O deputado federal paraibano Hugo Motta (Republicanos), que deverá ser ungido presidente da Câmara dos Deputados na tarde do próximo sábado, vive uma situação confortável por força da aliança montada em torno do seu nome e que alcança bancadas que já asseguram 495 votos dos 513, sendo que bastam 257 sufrágios para a vitória.
Líder do Republicanos na Casa, Hugo Motta sucederá no posto ao deputado Arthur Lira, do PP-AL, que conseguiu o feito de administrar a Câmara em duas gestões presidenciais – a de Jair Bolsonaro (PL) e a de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, aliás, apoiam a candidatura do paraibano.
Motta ganhou musculatura após o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, desistir da postulação para emplacar um nome com menos resistência.
Arthur Lira está há quatro anos como comandante da Casa Baixa e obteve ampla maioria em 2023, conquistando 464 votos e derrotando Chico Alencar, que teve 21 votos, e Marcel van Hattem, que conseguiu apenas 19 sufrágios.
Em 2021, Arthur Lira foi eleito com 302 contra 145 de Baleia Rossi, 21 de Fábio Ramalho, 16 de Luiza Erundina, 2 de Kim Kataguiri e 1 do General Peternelli. No histórico das eleições recentes da Câmara Federal, Rodrigo Maia elegeu-se em 2016, com 285 votos contra 170 de Rogério Rosso, em 2017 com 293 votos, derrotando Jovair Arantes, André Figueiredo, Júlio Delgado, Luíza Erundina e Jair Bolsonaro, e em 2019 com 334 votos, derrotando Fábio Ramalho, Marcelo Freixo, Marcel van Hattem, com 23, General Peternelli com 2, JHC com 30 e Ricardo Barros, com 4.
Em 2015, o eleito foi Eduardo Cunha, com 267 votos. Ele é uma espécie de padrinho político de Hugo Motta, que, inclusive, recebeu a filha de Cunha na sua residência na cidade de Patos, no sertão paraibano.
Eduardo Cunha deu partida ao processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), acusada, no seu segundo mandato, da prática de “pedaladas fiscais”, e prestigiou Hugo Motta na liderança de comissões importantes da Câmara Federal. Numa entrevista a este repórter, Hugo Motta confessou sua gratidão a Eduardo Cunha, “que me abriu portas em Brasília quando eu estava estreando na Câmara dos Deputados”.
Na época, Hugo Motta era apontado pela mídia sulista como expoente do “baixo clero” e, depois, foi rotulado como representante do “Centrão”, um bloco tido como fisiológico e conservador. No livro “Tchau, Querida – O Diário do Impeachment”, Eduardo Cunha descreve em detalhes a odisseia da movimentação que degolou a ex-presidente da República, primeira mulher a ascender ao Palácio do Planalto.
O próprio Lula queixava-se, entre amigos, da “falta de habilidade política” de Dilma, que não privilegiava parlamentares nas suas agendas em Brasília, o que criou antipatias dentro do Congresso.
Já o deputado Arthur Lira é tido como “cacique político experiente” das Alagoas, onde é implacável com os adversários, segundo eles. Lira, não obstante as tentativas de desgastá-lo, evitou pautar o impeachment de Jair Bolsonaro, engavetando pelo menos uma centena de pedidos nessa direção.
Apoiou a candidatura de Bolsonaro à reeleição (derrotada) mas foi hábil e decisivo para facilitar o início do terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destravando medidas como a PEC da Transição e, no campo eminentemente econômico, o projeto do arcabouço fiscal e a reforma tributária, que foi relatada pelo deputado paraibano Aguinaldo Ribeiro, do Progressistas.
Lira também agilizou outras matérias de interesse do presidente Lula com vistas a assegurar a governabilidade. No dia três de fevereiro o político alagoano deixa o cargo após quatro anos de mandato e ao ser homenageado com antecedência em sessão realizada em dezembro disse que não estava encerrando nenhum ciclo.
– Nós sempre nos renovamos. Podemos voltar para onde eu sempre gostei de atuar, que é no chão da fábrica, como eu sempre chamo, sem nenhum tipo de problema, como qualquer outra situação. Então, vamos vivendo sem planejar e sem criar expectativas. É a maneira do nordestino, viver feliz. É sem criar expectativas, matando um leão por dia. Ruim é quando temos que matar o mesmo leão todo dia, mas até isso fazemos – desabafou.
Na ocasião, Hugo Motta elogiou a atuação de Lira à frente da Mesa Diretora, pontuando:
“Foram muitas conquistas, foram muitas matérias aprovadas, matérias importantes que ajudaram no crescimento econômico da nossa nação, matérias importantes no âmbito social, a reforma tributária, ou seja, deixamos um legado realmente de exemplo para a nossa Casa”.
Arthur Lira, cujo pai, Benedito Lira, faleceu recentemente, é cogitado para ocupar um ministério no governo do presidente Lula e, igualmente, apontado como alternativa para candidatar-se ao governo de Alagoas, seu reduto e berço político.
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba