Oposição tem 'rabo preso' com Cunha e quer o governo no chão - Por Laerte Cerqueira

Presidente da Câmara manipula o processo que responde no Conselho de Ética

MANUEL E CUNHAO que é mais vergonhoso no processo de impeachment que está em andamento é ele ser comandado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB). A questão não é só o fato de Cunha ser investigado pela Lava Jato, nem sobreviver politicamente sob indícios claros de atos ilícitos. O que mais incomoda é vê-lo comandar o destino do país para se salvar, de maneira tão escancarada. Faz isso sem nenhum pudor, sem vergonha e na maior cara de pau. A proposta é limpar uma sujeira, utilizando-se dos mesmos métodos sujos que todos fingem condenar e lutar contra. Que o diga a oposição.

Com domínio absoluto do Regimento Interno, rodeado de colegas de “rabo preso”, Cunha age ao bel-prazer, manobrando e ditando os rumos políticos da nação. A sociedade fica se perguntando: quem vai tirá-lo dali? Como pode ter tanta força e que podridão é essa que todo mundo sabe, mas aceita? Até os mais otimistas estão horrorizados com o Parlamento e com a nossa representação.

Não é uma defesa do governo. A presidente Dilma precisa, sim, responder pelo suposto crime de responsabilidade. Falo suposto, porque juristas consagrados ainda batem cabeça sobre o assunto. Vai pagar um preço alto pelos erros. O “petismo” também pagará pela corrupção sistematizada. Mas não é, minimamente, legítimo um presidente da Câmara com o perfil de Cunha ser o moderador desse processo, ser protagonista desse debate. Ele não é digno de tanta força e poder, num momento político como esse.

O que se vê nas reuniões do Conselho de Ética, por exemplo, é deplorável. O grupo analisa a admissibilidade ou não do processo de cassação de Cunha por quebra de decoro parlamentar. Com claras manobras, interrupções, questões de ordem, aliados de Cunha protelam a votação até que tenham certeza que serão vitoriosos. Eles riem do próprio comportamento “esperto”, ironizam. Uma pena que tem paraibano avalizando tudo isso: Manoel Júnior (PMDB). Ontem, com apoio do “nosso” parlamentar, Cunha derrubou o relator do processo de cassação dele e anulou tudo que foi feito até agora. Ou seja, zerou o jogo para começar do seu jeito. Os políticos brasileiros, por interesses diversos, estão envergados diante de Cunha.

A oposição, que deveria assumir o protagonismo, nesse momento de fraqueza ética do governo, iguala-se e entra na vala comum. Fica perceptível que quer o governo no chão, custe o que custar, nem que seja “vendendo” a própria alma, ou a própria ética.

Resultado: não consegue ter apoio social, não consegue a solidariedade da maioria da população que, mesmo insatisfeita, mesmo cansada e esperando mudanças, não demonstrou interesse de dar ao PMDB, PSDB, DEM, SD ou PPS o comando do país, sem que eles passem pelo crivo de uma eleição. É como se dissessem: “vocês ainda não provaram que merecem esse presente”. A oposição seria respeitada, se na luta pelo afastamento de Dilma, agisse com rigor ético. Mas já demonstrou que, infelizmente, é do mesmo saco.

Direto
Na audiência pública para debater do TCM ontem, o presidente da AL, Adriano Galdino, não precisou ser eufêmico e enfiou o dedo na ferida dos conselheiros do TCE que estavam lá.

Prestígio
Galdino disse que eles são os únicos que perdem com a instalação do TCM. E ele não se referia aos salários gordos, nem as férias longas, mas ao poder e prestígio político.

No olho
Na frente de Galdino, o presidente do TCE, Arthur Cunha Lima; os conselheiros Fábio Nogueira, Fernando Catão e Nominando Diniz.

Intimidou
Nas galerias, manifestantes contrários ao TCM exibiram um placar com o posicionamento dos parlamentares. O cartaz intimidou.

Embaraçou

Na audiência pública, alguns governistas revelaram que não têm tanta certeza se são a favor do TCM, mesmo com o “cabresto” do governador. Podem se posicionar contra, Jeová Campos (PSB), Ricardo Barbosa (PSB), Bosco Carneiro (PPS) e Nabor Wanderley (PMDB). Se estiverem unidos no propósito, a retaliação pode ser menor.

Abstenção
Janduy Carneiro (PTN) pode se abster, se a PEC do TCM for colocada para votação no plenário. A afirmação foi do colega Tovar Correia Lima (PSDB).

Na boca
Mas a postura de Janduy não está pegando nada bem. Na boca do “povo” já circula que o interesse em ser conselheiro vitalício é sua única motivação. Nem aí para “bem que o TCM pode fazer à PB”, como alega Galdino.

Fora da lei
Na tribuna, o ministro aposentado do STJ, José Delgado, afirmou que a criação do TCM é inconstitucional. Hervázio Bezerra (PSB), defensor ferrenho da proposta, contestou.

Sem interesse
Para ser votada no plenário, a PEC deve ser enviada pelo governo, mas, por incrível que pareça, não tinha ninguém do governo para assistir a audiência.

Tapa
O deputado Eduardo Cunha deve ser muito, muito importante para o paraibano Wellington Roberto (PR). O deputado que fala e aparece pouco, ontem, quase sai “na tapa” com um colega defendendo o presidente.

Jornal da Paraíba