A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, divergiu nesta quinta-feira (23) do ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou em Davos que “as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer”. “As pessoas não precisam desmatar para comer, você pode aumentar a produtividade por área, essa é uma das vantagens comparativas do Brasil”, disse a ministra em Delhi, ao ser questionada pela Folha.
Tereza faz parte da comitiva do presidente Jair Bolsonaro na visita à Índia e participou de conferência na manhã de quinta-feira (22).
Tereza acaba de participar do Fórum Global para Alimentação e Agricultura, em Berlim, onde foi muito questionada por europeus e tentou passar uma mensagem que é exatamente o oposto da fala de Guedes.
No fórum, a ministra ressaltou que apenas 2,3% do território da Amazônia são usados para produção agrícola e 10,5% para pecuária, e disse que agricultura não pode ser apontada como a vilã dos problemas ambientais.
“As pessoas estão surdas em relação ao Brasil; existe uma opinião formada de que a gente queima, então mesmo a gente mostrando números, muitas vezes não somos ouvidos. O Brasil tem problemas, mas não é essa calamidade toda”, disse a ministra, que foi questionada diversas vezes durante sua participação no Fórum Global de Alimentos e Agricultura.
“Na Europa, existe uma má vontade com o Brasil , o Brasil é a bola da vez, como se a gente não fizesse nada certo, o que não é verdade”, disse. “Essa imagem tem interesses, é o medo que agricultores de muitos países da Europa têm do Brasil, que aumentou com o acordo EU Mercosul.”
Ela citou o fato de o governo ter acionado o exército para combater os incêndios na Amazônia e a criação da Força Nacional Ambiental como demonstrações de que o governo brasileiro está comprometido com a proteção do meio ambiente.
O primeiro ano do governo Jair Bolsonaro foi marcado por críticas da comunidade internacional sobre a forma como o país lida com os temas ambientais, especialmente o episódio das queimadas na Amazônia.
A fala de Guedes no Fórum Econômico Mundial em Davos, cujo tema central este ano era o meio ambiente, foi muito criticada.
Segundo Tereza, talvez Guedes estivesse se referindo aos migrantes que foram para a região nos anos 70 e 80, motivados por programas governamentais. A grande maioria são pequenos produtores rurais assentados, que não têm título, nem crédito, e precisam de recursos.
Na índia, um dos principais objetivos é assinar um acordo de cooperação para produção e uso do etanol no mercado indiano. O Brasil quer que mais países passem a produzir etanol, para que o produto se torne uma commodity, ampliando o mercado. Além disso, produzir etanol seria uma maneira de reduzir a grande produção de açúcar na Índia, que, sustentada por subsídios governamentais, vem deprimindo os preços mundiais do açúcar e é alvo de contencioso do Brasil na Organização Mundial de Comércio.
Para a Índia, que importa 84% do petróleo que consome e comprava muito do Irã e Venezuela, atualmente sob sanções, seria uma forma de reduzir dependência de combustíveis fósseis.
O governo brasileiro também negocia uma redução de tarifas sobre o frango —hoje a Índia cobra sobretaxa de 30% sobre frango inteiro e 100% frango em pedaços, e sobre suínos, que tem sobretaxa de 27%. Além disso, deve ser assinado um acordo para intercâmbio de material genético —embriões e sêmen— de gado leiteiro.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Patrícia Campos Mello