Por Rômulo Halysson Oliveira
Advogado. Ex-secretário do Orçamento Democrático de João Pessoa/PB.
O PT rifou a candidatura da vereadora do Recife, Marília Arraes, ao governo de Pernambuco em troca da neutralidade do PSB e seu distanciamento do PDT. Tudo isso com um único e claro objetivo: isolar a candidatura de Ciro Gomes.
A estratégia faz parte de um acordo silencioso entre Lula e Temer para conter o avanço do ex-ministro e sua candidatura.
A caminhada de Ciro tem incomodado muito PT e MDB, não apenas pelos ataques àquilo que o pedetista chama de “alianças incoerentes” promovidas por petistas e emedebistas em estados como Alagoas e Amazonas. O cearense tem sido até aqui o pré-candidato com maior consistência de propostas. Uma vitória sua representaria a ascensão de uma grande liderança progressista, dividindo o protagonismo do campo com ex-presidente. O que é inadmissível para Lula.
Lula não quer ninguém ocupando o seu lugar e sabe que se eleito, Ciro, é o único que pode acabar com o reinado petista, já que o que propõe é um Projeto de Desenvolvimento Nacional. Diferente do projeto de poder petista. E é nesse ponto em que se encontra o sentido do veto à candidatura da neta de Miguel Arraes.
Rifar “companheiros” não é novidade no PT.
Em 1998, Vladmir Palmeira, militante histórico, líder da passeata de 1968, encantou a militância petista do Rio de Janeiro, ameaçando o grupo de Brizola. Por determinação de Lula e Zé Dirceu, seu ex-parceiro de lutas, teve a candidatura implodida. Bom para Anthony Garotinho, que acabou vitorioso.
Não se surpreendam se história se repetir em Pernambuco e Armando Monteiro sair vencedor da peleja de outubro.
Lula – que não será candidato coisa nenhuma – está pouco preocupado em unificar o campo progressista ou com o país e seus rumos. Sua preocupação é com a vaidade que sua condição de Totem lhe dá. E é essa mesma vaidade que lhe orienta a desestabilizar o campo progressista e qualquer um que teime em querer crescer.
O episódio de Pernambuco serve ao menos para evidenciar o país o que já era claro para muitos: a democracia interna do PT é uma falácia. Aquelas tendências e os seus incontáveis embates internos são apenas parte da burocracia petista para manter sua militância ocupada e sem questionar o autoritarismo violento imposto pela direção nacional. Não tem força decisória nenhuma. No final das contas, quem manda é Lula (e Dirceu) como todos podem ver com clareza.
Em síntese, o PT pode ser definido como aquele partido que se diz vítima de um GOLPE, mas que não hesita em dar GOLPE quando lhe é conveniente. O que não é dialético… é apenas incoerente.
PS.: Em tempo, deixo minha solidariedade à vereadora Marília Arraes, que mesmo não consolidando sua candidatura sairá gigante deste processo. Espero que deste partido também.
Fonte: Rômulo Halysson Oliveira
Créditos: Rômulo Halysson Oliveira