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Presidente eleito terá a difícil tarefa da reconciliação no País

Empresários, artistas e personalidades com diferentes visões atribuem ao futuro presidente a responsabilidade principal de apaziguar o País

Há os que acreditam que a sociedade se refaz rapidamente. Outros, que vai ser difícil. Mas é consenso entre empresários, artistas e personalidades da sociedade ouvidas pelo Estado que o presidente eleito será o responsável pela reconciliação do País a partir de amanhã.

“A primeira coisa a ser feita por quem quer que vença é um discurso claro de que a eleição acabou, que vai governar com todo mundo e teremos uma construção coletiva no País”, diz o diretor executivo da Fundação Lemann, Deniz Mizne.

“Temos que baixar o tom, sair dessa guerra, mas isso depende do líder da nação. É preciso chamar a população à responsabilidade de manter a ordem e a paz” completa o coordenador do movimento Agora, Leandro Machado. O grupo foi criado pela sociedade civil para influenciar uma renovação na política.

A crise política que começou em 2015 culminou em uma eleição extremamente polarizada, com discursos de ódio contra oponentes. O candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi esfaqueado em setembro quando fazia campanha em Juiz de Fora. Foi ainda alvo de um movimento iniciado nas redes sociais, o #Elenão, que reuniu milhares de pessoas em protestos nas ruas. Fernando Haddad, que carregou uma rejeição avassaladora ao PT, se disse alvo de fake news que segundo ele atingiram até sua família.

“Nunca mais teremos uma democracia silenciosa, ela é barulhenta”, afirma o cientista político e professor do Insper, Fernando Schuler. Já antropólogo Roberto DaMatta não tem dúvidas de que o cotidiano e a rotina vão acabar reconstruindo as relações e deixando as questões políticas de lado. “Vamos aprender a discordar e concordar, é o princípio fundamental da democracia. E lembrar que temos um sistema político móvel, não é um rei, não vamos entregar o país a ele.”

Para o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, as necessidades concretas se sobrepõem às convicções políticas. Ele acredita que ajuste fiscal, novos investimentos e a redução do desemprego vão construir a “pacificação social”.

A atriz Fernanda Montenegro classifica o atual momento como “trágico”. “Mas não tem jeito. Vamos ter de pacificar esse País, e não vai ser com metralhadoras.”/ COLABOROU LUIZ CARLOS MERTEN

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“O encaminhamento do ajuste fiscal, a melhora da confiança, a atração de novos investimentos e a redução do desemprego poderão angariar gradual apoio popular, construindo a pacificação social. Necessidades concretas se sobrepõem às convicções políticas” – Luiz Carlos Trabucco Cappi, presidente do Conselho de Administração do Bradesco.

“Estamos nesse momento trágico, um processo eleitoral radicalizado em que os candidatos existem em função um do outro. Não tem jeito. Vamos ter de pacificar esse País, e não vai ser com armas. A mentalidade belicosa só vai trazer mais guerra e aprofundar a crise” – Fernanda Montenegro, atriz.

“A divisão não é apenas conjuntural, da radicalização de campanha, há visões diferentes sobre liberdade dos professores, gênero, direitos reprodutivos, igualdade racial. É algo que se aprofundou na sociedade e vamos ter dificuldade para conciliação.” – Boris Fausto, historiador e cientista político.

“O Brasil tende a entrar na normalidade. Não é possível que, passada a eleição, vai ainda se discutir nazismo, fascismo. Tudo isso vai perdendo força, vai sendo normalizado, vai cansando. Mas nunca mais teremos uma democracia silenciosa, ela é barulhenta” – Fernando Schuler, cientista político.

“Quem ganhar precisa deixar explícito no primeiro minuto que a eleição acabou, que quer governar com todo mundo, fazer uma construção coletiva do País. Isso passa pelo diálogo, respeito à lei, à Constituição, às pessoas. Se não, a tensão vai continuar.” – Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.

“A sociedade se refaz. O Brasil tem protagonismo, tem os valores da hospitalidade, compreensão, amizade. O cotidiano, a rotina, isso que faz com que o tecido social se reconstrua. É um sistema político móvel, não é um rei, não vamos entregar o País a ele.” – Roberto DaMatta, antropólogo.

“A reconciliação é a única forma de encerrar um ciclo que começou em 2014 com a acirrada disputa entre Dilma e Aécio. Mas o primeiro passo não pode ser questionar a legitimidade do oponente que perdeu e, sim, reconhecer que ele é parte do jogo democrático” – Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“Não importa quem ganhe, não há reconciliação. O mal já foi feito. É a eleição mais importante da nossa história, fez a gente descobrir quem não está alinhado com a gente. Só haveria saída se tivesse alguém no meio que conseguisse conciliar pautas dos dois lados.” – Facundo Guerra, empresário.

Fonte: Estadão
Créditos: Estadão