No auge das discussões sobre a abertura de um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, seu vice, Michel Temer (PMDB), teve um encontro reservado com o principal nome da oposição no país, o senador Aécio Neves (PSDB-MG).
A reunião entre o peemedebista e o presidente nacional do PSDB foi mantida em sigilo por ambas as partes. Ela aconteceu entre setembro e outubro na casa de um aliado de Temer, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos nomes do PMDB com maior trânsito na oposição.
Procurada pela Folha, a assessoria de Temer disse que não comentaria encontros do vice. Já Aécio Neves disse que não iria confirmar a reunião.
A conversa entre Temer e Aécio foi a última investida do peemedebista no PSDB. Antes, o vice já havia conversado com outros nomes importantes da oposição, como Agripino Maia (DEM-RN) e os tucanos José Serra (SP) e Tasso Jereissati (CE).
Na época, o vice e seus aliados sondavam a possibilidade de amarrar a oposição a um governo de união nacional, caso Dilma fosse afastada. Aécio resistia a uma conversa cara a cara com Temer por receio de que, por ser presidente tucano, o encontro soasse como institucional.
Na conversa com Temer, segundo a reportagem apurou com aliados de ambos, o tucano disse que o PSDB não carregaria o impeachment nas costas sem que antes o PMDB, unido, desembarcasse do governo Dilma.
Temer ressaltou os problemas do país e disse que só seria possível superar a crise com a “união nacional”, mas não conseguiu unir o próprio partido em torno seu nome.
O vice se tornou alvo do tiroteio interno capitaneado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Hoje, Temer e aliados reconhecem que o debate sobre o impeachment arrefeceu, mas trabalham para pacificar o PMDB e sacramentar a liderança de Temer com a reeleição do vice ao comando da sigla, em março.
A incapacidade de Temer de, já no ano passado, unir todo o PMDB em torno de seu projeto motivou Aécio a rapidamente desembarcar da tese do impeachment.
Na avaliação dos tucanos, o PMDB “perdeu oportunidade” ao escolher ficar no governo. Romper com Dilma no fim de 2015, quando as discussões sobre o afastamento da petista estavam no ápice, teria, admitem hoje aliados de Aécio, obrigado o PSDB a ajudar uma gestão Temer.
Haveria divisão na sigla: Serra defendeu a ocupação de cargos em eventual gestão do PMDB, enquanto grupos de Aécio e do governador Geraldo Alckmin (SP) entediam que o ideal seria apenas apoiar projetos importantes do governo no Congresso.
Com a avaliação de que o impeachment perdeu força, Temer se distanciou da oposição. PMDB e PSDB dizem que o governo usou a crise para propagar o discurso de que tucanos e peemedebistas também são alvo de acusações de corrupção.
A operação parece ter funcionado. Pesquisas internas do PSDB mostram que o eleitor não identifica uma mudança no padrão moral do governo quando o PT é substituído pelo PMDB e que isso desencoraja a adesão ao impeachment.
Fonte: Folha de S. Paulo