o Brasil no Fórum Econômico Mundial de Davos e retornará ao país na madrugada de sexta-feira (25). No dia 28 de janeiro, o presidente deve novamente se afastar do cargo para ser submetido a uma cirurgia. O objetivo do procedimento é retirar uma bolsa de colostomia que utiliza desde que foi ferido em um atentado a faca em setembro de 2018.
Mourão também deve assumir a posição de presidente em exercício no período em que Bolsonaro estiver se recuperando da cirurgia.
“Eu acho que as pessoas têm que se dar conta que o presidente Bolsonaro, desde o primeiro dia, deixou muito claro que governaria para todos os brasileiros, e essa é a nossa visão muito clara, independente de terem votado ou não na gente”, disse Mourão por telefone ao UOL na sexta-feira (18). “Então as pessoas podem ter a maior tranquilidade.”
Ele disse que vê a Presidência em exercício como uma questão protocolar. “A figura do vice-presidente existe exatamente para manter a normalidade no país durante as ausências temporárias do presidente e é assim que eu estou me sentindo: cumprindo essa tarefa para a qual o presidente Bolsonaro me convidou. E eu me senti muito honrado de estar com ele nessa nossa missão de colocar o Brasil no rumo correto”, disse.
Mourão deve continuar usando seu gabinete de vice-presidente na ausência de Bolsonaro. Sua única viagem prevista até agora como chefe de estado será na terça-feira, no Rio de Janeiro – cidade onde morava até a eleição e onde passou uma parte de sua carreira. Ele participará da cerimônia de passagem de comando do Regimento de Cavalaria de Guarda, uma importante unidade militar sediada na Vila Militar, de Deodoro, na zona oeste do Rio.
Mourão se graduou na Academia Militar das Agulhas Negras na arma de artilharia e é praticante de equitação. Os militares da arma de cavalaria são considerados muito unidos e valorizam tradições e rituais, como a cerimônia que ocorrerá na terça-feira.
Atribuições do cargo
Mourão já havia dito que, apesar das limitações de ação do cargo de vice-presidente, ajudaria Bolsonaro a coordenar ações interministeriais e a combater a corrupção. Ao UOL, afirmou que está focado em algumas das atribuições do cargo, como manter a normalidade democrática durante os afastamentos do presidente e cumprir missões “que o presidente julgar necessárias”.
Ele citou como exemplo presidir comissões bilaterais com nações estrangeiras, como a China.
“A China hoje é o nosso maior parceiro comercial e está num movimento comercial tanto de compra como também de investimento. Então nós temos que aproveitar dessa relação tudo aquilo que traga benefício mútuo para ambos os países”, disse Mourão.
Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro adotou uma retórica anti-China. Mas a relação dá sinais de estar se amenizando após uma série de ações diplomáticas chinesas.
Desafios do governo
Mourão afirmou que o principal desafio do governo no futuro próximo é lidar com as questões econômica e da segurança pública.
“O número um é a gente chegar a uma decisão correta de qual a reforma previdenciária nós podemos fazer. Conversar com o Congresso e com a população, [porque] é uma tarefa de convencimento, para que tanto o Congresso como a população entendam a importância de aprovar essa reforma para ao futuro do país”, disse.
Para ele, só com as reformas previdenciária e tributária será possível atingir objetivos como o crescimento da economia e do emprego e o aumento da renda da população. Bolsonaro pode anunciar sua proposta de reforma quando retornar de Davos.
No campo da segurança, Mourão disse que é preciso aguardar as decisões do presidente. Mas disse que o ministro da Justiça, Sergio Moro, estuda formas de dar mais segurança jurídica para agentes de segurança que se envolverem em confrontos com suspeitos. A solução deve passar por uma mudança de legislação que tenha condições de ser aprovada pelo Congresso.
Ele afirmou que é preciso criar mecanismos para que “os agentes da lei, nesses embates que travam com a criminalidade, não sejam julgados como se fossem exterminadores e sim gente que está cumprindo seu papel perante a sociedade”.
Fonte: UOL
Créditos: Luis Kawaguti