Novo na CMJP, vereador Junio Leandro relembra conquistas como agente de saúde e conta história de quando foi barrado na Casa

Novo nome na Câmara Municipal de João Pessoa, Junio Leandro (PDT) promete não levar esse adjetivo apenas por estar em primeiro mandato, mas também por inovar com ideias. Sem família com ligação política, ele construiu sua trajetória ao lado dos trabalhadores da Saúde, tão importantes e, ainda mais, nesse período de pandemia. Desde 2010, é agente de saúde, concursado pela Prefeitura de João Pessoa, função que exerce com muito orgulho:

“Eu já tinha um amor pelas pessoas mais carentes e quando eu passei nesse processo, parece que foi um casamento, porque durantes as visitas a gente conhece a realidade das famílias, o que eles precisam, as angústias. Quando a gente entra numa casa para visitar como agente de saúde, não leva apenas prevenção e promoção da saúde, a gente leva uma palavra de conforto, conhece e escuta os problemas de cada família. Às vezes, quando eu chegava em casa, eu me sentia impotente com os problemas e não tinha como resolver”, relata o vereador.

Ele se define como um sonhador, que baseia sua luta na busca por justiça social: “Desde que me entendo por gente, venho lutando por justiça social, principalmente nesse país, que eu considero um dos países mais desiguais do mundo, e eu fico muito triste com essa distribuição de renda de forma equivocada onde se prioriza mais as elites.”

Junio Leandro apontou as contradições do país: “Há uma inversão de valores aí. Pessoas construindo riquezas e não tendo a taxação que deveria ter tido, enquanto lá na ponta o povo vem sofrendo cada dia, é IPTU, é gasolina, é o gás aumentando, é a coleta de lixo que tem que pagar, se ele não paga o IPTU num dia, depois ele não pode vender a casa e fica acumulando dívida E a gente vem desde cedo fazendo essa luta pra trazer um pouco de justiça social pra população”.

Preconceito

Uma das ações que ganhou o noticiário foi a proposta de conceder o título de “persona non grata” à artista Carol Konká, participante do reality show Big Brother Brasil, após falas com teor xenofóbico contra a Paraíba e o povo paraibano. Junio Leandro explica que tomou a atitude após saber que a artista viria fazer um show na capital:

“O título de pessoa não grata e esse voto de repúdio que eu dediquei a essa artista veio da seguinte forma: eu estava aqui há alguns dias atrás, quando me deparei com essa situação: uma fala de uma artista, se referindo a uma participante do reality show que é paraibana, de Campina Grande, mas tem residência aqui em João Pessoa. Se referindo dizendo que de onde aquela pessoa veio, no caso João Pessoa, Paraíba, as pessoas não são da forma que ela é, ela é de Curitiba e lá são pessoas mais educadas. Então, ela, em ampla audiência, afirmou que o povo paraibano, o povo da nossa terra já nasce em educação por natureza. E aquilo ali me chocou muito quando eu vi. Mas até então eu tinha deixado pra lá”, conta o vereador.

E completa: “Só que no dia posterior, eu tive notícia que a mesma teria possível show aqui em João Pessoa. Ora, ela faz essa crítica, trata a gente com total xenofobia, explícito em rede nacional, criticou até o sotaque e depois viria aqui a nossa cidade a fazer uma agenda aqui, obter lucro aqui. Então, eu quanto vereador, acho que o vereador também tem que fazer a defesa da população, gastei dez minutos do meu tempo para preparar um título de pessoa não grata e um voto de repúdio pra ela, para que quando ela venha pra cá, ela perceba que aqui o povo paraibano não é da forma que ela pensava”.

Ele ainda lembrou que, na adolescência, enquanto tentava a carreira de jogador de futebol e saía do estado, sofria na pele o que a participante paraibana sofreu: “Muito cedo eu saí da Paraíba, na época que eu praticava esporte, fui jogador de futebol, joguei em categorias de base fora e, de fato, existe esse preconceito com a região da Paraíba e essa xenofobia é velada lá fora. Eles têm nosso estado como uma região de pessoas que que não tem educação, que não tem um certo nível cultural. E o paraibano quando vai lá fora, antigamente sofria muito. Não só isso, como outros outros preconceitos, de cor, de gênero, etc. Hoje, a gente já está desconstruindo isso”.

Barrado na Câmara

Antes de começar o trabalho na Câmara Municipal, Junio Leandro foi responsável por conquistas significantes para sua categoria, o que lhe rendeu alguns ‘inimigos’ dentro da própria Casa do Legislativo municipal. Ele conta que foi barrado por seguranças, inúmeras vezes, quando tentava conseguir diálogo:

“Por diversas vezes, não só na Câmara, como na Secretaria de Saúde, como na própria prefeitura, no gabinete do prefeito (na época Luciano Cartaxo), muitas vezes, eu aqui do lado de fora, tentava entrar e era barrado pelos seguranças. Todos os seguranças aqui da Casa me conhecem. Quando eu ganhei a eleição, fiz uma postagem nas minhas redes sociais em que eu disse: ‘É, eu acho que agora os seguranças da Câmara vão me deixar entrar’. Hoje eu tenho esse privilégio e a confiança de entrar pela porta da frente”, contou, com bom humor.

E a luta valeu a pena, já que a categoria conseguiu gratificações, liberação do FGTS que estava retido, o repasse do EPI e a mudança do horário das atividades de campo, além disso, finalmente os agentes de saúde se tornaram estatutários no município. ou seja, passaram a ter estabilidade e aposentadoria garantida:

“Quando começou essa luta, a categoria estava desinformada das leis, dos recursos que vinham. Brasília mandava recurso para os trabalhadores e os trabalhadores preocupados em exercer sua função, não percebiam que o recurso vinha e a gestão não repassava”, diz Junio Leandro.

A partir daí, suas ideias começaram a encontrar apoio: “Então, eu comecei me atentar a isso, fui galgando, procurando os trabalhadores e as trabalhadoras, marquei uma reunião e depois fiz o trabalho de desconstrução e construí na mente dessas pessoas que através da luta era o caminho mais curto para essas vitórias. Em cima disso, a gente foi construindo e conseguindo a confiança de muitos colegas”, relata.