com ou sem vírgula?

'O Brasil voltou, 20 anos em dois'? Temer tenta imitar JK e vira piada nas redes sociais - por Bernardo Mello Franco

“Se o Temer quiser se comparar a algum governo passado, deveria escolher o governo Collor”, sugere a professora Benevides

Brazilian President Michel Temer gestures during the inauguration ceremony of the new Director General of the Brazilian Federal Police Fernando Segovia at the Ministry of Justice in Brasilia, Brazil, on November 20, 2017.  / AFP PHOTO / EVARISTO SA
Brazilian President Michel Temer gestures during the inauguration ceremony of the new Director General of the Brazilian Federal Police Fernando Segovia at the Ministry of Justice in Brasilia, Brazil, on November 20, 2017. / AFP PHOTO / EVARISTO SA
Michel Temer

Michel Temer vai fazer uma cerimônia para festejar seus dois anos na Presidência. O governo preparou um lema que imita o bordão de Juscelino Kubitschek. “O Brasil voltou, 20 anos em dois”, diziam os convites enviados pelo cerimonial do Planalto.

O slogan nem chegou a ser lançado, mas virou piada na internet. Basta tirar a vírgula e a mensagem vira uma confissão de retrocesso. Em dois anos, Temer fez o Brasil regredir duas décadas, sugeria a propaganda oficial. Com um marketing desses, o presidente não precisa de oposição.

Para quem estudou história, a comparação com os “50 anos em cinco” é mais ofensiva do que a barbeiragem publicitária. “É de um ridículo atroz. Não há nenhum ponto de contato entre os dois governos”, diz a socióloga Maria Victoria Benevides, autora do livro “O Governo Kubitschek — Desenvolvimento Econômico e Estabilidade Política”.

A professora da USP lembra que os anos JK foram marcados por um clima de otimismo. “Foi um período de euforia, desenvolvimento e criação de empregos. Agora o sentimento da população é de desencanto”, avalia.

A estratégia de se comparar com JK não chega a ser original. No passado recente, FHC e Lula também tentaram se associar à imagem do presidente bossa nova. Ao contrário de Temer, os dois chegaram ao poder pela via direta, viveram períodos de alta popularidade e conseguiram se reeleger.

Ontem a nova pesquisa CNT/MDA mostrou que a aprovação do governo continua em míseros 4%. É a metade do pior índice registrado na gestão anterior. Apesar de ter as chaves do cofre, Temer não chega a 1% das intenções de voto. Ele só lidera o ranking de rejeição, com 88%.

Apesar dos números aterradores, o presidente não desiste de fazer propaganda. Na semana passada, ele se expôs a mais um momento constrangedor. Em entrevista ao canal oficial NBR, ouviu de uma suposta telespectadora que está “melhorando a situação dos brasileiros” e que “até o desemprego melhorou”. No mundo real, a taxa aumentou pelo terceiro trimestre seguido.

“Se o Temer quiser se comparar a algum governo passado, deveria escolher o governo Collor”, sugere a professora Benevides. E ela se refere à impopularidade, não aos escândalos de corrupção.

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba