Em entrevista coletiva à imprensa nesta sexta-feira (21), o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que os policiais legislativos presos durante a Operação Métis “em tese extrapolaram o que seria de sua competência”.
Os policiais do Senado são investigados por fazerem varreduras anti-grampo telefônico e ambiental em endereços diversos fora do Senado e com o suposto propósito de dificultar investigações da Operação Lava Jato.
O ministro disse que “as investigações levaram à conclusão de que alguns servidores realizaram uma série de atividades direcionadas à obstrução da Justiça”.
Em resposta a uma nota divulgada pelo Senado que falou em “independência dos Poderes” e “limite de atribuições legais”, o ministro afirmou que “exatamente por isso a PF realizou a operação com base em mandados judiciais”. “Esses mandados foram determinados pelo Judiciário a partir de investigação que demonstrou várias condutas, várias atividades, dessas quatro pessoas presas temporariamente com desvio de finalidade.”
O ministro lembrou que a investigação começou a partir de membros da própria Polícia do Senado para dizer que “não há disputa entre Polícia Federal e Polícia do Senado”.
O diretor-geral da PF (Polícia Federal), Leandro Daiello, disse que não se trata de uma ação contra o Senado. “Estamos falando da Polícia do Senado. É uma operação focada em possível desvio das atividades da Polícia do Senado”, afirmou o delegado. Ele disse que as buscas foram feitas nas dependências do Senado a partir de ordem judicial e “com muita cautela”.
“É óbvio que nós respeitamos o poder do Senado, o Poder Legislativo, nós fizemos com muita cautela, na hora certa foram comunicadas a Mesa e a Presidência de que estava acontecendo o procedimento, de modo a não trazer nenhum risco [à investigação].”
Daiello também negou que exista rivalidade entre PF e Polícia do Senado.
As declarações de Daiello e Moraes foram concedidas após o anúncio da inauguração do E-pol (Sistema de Gestão da Atividade de Polícia Judiciária), um novo sistema de inquérito policial eletrônico desenvolvido pela PF, na área da Corregedoria-Geral, em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (PB). O sistema funciona como um grande banco de dados que cruza informações sobre pessoas e empresas.
O corregedor-geral da PF, Roberto Mario da Cunha Cordeiro, que considera o E-pol “revolucionário”, disse que a expectativa da PF é de que num prazo de dois anos os inquéritos sejam desenvolvidos inteiramente em sistema digital, reduzindo a quase zero a impressão de papéis. De acordo com Daiello, o E-pol “é um sistema complexo que vai simplificar as investigações”. Com o novo sistema, é possível acessar em tempo real as diversas bases de dados ao alcance da PF, como registros de mandados de prisão, de passaportes e viagens internacionais, entre outros.
Segundo o ministro da Justiça, a PF abre anualmente cerca de 70 mil inquéritos, que geram a impressão de cerca de 14 milhões de folhas de papel. De acordo com Alexandre de Moraes, o E-pol “é um grande cérebro, um banco de dados inteligente que vai cruzar informações”.
Fonte: Folha de S. Paulo