Equívoco

Moro faz considerações historicamente erradas sobre Watergate - Por Leonardo Avritzer

Brasília- DF 09-09-2015 Foto Lula Marques/Agência PT    Juiz, Sergio Moro na ccj do senado.
Brasília- DF 09-09-2015 Foto Lula Marques/Agência PT Juiz, Sergio Moro na ccj do senado.

Um dos efeitos mais deletérios e humilhantes da operação Lava Jato é o de mostrar como é ruim o conhecimento de história das nossa elites políticas. Depois de escrever absurdos sobre o sistema político italiano pós operações Mãos Limpas, o juiz Moro faz algumas considerações historicamente erradas sobre Watergate. A primeira coisa a ser esclarecida. Não houve vazamento de gravações em Watergate. As gravações no caso foram feitas pelo próprio Nixon. A justiça federal nos Estados Unidos, através do procurador Archbald Cox, requisitou de forma legal as fitas. O juiz Federal John Sirica liberou as fitas para corroborar alguns testemunhos dados por testemunhas na investigação. As fitas não foram divulgadas para a opinião pública na época. Elas apenas foram divulgadas publicamente há alguns anos pela biblioteca presidencial do Nixon. Abaixo o verbete da wikipedia em inglês, já que a parte sobre as fitas não consta do verbete em português. Se alguém pudesse entregar para o Moro melhoraria o nível da Lava Jato, pelo menos o conhecimento de história deles.

Transcrição do caso Watergate

The Nixon White House tapes are audio recordings of the communications of U.S. President Richard Nixon and various Nixon administration officials and White House staff, ordered by the President for personal records.

The taping system was installed in selected rooms in the White House in February 1971 and was voice activated. The records come from line-taps placed on the telephones and small concealed microphones in various locations around the rooms. The recordings were produced on up to nine Sony TC-800B open-reel tape recorders. The recorders were turned off on July 18, 1973, two days after they became public knowledge as a result of the Watergate hearings.

Nixon was not the first president to record his White House conversations; the practice began with President Franklin D. Roosevelt and continued under Presidents Harry S. Truman, Dwight D. Eisenhower, John F. Kennedy, and Lyndon B. Johnson. It also continued under Presidents Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Reagan, George H. W. Bush, Bill Clinton, George W. Bush, and Barack Obama. What differentiated the Nixon system from the others, however, is the fact that the Nixon system was automatically activated by voice as opposed to being manually activated by a switch. The Watergate tapes are interspersed among the Nixon White House tapes. The tapes gained fame during the Watergate scandal of 1973 and 1974 when the system was made public during the televised testimony of White House aide Alexander Butterfield. Only a few White House employees had ever been aware that this system existed. Special Counsel Archibald Cox, a former United States Solicitor General under President John F. Kennedy, asked District Court Judge John Sirica to subpoena eight relevant tapes to confirm the testimony of White House Counsel John Dean.

Por que o caso Watergate foi citado pelo juiz Sérgio Moro?

O juiz federal Sérgio Moro citou nesta quinta (17), em despacho, o caso Watergate para justificar o uso do grampo de ligação telefônica entre a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A conversa teria sido gravada ontem (16), após o anúncio de Lula como ministro-chefe da Casa Civil e da decisão do juiz de determinar a paralisação das escutas pela Polícia Federal, porque o ex-presidente passaria a ter foro privilegiado.

O caso Watergate, que levou à renúncia do então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, em 1974, foi citado para justificar que o presidente da República não tem garantia absoluta da privacidade de suas ligações. “Nem mesmo o supremo mandatário da República tem um privilégio absoluto no resguardo de suas comunicações, aqui colhidas apenas fortuitamente, podendo ser citado o conhecido precedente da Suprema Corte norte-americana em US v. Nixon, 1974, ainda um exemplo a ser seguido”, afirmou Moro.

Além disso, Moro esclareceu que ele não monitorou as ligações de Dilma, que tem foro por prerrogativa de função e não pode ser monitorada pela primeira instância da Justiça. “A circunstância do diálogo ter por interlocutor autoridade com foro privilegiado não altera o quadro, pois o interceptado era o investigado [Lula] e não a autoridade, sendo a comunicação interceptada fortuitamente.”

Entenda o caso Watergate

O jornal Washington Post noticiou, em 18 de junho de 1972, um assalto à sede do Comitê Nacional Democrata, na véspera, na capital norte-americana, Washington. Cinco pessoas foram flagradas tentando fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta no escritório do partido.

Os repórteres Bob Woodward e Carls Bernstein continuaram investigando o assalto nos meses seguintes e conseguiram constatar ligações da Casa Branca — a sede do governo americano — ao assalto. Uma pessoa, conhecida apenas como “Garganta Profunda˜, havia informado que o então presidente Richard Nixon, do Partido Republicano, tinha conhecimento das operações.

Nixon foi eleito presidente pela primeira vez em 1968 e, na ocasião do assalto, disputava a presidência dos Estados Unidos com o senador democrata George McGovern. Nixon foi o terceiro presidente a ter que lidar com a Guerra do Vietnã, e mesmo com o desgaste político de manter uma guerra tão longa, venceu em 48 dos 50 estados. McGovern venceu em Massachussets e em Washington.

Nas investigações que se seguiram ao assalto, foram levantadas evidências de que um dos invasores tinha sido contratado e remunerado pelo comitê de campanha de Nixon . Em comissão de investigação no Senado, algumas fitas gravadas puderam comprovar que o presidente Nixon tinha conhecimento dos atos de espionagem do Partido Republicano contra seu adversário. Em 9 de agosto de 1974, Nixon renunciou à presidência. Seu vice, Gerald Ford, o substituiu e lhe deu uma anistia, perdoando as responsabilidades legais pelo fato.

A identidade de “Garganta Profunda” se tornou conhecida em 2005, quando o ex-vicepresidente do FBI  (Agência Federal de Investigação, em português), William Mark Felt,  revelou ser a fonte. A informação foi confirmada pelos repórteres que investigaram o caso.

Bob Woodward e Carls Bernstein escreveram um livro sobre o caso, chamado de “Todos Os Homens do Presidente”, que virou filme dois anos depois, sob a direção de Alan J. Pakula.

Fonte: Jornal CGN com EBC
Créditos: Leonardo Avritzer