Entrevista

Na TV, Cunha se diz "perseguido" e que impeachment "não foi por vingança"

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O programa “Mariana Godoy Entrevista” desta sexta-feira (20) recebeu o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para uma conversa sobre as denúncias contra o seu nome e sobre o afastamento da presidente Dilma Rousseff.

O deputado disse que não se considera milionário, mas que “se você considerar que R$ 1 milhão [em impostos declarados] é milionário, então, por essa ótica, eu sou”. Sobre estes gastos serem incompatíveis com seu cargo, Cunha explicou: “Há 30 anos eu exercia uma atividade de comércio exterior (…) Eu fiz renda e negócios fora do Brasil. Eu tenho dois passaportes da década de 80 e 90 com mais de 60 entradas em países africanos em pouquíssimo tempo”.

“Nunca estive em Benin na minha vida”, afirmou o deputado sobre a suposta aquisição de um campo de petróleo no país. Cunha é acusado de ter recebido $ 5 milhões em propina para facilitar a compra. O presidente afastado da Câmara disse que conheceu “eventualmente” o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada, que fez delação contra ele.

Sobre sua suposta “influência” nas decisões do presidente interino Michel Temer, Cunha se defendeu: “Esse é um tipo de ilação que a gente vê falar (…) Michel Temer é o presidente nacional do meu partido (…) A equipe que está lá, nós temos convivência há muitos anos, então é natural que eu conheça as pessoas que foram nomeadas, o que não quer dizer que eu as nomeei”. “Essa história de que o André Moura foi indicado por mim é outra fantasia”, explicou o peemedebista. “Todos os líderes têm convivência muito constante comigo, então, eventualmente, se algum desses líderes virar chefe no governo, vão falar que sou eu quem indiquei”, concluiu.

Cunha disse que prefere não comentar as escolhas de Temer: “Eu não gosto interferir e nem costumo comentar [as decisões]”.

Falando sobre a possibilidade de renúncia do atual presidente da Câmara, Waldir Maranhão, Cunha disse que então haverá eleição para primeiro vice da Casa: “O meu cargo não está vago, estou afastado, então não está vago”. O deputado também disse que Maranhão “foi cooptado para fazer aquilo [anular a votação do impeachment na Câmara], com a participação da Dilma, o ministro Eduardo Cardozo, o governador do Maranhão[Flávio Dino] e a partir daí ele tomou esta decisão equivocada”. “O preço político que estou pagando é pela condução do processo de impeachment”, afirmou.

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Cunha disse que se sente perseguido: “Não há dúvidas que as coisas que acontecem comigo acontecem com seletividade”.

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O deputado disse que o STF votou por “decisão liminar” o seu afastamento, e disse que irá recorrer: “Não serão necessariamente os mesmos fatos que você vai trazer”. Cunha disse que a fala de que iria voltar à Câmara na segunda-feira foi mais um “modo de dizer”: “Eu posso ir à Câmara (…) Fiz uma simbologia, mas obviamente que segunda eu não vou lá”.

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O repórter Mauro Tagliaferri perguntou sobre a justificativa de uma secretária de que Cunha declararia seu patrimônio por negócios imobiliários e da bolsa de valores, não citando os negócios de comércio exterior, e Cunha respondeu: “Eu não concordo com o conteúdo, eu não sou responsável pelo conteúdo e não posso responder pelo que os outros escrevem de mim”.

Questionado por Mariana se não acredita na mídia, Cunha refutou: “uma das minhas grandes bandeiras na Câmara foi a liberdade de imprensa”. O peemedebista também contestou as acusações de que teria constrangido e confrontado uma advogada: “no depoimento ela disse que não foi ameaçada”.

Cunha afirmou que “o Conselho de Ética virou um grande palco” para parlamentares “que não têm nenhum tipo de acesso aos holofotes”: “Eles cometem erros propositais, que sabem que serão corrigidos posteriormente e farão o processo demorar mais do que deve demorar, para ficar sob os holofotes”. “Se eu vou perder ou ganhar, isso é uma coisa do processo, mas deve-se ter o devido meio legal”, afirmou.

Sobre o tuíte “antes tarde do que nunca”, Cunha disse que o recado foi “explicitamente” direcionado para a presidente Dilma. Cunha disse que Dilma fez tudo para evitar sua entrada na presidência da Câmara e disse que os erros políticos de Dilma causaram seu afastamento. Já sobre o início do processo de impeachment, dias depois de o PT afirmar que não o apoiaria no Conselho de Ética, Cunha se explicou: “O fiz naquele momento pois naquele momento iria ter a votação da mudança de meta para 2015 que estava no Congresso. Achei que tinha que ser antes daquela votação para não ter desculpa de que a votação do Congresso teria superado. E mais uma coisa: há mais de 15 dias já estava assinado. Eu disse: ‘se acontecer alguma coisa, publique’, pois estava recebendo muitas ameaças (…) Ofertas vieram deles [PT], vieram várias”.

Cunha negou que tivesse recebido ofertas envolvendo o Supremo Tribunal Federal, mas disse que Dilma “insinuou” que teria cinco ministros sob controle: “mas considerei aquilo uma bravata”. O deputado disse que recebeu “oferta” também do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, “como emissário da presidente”.

Chamado de “capitão do golpe” por Ciro Gomes em sua participação no “Mariana Godoy Entrevista”, Cunha rebateu: “pode ser que tenha havido um golpe no Brasil, mas foi um golpe de sorte. A gente conseguiu se livrar de Dilma e do PT de uma vez só”.

Questionado por Mauro se teria usado questão pessoal contra o governo, Cunha disse que “discorda totalmente desta ‘história’ de pauta-bomba”. O deputado afirmou que já defendia a saída do PMDB do Governo Dilma seis meses antes da decisão ter sido tomada.

Ainda na entrevista, Cunha revelou que não teria “nenhum problema” em passar por uma “máquina da verdade”. Mariana então o definiu como “o homem de gelo, um cara impassível”. Sobre a comparação com o desenho “Meu Malvado Favorito”, Cunha disse que “desconhece qualquer coisa a respeito do desenho”, mas que “acha que a imaginação das pessoas, que buscam esse tipo de referência, a gente deixa isso para o imaginário das pessoas, a gente acha engraçado”. O deputado ainda rejeitou a comparação com seriado “House of Cards”.

“Poder é uma coisas que a pessoas têm em imaginário pelo sucesso daquilo que você faz”, definiu o peemedebista. Cunha afirmou que, em conjunto com o PMDB, decidiu pela indicação do ex-prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, “pois o Rio de Janeiro precisava desta projeção”.

Cunha afirmou que “não tem nenhum medo” de sua prisão nem de sua esposa e filha, “pois ninguém praticou atos ilegais”.

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O deputado disse que achou estranho o desmembramento do processo, atitude que considera “seletiva”: “Temos condições de nos defender com relativa tranquilidade”.

“Acho que o Congresso atua, em várias formas, neste sentido [contra a corrupção] (…) Não há dúvida de que este ambiente de corrupção, praticado pelo partido que estava no governo, deve ter motivado os parlamentares a favor do impeachment”, definiu o deputado.

Sobre as denúncias de conta na Suíça, Cunha disse: “Não tenho que comentar o que o Ministério da Suíça diz, o acusador fala aqui o que acha que faz sentido na acusação”. O deputado disse que “conhece diversas cidades na Suíça” mas que “nunca foi a uma estação de esqui” em sua vida. “Eu não neguei que houve patrimônio, a discussão é outra: a frase que eu utilizei na Comissão Parlamentar, onde disse que eu não tinha conta, que não tinha declarado no imposto de renda. Então a minha cassação seria porque que eu menti no meu depoimento, e eu estou dizendo tudo isso pois eu não menti (…) O que você não pode discutir é que a minha frase é mentirosa”. Cunha disse que todas as suas declarações “já estão abertas”.

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O deputado falou sobre a repercussão dessas declarações e acusações dentro de sua própria casa: “é óbvio que a minha família sofre com o que está acontecendo (…) Muito mais do que isso a família sente a maldade das pessoas, a maldade das acusações”.

Cunha não “jurou por Deus” que não está envolvido em corrupção pois “não precisa fazer esse tipo de falsidade para atender a demanda de alguém”.

“Tenho a sensação que cumpri o meu papel”, concluiu Cunha sobre Impeachment. O deputado afastado garante que aceitou o pedido quando julgou que havia “justa causa” e reforçou sua afirmação: “Eu cumpri o meu papel com correção”.

Sobre as críticas recebidas pelo governo interino de Michel Temer, Cunha atenuou os erros: “É um governo que foi feito de improviso”. Ele ainda enfatizou: “A CPMF não passa de jeito nenhum”.

Sobre a convocação de novas eleições, Eduardo Cunha se mostrou muito incomodado: “É inconstitucional. Quem fala isso está enganando a população. Isso é o verdadeiro golpe”.

Fonte: Mariana Godoy Entrevista
Créditos: Notícias ao Minuto