A sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara deflagrou uma profusão de candidaturas e um cenário conturbado em que sequer há certeza de quando ocorrerá a eleição. A quantidade de nomes apresentados, embora só cinco tenham sido oficialmente registrados, ameaça a unidade da base do governo Michel Temer, que precisa de entendimento na Câmara para aprovar projetos urgentes. Na sexta-feira, o presidente interino, Waldir Maranhão (PP-MA), demitiu o secretário responsável pelas sessões e mandou até retirar as cabines de votação do prédio da Câmara para evitar que o pleito ocorra antes da data fixada por ele, a próxima quinta-feira. Líderes do centrão reagiram e querem que a Mesa Diretora antecipe a eleição para terça-feira.
Os que defendem a eleição na quinta sustentam ser preciso resolver antes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a situação do recurso de Eduardo Cunha para que o processo de cassação dele possa seguir para o plenário. Por outro lado, os deputados pró-antecipação dizem que a real intenção de Maranhão seria empurrar a eleição do presidente para agosto, criando dificuldades para o governo Temer e embaralhando o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.
— A tentativa de levar a eleição para quinta-feira é para não acontecer e ir para agosto, para misturar com o impeachment e prejudicar o governo. É uma atitude nefasta e covarde — acusou o peemedebista Carlos Marun (MS), aliado de Cunha.
— Entre os que desejam fazer a eleição na terça-feira há os que querem inviabilizar a decisão da CCJ sobre Eduardo Cunha. Mas não vejo risco de ir para agosto. Tenho convicção de que a eleição será antes do recesso — rebateu Alessandro Molon (Rede-RJ).
Maranhão exonerou Silvio Avelino da função de secretário-geral da Mesa. Indicado por Cunha, Avelino acatou requerimento dos líderes do centrão, que convocava a eleição para terça-feira, contrariando a data estipulada por Maranhão.
— De acordo com o regimento e com a Constituição, o presidente tem a prerrogativa de assim fazer e o faremos. Será quinta-feira às 16h — disse Maranhão.
Para anular a convocação feita pelo centrão, ele contou com apoio de deputados de DEM, Rede e PSB. Dentre eles Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Júlio Delgado (PSB-MG), pré-candidatos na sucessão. Deputados do centrão reagiram. Rogério Rosso (PSD-DF), apontado como candidato, e Marun estiveram no gabinete de Maranhão, e os gritos foram ouvidos do lado de fora da sala. Mais tarde, os líderes do centrão pediram que a Mesa Diretora referende a eleição para terça-feira. Na Mesa, o centrão tem maioria. Mas há dúvidas regimentais se o órgão pode rever a decisão de Maranhão.
Até a noite de sexta-feira, cinco deputados tinham registrado candidaturas: Fausto Pinato (PP-SP), Carlos Gaguim (PTN-TO), Fábio Ramalho (PMDB-MG), Carlos Manato (SD-ES) e Marcelo Castro (PMDB-PI). Nenhum deles figura entre os favoritos, mas Castro, que foi ministro de Dilma e votou contra o impeachment, pode ganhar viabilidade se conseguir o apoio da nova oposição.
O peemedebista diz que ainda discutirá com a bancada do seu partido se ficará na disputa até o fim. Além de Castro, Sérgio Souza (PMDB-PR) também lançou seu nome. Outro possível candidato do PMDB seria Osmar Serraglio (PR), presidente da CCJ.
— Fomos pegos de surpresa com a renúncia, e, como está tudo muito rápido, já registrei a candidatura. Vou discutir com a bancada. Defendo que o PMDB tenha candidato próprio. O mandato é do PMDB, o maior partido da Casa não pode ficar 100% fora da Mesa — disse Castro.
Muitos candidatos disputando a indicação de uma mesma bancada não é exclusividade do PMDB. No DEM, que tem 27 deputados, Rodrigo Maia e José Carlos Aleluia (BA) anunciam suas pretensões. No PSB, que tem 34, são três pré-candidatos: Julio Delgado (MG), Heráclito Fortes (PI) e Hugo Leal (RJ).
No centrão, que reúne vários partidos médios, também há muita divisão. O primeiro secretário da Mesa, Beto Mansur (PRB-SP), o segundo vice-presidente da Casa, Giacobo (PR-PR), e os deputados Cristiane Brasil (PTB-RJ) e Esperidião Amim (PP-SC) são alguns dos que pretendem disputar, além de Pinato, Gaguim e Manato.
Os nomes mais fortes do grupo, porém, continuam a ser os de Rosso e de Jovair Arantes (PTB-GO), que negam a intenção de disputar.
— Tenho recebido centenas de manifestações de deputados solicitando que sejamos candidatos. Fico feliz de ser lembrado, mas não sou candidato. Gostaria de ser agente de construção de um entendimento. Temos nomes mais preparados e mais experientes — afirmou Rosso.
Fonte: O Globo