Encontros entre Janot e o ministro José Eduardo Cardozo seriam investigados
POR FERNANDA KRAKOVICS / SIMONE IGLESIAS
BRASÍLIA — Alvo de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal para investigar suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), articula a criação de uma CPI do Ministério Público, autor do pedido de inclusão de seu nome no rol de investigados na Operação Lava-Jato. Entre os focos das investigações estariam os encontros entre o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), dias antes de a lista ser encaminhada ao STF.
A iniciativa, no entanto, encontra resistências no próprio PMDB. Um dos motivos é que Janot também esteve algumas vezes com o vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, entre dezembro passado e este ano. Outro peemedebista que se encontrou com Janot foi o então presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (RN) no final do ano passado. Nessa conversa, o procurador-geral tranquilizou o então deputado sobre as investigações. Segundo relato ao GLOBO de um peemedebista que presenciou a conversa, Janot informou a Henrique Alves que os elementos contra ele eram “frágeis”. O ex-presidente da Câmara teve seu caso arquivado.
Apesar da disposição de Renan em enfrentar o Ministério Público Federal em uma CPI, aliados avaliam que a situação do presidente do Senado neste momento é delicada e ele não teria a força necessária para segurar requerimentos contra o PMDB e que prejudiquem a vida do PT e do governo Dilma. Assim, a avaliação é que uma CPI durante as investigações contra os parlamentares seria um “tiro no pé”, pois colocaria a opinião pública contra o Congresso.
Em rota de colisão com o governo Dilma Rousseff, a formalização da abertura de inquérito contra Renan e o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aprofunda a crise com o Palácio do Planalto. Cunha afirmou, neste sábado, que o inquérito contra ele foi aberto por motivação política, com o dedo do Executivo, para que todos sejam “partícipes da mesma lama”.
“O procurador-geral da República agiu como aparelho, visando a imputação política de indícios como se todos fossem partícipes da mesma lama. É lamentável ver o procurador, talvez para merecer a sua recondução, se prestar a esse papel. (…) Sabemos exatamente o jogo político que aconteceu e não dá para ficar calado sem denunciar a politização e aparelhamento da PGR (Procuradoria Geral da República). Eles estão a serviço de quem? Pelo critério do indício, o procurador só será reconduzido se for da vontade do Executivo”, afirmou o presidente da Câmara em nota e também no Twitter.
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Para Cunha, Janot só considerou válido o depoimento do ex-policial Jayme Alves, o Careca, que o acusa de envolvimento no esquema, para poder incluir na lista o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). Esse é mais um fato citado pelo presidente da Câmara para acusar o procurador-geral de estar a serviço do Planalto.
“É uma piada essa peça do procurador, e causa estranheza que ele não tenha a mim pedido explicações, como, aliás, sempre foi praxe na Procuradoria Geral da República” escreveu Cunha.
A abertura de inquérito contra Anastasia causou incômodo na oposição e tirou o ímpeto do discurso do PSDB para cobrar o PT e o governo Dilma Rousseff quanto ao escândalo de investigação na Petrobras.
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