A política segue o exemplo do futebol. Após um jogo e uma vitória, não há tempo para comemorar, logo já se pensa na próxima partida. Nas eleições, não é diferente. 2020 ainda nem acabou e as articulações para 2022 já estão a todo vapor. Apesar de faltarem dois anos, parece não haver tempo para comemorar ou derramar lágrimas.
As eleições municipais servem de parâmetro para observar possíveis forças. Com os ótimos resultados a centro-direita comemora o crescimento de partidos como PP, DEM e PSD, que já pensam em ter protagonismo nas próximas eleições. Partidos tradicionais como PSDB e PT vão ter que repensar a estratégia para voltar a figurar no cenário estadual.
É importante saber ainda que, apesar dos indicativos, o cenário em dois anos pode mudar completamente. Na política e no futebol, dois anos são uma eternidade. No entanto, vale ressaltar um fato importante: nas municipais, muitos eleitores votam pensando nos seus problemas locais, que são diferentes do âmbito nacional.
Com conclusões sobre 2020 expostas, a articulação na Paraíba aponta para alguns protagonistas que podem figurar no cenário para o Governo do Estado e para o Senado Federal.
O centro esbanja opções, mas mantém até 2022?
Depois dos resultados em João Pessoa, a união do governador João Azevêdo (Cidadania) com o prefeito eleito Cícero Lucena (Progressistas) ficou ainda mais forte. Desde 2000, um governador não elegia o seu candidato na capital. O perfil conciliador de João e Cícero parece ter ajudado a relação que foi construída durante a campanha. Somado a isso, aparece ainda Aguinaldo Ribeiro, articulador da união.
Após a divulgação da eleição de Cícero, o prefeito eleito foi até a granja do governador. De lá, saíram juntos João, Aguinaldo e o próprio Cícero. Um ato simbólico.
Além disso, na semana em que Cícero anunciou os nomes da equipe de transição, ele não abandonou seu partido, pelo contrário, se disse grato pelo “acolhimento” mais uma vez, e nomeou Diego Tavares, então senador no lugar de Daniella Ribeiro e a presidente municipal do Progressistas. Cícero parece disposto a fortalecer a união com o governo estadual e chegar em 2022 com uma chapa forte.
E o governo vai querer o Progressistas na sua base? O problema é que o partido de Aguinaldo tem relação próxima com o presidente Jair Bolsonaro, algo que João se mostra não desejar. Do outro lado, Daniella Ribeiro também não é favorável ao governo estadual e deve querer almejar voos mais altos em 2022.
João é candidato à reeleição e o nome de Aguinaldo Ribeiro ganha força para tentar se juntar a sua irmã no Senado. Mas a união pode não se concretizar. Entretanto, as alianças do governador são muitas e a vice-governadora, Lígia Feliciano (PDT), não poderá mais concorrer como vice. Ela não deve ficar de fora do cenário e deve brigar para ir ao Congresso Nacional.
O que pode pesar contra Lígia é o apoio que o PDT decidiu formalizar à Edilma Freire (PV), no primeiro turno na capital, lançando inclusive Mariana Feliciano, filha de Lígia, como vice na chapa. João Azevêdo ficou contrariado e chegou a dizer que “teria consequências”. No segundo turno, porém, o partido de Lígia se juntou a candidatura de Cícero e jogou panos frios na relação que poderia ficar conturbada.
Quem pode se colocar como fiel da balança ainda é o Democratas, de Efraim Filho. O deputado já manifestou seu desejo e do partido de disputar a majoritária em 2022, após o crescimento nas eleições municipais no país inteiro. Ainda não é possível saber para que lado Efraim pode ir. Na direita, há espaços e uma velha relação com o PSDB. Uma candidatura do chamado centrão com PP e DEM também é possível. E há também um relacionamento próximo com o governador João Azevêdo. Entre o centro e a direita, aonde o DEM vai querer se encaixar?
A direita entre egos e alianças
A força da direita depois das eleições municipais se concentra em Campina Grande. Com alto índice de aprovação, Romero Rodrigues (PSD) conseguiu eleger Bruno Cunha Lima, do mesmo partido, no primeiro turno, contrariando todas as pesquisas. Apesar do seu desejo de lançar Tovar, Romero se mostrou articulado e flexível. Logo após a confirmação do resultado, ele logo tratou de se colocar à disposição para concorrer ao governo em 2022. E não deve ser difícil.
Romero tem um partido para chamar de seu, lugar em que é influente e o principal nome. O prefeito de Campina Grande vai buscar apoios, principalmente do PSDB, dos Cunha Lima. Entre os tucanos, o desejo de Cássio é lançar seu filho, Pedro Cunha Lima, atual deputado federal. Não se sabe até que ponto o ego pode superar a aliança. Cássio vai se espelhar em Romero e decidir contra seu desejo, mas por uma alternativa mais interessante? Caso seja Romero. E Romero, vai repetir a atitude em busca da aliança e dar lugar a Pedro?
Será preciso entender quem tem mais chances de fazer frente e capitalizar votos e isso só será possível se Cássio e Romero se entenderem.
Apesar das forças concentradas em Campina Grande, a direita pode ganhar um reforço vindo de João Pessoa: Nilvan Ferreira (MDB). Segundo colocado nas eleições na capital, Nilvan não deve sair da política. Depois da derrota no segundo turno disse que sua função seria “fiscalizar”.
Imaginar uma união entre Romero e Nilvan não é difícil. Os dois tem ideias semelhantes e admiração pelo presidente Jair Bolsonaro. O sonho do prefeito é fazer dobradinha com o “capitão”; já Nilvan, procurou não associar seu nome ao do presidente nas eleições, mas teceu elogios a ele inúmeras vezes.
Um impedimento para Nilvan seria o líder de seu partido, Zé Maranhão, que encerra seu mandato no Senado em 2023. Com isso, ficaria fora da política. Aos 87 anos, ele ainda está disposto a tentar outra eleição?
O mais difícil nessa briga de egos, é enxergar quem queira ir para o Senado. Nilvan dificilmente assumiria esse papel, a ideia do radialista é um cargo executivo. Romero, que parece mais conciliador, poderia até ceder o espaço, mas e Pedro?
Se o PSDB decidir disputar a majoritária sozinho, Ruy Carneiro poderia tentar “subir de cargo” no Congresso: de deputado a senador.
Na esquerda, os nomes são escassos, mas há alternativas
Com a derrota de Ricardo Coutinho (PSB) no primeiro turno, ficando apenas em quinto lugar na disputa, o principal nome da esquerda na Paraíba não deve disputar as eleições de 2022, pois foi declarado inelegível pelo TSE. Quem manteve a coerência no discurso e seguiu firme com a candidatura do ex-governador foi Luiz Couto (PT). O ex-deputado é uma das alternativas que podem surgir, mas há dúvidas se ele conseguiria fazer frente a máquina do governo e prefeitura juntos.
O cenário de especulação começa a se desenhar para um retorno de alianças, um chamado “grito dos excluídos”, que teria o retorno do atual prefeito, Luciano Cartaxo, junto com a esquerda. Cartaxo foi eleito prefeito pelo PT, em 2012, mas depois não teve mais o apoio da esquerda. Agora, no entanto, o prefeito de João Pessoa pode ter que retornar as origens para capitalizar votos.
Derrotado no primeiro turno das eleições municipais, quando lançou Edilma Freire como candidata, Cartaxo não fez alianças no segundo turno. E ainda viu nomes do seu partido e seus secretários se aliarem a Cícero. Isolado, o prefeito confirmou nessa semana que pretende disputar o Governo em 2022. Ele mencionou o “histórico político e os números das suas gestões” como favoráveis a uma possível disputa estadual. Mas e as alianças?
Sozinho e sem a máquina da prefeitura fica ainda mais difícil chegar ao segundo turno. A alternativa de Cartaxo pode ser um diálogo com a esquerda e nomes como Luiz Couto, ex-colega de partido e Ricardo Coutinho, que não apoio suas eleições, nem em 2012, nem 2016.
Cartaxo poderia ser o candidato ao governo, com Luiz Couto tentando o Senado outra vez. O petista foi candidato em 2018, ficando em terceiro lugar na disputa, atrás dos eleitos, Veneziano (PSB) e Daniella (PP).
Veneziano, inclusive, é outro possível candidato ao governo na ausência de Ricardo. Ele é líder do partido do Senado e tem boa relação com prefeitos no interior. No entanto, não conseguiu levar sua esposa, Ana Cláudia Vital (Podemos) ao segundo turno em Campina Grande. Ana Cláudia voltou a compor o governo de João Azevêdo, o que pode dificultar uma oposição de frente a João em 2022.
Ainda no PSB, Gervásio Maia surge como um nome com potencial. Mesmo após todas as denúncias que o partido sofreu, o deputado federal passou sem ser citado e sem colocar o nome no fogo. Nas eleições municipais, ficou em silêncio, como se esperasse a tempestade passar, para dar as caras no momento certo.
Resta saber se o campo da esquerda vai conseguir dialogar e chegar a um ponto em comum para tentar eleger um nome na chapa majoritária, seja ao governo ou ao Senado.
Fonte: Samuel de Brito
Créditos: Samuel de Brito/Polêmica Paraíba