Bastou alguém ter a coragem de escancarar as nebulosas entranhas do poder e expor possíveis verdades sobre conversações, para lá de suspeitas, entre o então juiz de Curitiba e o procurador da Lava Jato (Sergio Moro e Deltan Dalangnol), – causando as primeiras rachaduras na até então imaculada operação, – para que a tropa de choque do governo federal se antecipasse e todos os membros da corte se apresentassem como possíveis vítimas de invasão de privacidade!
Para entender melhor. Foi preciso se instalar uma intrincada e perigosa trama no Brasil com a finalidade de destruir a democracia e implantar, a partir daí, uma verdadeira rede de agentes rigorosamente treinados para desestabilizar o sistema de governo que se voltara – quase que totalmente – para acabar de vez com as diferenças entre pobres e ricos no país. Para uma sociedade oligárquica onde as supremacias brancas, poderosas e coronelistas sempre se impuseram como dona das vidas do povo mais desafortunado, isso não poderia jamais acontecer! Algo teria de ser feito urgentemente antes que algo, ainda, mais grave pudesse ocorrer – como o desmonte das organizações criminosas centenárias que carcomiam livremente a nação – e, de uma forma inédita, passássemos a ver desfilarem, diante de nós, fileiras de corruptos algemados ou jogados dentro de um camburão da PF! Onde já se viu? Seria, para eles, a inversão dos valores?
De qualquer forma a organização poderosa acabou falhando em alguns pontos estratégicos e por milésimos de segundos não conseguiu totalmente o intento de evitar a derrocada ao derrubar o governo que escancarava as possibilidades de desbaratar a roubalheira! E não preciso aqui ter de provar nada para afirmar que tudo procedeu dessa forma. As delações e vazamentos que vieram a seguir – conversas telefônicas entre Sérgio Machado e o então senador Romero Jucá, não me deixarão mentir. O Brasil e o mundo tomaram conhecimento dessas conversações! Um escândalo atrás do outro no que acabou por arrastar importantes nomes da República para o esgoto de onde jamais deveriam ter saído.
Mas a “rede” demonstrou que é realmente poderosa e sempre construiu estratégias que acabavam livrando a cara de uns! No jogo pelo poder tudo é permitido! Eliminar peças que possam comprometer as perigosas jogadas, faz parte! Eu nem preciso dizer isso, por que o Brasil acompanha tudo pelos principais canais de televisão e jornais como se fosse um pesado enredo de uma grande produção de Hollywood! No entanto o povo continua espremido nesse sanduiche indigesto – de um lado alguém que quer um país descente e do outro gente muito poderosa apenas preocupada em se dar bem – sem conseguir entender o que realmente está acontecendo, ou apenas se deixando engolir por se sentir incompetente para reagir!
A história, volta e meia, chama a nossa atenção e a gente, mesmo assim, não cria vergonha na cara! “O Brasil não é um país sério!” A frase popularmente atribuída a Charles de Gaulle, presidente francês na década de 1960, na verdade não foi dita por ele, mas ficou imortalizada! Segundo Chico Pereira, ativista social, colunista, empresário e funcionário público, o autor da frase é o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho, embaixador do Brasil na França entre 1956 e 1964, genro do presidente Artur Bernardes. Mas a frase foi dita e até hoje pesa sobre os nossos ombros! Infelizmente somos um povo que escolhe mal os seus representantes e que não consegue assimilar muito bem ao que nos impõem! Não entendemos e, por conseguinte, não reagimos!
Os últimos acontecimentos envolvendo as mais altas autoridades do país, deixa bem claro isso. Foi preciso um site de um jornalista estrangeiro para mostrar, a nós e ao mundo, todas as artimanhas elaboradas para o desmonte e a perpetração de enorme injustiça contra o país e seus cidadãos! As denúncias publicadas pelo The Intercept, onde desnuda a farsa expondo diálogos comprometedores entre Moro e Dalangnol, conseguiram, de certa forma, balançar as estruturas do golpe que continua a serpentear pelo país, mas apesar da clareza dos diálogos, ainda enfrenta resistência de quem teima em não acreditar!
“O jornalista Helio Gurovitz, diretor da revista Época, publicou no G1 um artigo chamando atenção “Moro denunciou que seu Telegram fora alvo de uma invasão durante um período de aproximadamente seis horas no dia 4 de junho. Embora tenha começado a publicar as reportagens apenas em 9 de junho, o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, já afirmava ter uma ‘bomba’ em e-mail enviado no dia 29 de maio. Como poderia dizer isso uma semana antes da invasão do Telegram de Moro? Há algo a explicar”. Mas, novamente nos chega a prova inconteste de que o poder é organizado e sempre buscará estratégias de defesa. Os, até então, acusados de crime ao planejarem estratégias para se darem bem, conseguem dar uma virada no placar, quando o jogo parecia já estar perdido e, de réus passam a condição de vítimas!
De acordo com o Jornal Folha de S. Paulo, o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio Noronha, um dos supostos alvos dos hackers presos pela Polícia Federal, afirmou nesta quinta-feira (25) que as mensagens capturadas serão destruídas a pedido do ministro da Justiça Sergio Moro.
“As mensagens serão destruídas, não tem outra saída. Foi isso que me disse o ministro e é isso que tem de ocorrer”, contou Noronha, que recebeu o comunicado do ex-juiz por telefone.
Também, de acordo com a Folha, Marco Aurélio Mello, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), se manifestou sobre a determinação do ministro da Justiça Sergio Moro de destruir as mensagens apreendidas com os hackers, dizendo que “Cabe ao Judiciário decidir isso, e não à Polícia Federal”!
Diz a frase célebre: “Contra fatos, não há argumento”. Mas aqui ela parece não funcionar bem assim! Os senhores poderão acompanhar o meu raciocínio e talvez possam entender do que estou falando. Quando as denúncias foram publicadas, pegaram a República de calças curtas e ficou todo mundo atarantado sem saber o que fazer!
Imediatamente os denunciantes passaram a ser acusados de hackers criminosos e, imediatamente todos os membros do governo passaram a se dizer, também, hackeados! A partir dali criava-se uma estratégia antecipada de defesa em caso de alguém vir a ser denunciado!
E a PF não deu trégua! Mais rápida que um relâmpago descobriu os criminosos e já enjaulou uns quatro! Como seria bom que o crime contra Marielle Franco – assassinada a mais de um ano e até hoje sem solução – tivesse tido a mesma dedicação! Quantos crimes se arrastam até hoje sem uma solução?
No entanto se faz necessária uma análise mais aprofundada de o que realmente acontece no episódio das invasões de privacidade. Invadir celulares, hackear a vida de cidadãos é, sim, crime e precisa de punição! Mas a pergunta que não me deixa calar: a prática de um crime anula a existência do outro? Os hackers ainda não se pronunciaram publicamente e a sociedade está apenas informada de uma versão: a das “vítimas”. E quanto ao que foi denunciado e até admitido pelos implicados nas denúncias (apesar de estes afirmarem em suas defesas que não houve crime nenhum), não tem valor?
O correto é que a justiça precisa cumprir o seu papel, dando o mesmo peso e a mesma medida para todos. Se um crime foi praticado este precisa ser devidamente apurado e julgado como reza a lei, sob pena de essa justiça vir a ser desacreditada pela sociedade! Se queremos tirar de vez o peso da frase atribuída a Charles de Gaulle de que “este não é um país sério”, precisamos corrigir, ainda, muita coisa. Tornarmos o Brasil um país mais justo é uma delas! Só assim o povo voltará a acreditar em suas instituições e poderá, por fim, seguir em frente!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Por Francisco Airton