Política

Oposição cobra a renúncia de Dilma após delação de Delcídio

"Estamos vivendo uma República completamente degradada"

oposição dilmaDeputados da oposição subiram à tribuna na manhã desta quinta-feira para citar trechos da reportagem da revista ‘IstoÉ’ sobre delação premiada feita pelo ex-líder do governo, senador Delcídio Amaral (PT-MS) e cobrar da presidente Dilma Rousseff a renúncia de seu mandato. O texto traz detalhes sobre a suposta atuação da presidente e de seu sucessor Luiz Inácio Lula da Silva para interferir na condução das investigações da Lava-Jato. Em plenário, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) cobrou elevação do debate e disse que Delcídio soltará nota desmentindo a delação premiada e as informações da publicação.

— A presidente não pode mais fazer de conta que não é com ela, as denúncias se acumulam. A reportagem mostra que Lula e Dilma sabiam de tudo. Presidente Dilma reconheça, tenha humildade de dizer que não há condições de ficar à frente do país. Faça um bem para o país e não nos deixe viver mais um período de incerteza econômica. O Brasil precisa de um gesto de grandeza, de sensibilidade. Renuncie ou então o impeachment virá. Quero cobrar que o líder do PT e do governo na Câmara se pronunciem — cobrou o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).

O líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino, exibindo nas mãos a revista, também cobrou a renúncia de Dilma:

— As denúncias são contundentes, vindas do senador que era líder do governo. O que estamos vendo aqui na matéria da ‘IstoÉ’ cai por terra as negativas tanto de Dilma, quanto de Lula, que nada sabiam do que estava acontecendo. Dilma e Lula sabiam de tudo. A presidente Dilma tem que renunciar. Aqui está novamente Pedro Collor, agora travestido em um senador — disse Pauderney, numa referência ao irmão do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor, que denunciou Collor e deu elementos para o impeachment dele.

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), criticou o fato de o plenário da Câmara estar discutindo e tentando votar um recurso referente a um projeto de telemarketing e as falas da oposição serem ignoradas pelos demais deputados presentes na sessão. Além das cobranças à Dilma, deputados também voltaram a cobrar que Cunha deixe a presidência da Câmara.

— Estamos vivendo uma República completamente degradada. O país vem enfrentando a sua maior crise. Hoje tudo indica que um senador da República, até bem pouco líder do governo, relata que um ministro da Justiça e o senhor Lula tentaram obstruir a Justiça brasileira e esse Congresso discute um projeto de telemarketing ?! Por mais importante que seja a atividade, mais importante é o futuro da nação brasileira. Não estamos vendo ninguém se pronunciar — disse Freire, acrescentando:

— Eu diria a vossa excelência, que ontem foi denunciado pelo Supremo, hoje um escândalo maior se apresenta. Não é um presidente de poder que tenta obstruir a ação. São dois presidentes, a atual e um ex-presidente que são acusados e estamos aqui como se nada tivesse acontecido.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), se manifestou por meio de nota, e afirmou que o PT, Lula e Dilma se “apropriaram do Estado em favor de seu projeto de poder” e utilizaram de suas posições para tentar impedir investigações.

“ O senador Delcídio era o líder da presidente Dilma, agia e falava em nome dela, gozava de sua total intimidade. As informações contidas em sua delação são uma pá de cal no governo da presidente e na defesa de Lula porque não se trata mais de um delator qualquer – mas sim o líder da presidente. Uma presidente que se utiliza do mais alto cargo da República para tentar atrapalhar o trabalho da Justiça para proteger a si, a seu criador, e à companheirada, não tem condições morais para permanecer à frente do país”, afirmou Imbassahy.

‘DELAÇÃO NÃO É PROVA’

O deputado Wadih Damous (PT-RJ) usou o tempo reservado à liderança do partido para reagir de forma contundente. Segundo ele, a revista mente e tem por objetivo produzir material para servir de base para a convocação de manifestação contra o governo Dilma marcada para o próximo dia 13.

— Venho mais uma vez à tribuna para rebater uma leviandade de uma revista. Sabemos qual o mecanismo: convocação de uma manifestação golpista. Alguns líderes e próceres de partidos deveriam ter mais cuidado. E esclarecer primeiro problemas que são seus, como está a situação do senador Agripino Maia? Quem pertence ao partido do senador Agripino Maia para vir aqui apontar o dedo ? Isso é inaceitável! Temos que tratar essa questão com a seriedade que ela merece. O senador Delcídio está desmentindo. E delação premiada não é prova, não significa nada — disse Wadih Damous.

Para o deputado petista, é preciso cuidado para não jogar na lama a reputação de pessoas honradas, como a presidente Dilma Rousseff e ministros nomeados por ela para tribunais:

— Ao se jogar lama a reputação da presidente Dilma, mulher honrada, no presidente Lula, está se jogando lama nos ministros nomeados por ela. É um absurdo, um despropósito. Desafio mostrar uma decisão desses ministros protegendo ou livrando a cara de pessoas da Lava-Jato. Não vamos distribuir desonra, calúnias, vamos ter cuidado. Estamos vivendo um quadro no Brasil que não é de ditadura, mas de retrocesso das garantias individuais. Vamos parar com isso, vamos elevar a política. Vamos esperar que a grande imprensa haja como um órgão de informação e não de deformação.

— É preciso primeiro saber se o Delcídio fez mesmo a delação, é preciso saber se isso é verdade. — afirmou o vice-líder do governo, deputado Silvio Costa (PT do B-PE), o único parlamentar da base aliada a se pronunciar sobre o assunto.

O líder do PSOL, Ivan Valente, também subiu à tribuna. Ele afirmou que seu partido apoia a investigação tanto de governistas quanto de oposicionistas. Causou gritaria no plenário ao dizer que “o PSDB ajudou a enterrar a CPI da Petrobras”. Os deputados da oposição gritavam que o PSOL era uma linha auxiliar do PT e destacaram que o partido teria apoiado o fim da CPI do BNDES.

‘SEM NOÇÃO’

Investigada na Operação Lava-Jato e única petista a subir à tribuna, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) aproveitou sia fala para reclamar da movimentação “precipitada” da oposição e dar sua versão da delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS).

– O senador petista está perturbado e não tem noção do que fala ou atesta. Gleisi considerou o novo capítulo do caso Delcídio como “sui gêneris” e “surreal”. Ele está numa situação de extrema fragilidade emocional – disse.

Já a senadora Ana Amélia (PP-RS) reagiu às declarações da petista.

– Tentam desacreditar uma delação que é nitroglicerina pura. Tentam desqualificar o autor da delação que não prestou as informações por estar num pau de arara, mas por espontânea vontade relatando com riquezas de detalhes – afirmou.

O senador José Medeiros (PPS-MT) pediu a palavra para dizer que quem agiu de forma açodada, sem respeitar a situação de Delcídio no dia se sua prisão, foi o presidente do PT, Rui Falcão, que divulgou nota dizendo que ele estava desfiliado e que não teria solidariedade do partido.

Fonte: O Globo