Com seu olhar experiente, FHC acompanha os recentes episódios políticos e conclui: “O sistema partidário brasileiro acabou. Como não temos outro à mão, ele vai ficando…” Da constatação, o ex-presidente passa a um conselho: “Em momentos difíceis, cabe às lideranças mostrar caminho e dar esperança. Porque, no dia a dia, é só desemprego.”
Mas, nesta conversa com SR e Gabriel Manzano, ele não atira a toalha: “Os fundamentos da economia estão sendo postos. Não tenho visão pessimista”.
Como avalia os episódios da semana , especialmente a questão do caixa 2 no Congresso?
Alguns setores políticos estão entrando em pane. Por quê? É que nunca se discutiu a sério, no Brasil, quem paga o custo da democracia. Tínhamos antes um sistema de corrupção mais pessoal, que agora está institucionalizado. Como chegamos a isso? Começou com a Constituição garantindo o financiamento dos partidos pelo governo via Fundo Partidário, com TV gratuita, os partidos registrando a doação. E as empresas começaram a doar para vários partidos, o limite foi ficando muito elevado, entraram bancos e empreiteiras… Hoje o cenário é outro. O dinheiro sai do Tesouro. Faz-se um contrato, aumenta-se o valor da obra e boa parte dele é repassado diretamente ao partido. Resultou num grande aumento no volume da corrupção. Daí surgiram o mensalão, depois o petrolão…
Como combater essas falhas?
É tarefa da Justiça. Ela tem de separar as coisas. Quem deu, por onde, quem recebeu, como usou. Julgar o ilícito que se fez, quem fez.
Por que se chegou a esse ponto?
O fato é que nosso sistema político partidário acabou. Como não tem outro aí, ele vai ficando. Mas não tem representatividade, não deixa governar, não funciona mais. Basta somar PMDB, PT e PSDB. Não chegam juntos a 200 deputados, em 513. Mas não sou pessimista. A equipe econômica tem um projeto, temos agricultura, commodities, a Petrobrás está sendo posta em ordem, Eletrobrás e bancos têm pessoas competentes.
O que falta?
O arcabouço político. E que o público perceba por onde estamos indo. Se você não dá esperança, só sobra o dia a dia, que é desemprego. E, no mundo de hoje, tem de explicar aos cidadãos, no miúdo, ou eles não vão juntos. Não basta ter razão, ou competência, tem de convencer as pessoas de qual é o caminho. Eu fazia isso no tempo do Itamar. Nem precisa ser o presidente, mas algum ministro tem de fazer isso.
Fonte: ESTADÃO
Créditos: EVELSON DE FREITAS/