Estratégias

OPINIÃO: No xadrez do xadrez de Curitiba, chega a hora dos lances finais - por Mário Rosa

Roque. Grande roque do Rei. É quando se aprisiona a principal peça do tabuleiro e é cercada por uma fileira densa de peões e protegida por uma torre. Nada entra ali sem passar por uma pesada barreira. A margem de manobra real é mínima.

Copa Curitiba de Xadrez reune 840 participantes no Colégio Marista Santa Maria.
Curitiba, 08/08/2015
Foto: Valdecir Galor/SMCS

Roque. Grande roque do Rei. É quando se aprisiona a principal peça do tabuleiro e é cercada por uma fileira densa de peões e protegida por uma torre. Nada entra ali sem passar por uma pesada barreira. A margem de manobra real é mínima.

A proteção total. E de lá, ainda assim, o jogo precisa continuar. É preciso vencer o inimigo. Conquistar os espaços estratégicos dos quadriláteros, arrebanhar as peças-chave do outro lado, aniquilar, avançar, dominar, esgotar, vencer. Que jogo esse o xadrez…tão irreal. Em nada parece com a vida e, acima de tudo, com a política.

O Rei está em seu confinamento. Mas suas peças precisam continuar se movendo. Ele precisa da mão, da mão do Grande Jogador. É ele que cumprirá suas vontades e, ao final, receberá as loas pela vitória, se houver. Mas no tabuleiro todos saberão: foi o Rei quem venceu.

Mesmo preso no roque em que lhe meteram. Assim, o Grande Jogador nada mais fará senão seguir seu soberano e mover as peças conforme Sua Alteza assim deliberar. A peça que conta é o Rei. A mão boba apenas desloca os soldados.

O Rei anda encafifado. Não lhe passa pela garganta a desenvoltura do bispo adversário, de capa preta e solene. O Rei sempre jogou com as brancas. Sempre foi sua a iniciativa. Até que o tal bispo em suas batas austeras começou a rabiscar o jogo com suas diagonais desconcertantes. Atribuem a ele o sacrifício da Rainha, mas esse tema é tabu e ninguém no reino ousa sequer falar disso perante Sua Majestade. O Rei, confinado como está e contando apenas com o Grande Jogador, vem travando uma partida que os Grandes Mestres irão eternizar.

Incapaz de mover-se ele mesmo por si só, decidiu El Rei que a plateia invadisse o mosaico quadriculado e embaralhasse o jogo imaginado pelo bispo das diagonais. Agora, instalou-se uma confusão na partida e ninguém mais sabe onde o jogo acaba e a plateia começa e vice-versa. Com sua prodigiosa capacidade mental, o Rei não se contentou em mover apenas a mão do Grande Jogador.

Transformou parte considerável da audiência em peões e telepaticamente os vem movendo ao seu bel prazer. Confusão total nos 64 quadrados. Enquanto isso, o bispo soltou os cachorros (quero dizer, os cavalos) contra o Rei e criou inúmeros novos flancos simultâneos para deter sua colossal escalada, que mobiliza mais e mais espectadores a cada dia.

O que mais impressiona todos é como o Rei pode fazer tudo isso isolado de seu claustrofóbico roque, murado de peões e cercado pela torre? Que xadrez é esse onde a peça é quem joga e o Jogador é apenas uma peça? E do outro lado? Que configuração estranha a do bispo de preto que comanda as peças do seu lado e tem mais poder que o Rei de sua cor? Será mesmo um bispo ou um Rei disfarçado? Que xadrez será esse que se joga nesse lugar, onde as regras variam conforme os lances, onde as peças podem ser ou não o que são e os jogadores podem ser apenas movidos de um lado pelo outro, como meros coadjuvantes?

E, para surpresa geral, de repente, surge no tabuleiro um peão de quepe e todo paramentado. Ninguém deu muita bola para ele no início. E ele foi avançando, casa a casa. Não é que está para dar o xeque mate?

Que jogo é esse, o xadrez: às vezes parece que tudo que estamos vendo, cada lance, é realmente de verdade. Da até medo só de imaginar…
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Fonte: Poder 360
Créditos: Mário Rosa