mansão em Brasília

Ministério Público investiga empréstimo de banco a Flávio Bolsonaro para compra de mansão

A casa no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, bairro nobre da capital federal, foi adquirida pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro em janeiro deste ano.

Ministério Público investiga empréstimo de banco a Flávio Bolsonaro para compra de mansão

O MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios) abriu um procedimento para investigar a concessão de um empréstimo de um banco público ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para a compra de uma mansão em Brasília.

A casa no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, bairro nobre da capital federal, foi adquirida pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro em janeiro deste ano.

O BRB, instituição ligada ao governo do Distrito Federal, financiou R$ 3,1 milhões. O imóvel de 1.100 m² de área construída, em um terreno de 2.500 m², custou R$ 6 milhões.

O caso será investigado pela Prodep (Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social). O objetivo é saber se o empréstimo foi feito fora das condições normais do banco para qualquer pessoa.

Procurada, a assessoria de Flávio não se manifestou até a publicação desta reportagem.

O senador conseguiu uma taxa reduzida junto ao banco, de 3,65%. Para isso, precisou fazer a portabilidade de salário para o BRB e contratar produtos como cheque especial e cartão de crédito.

A taxa efetiva, após acréscimo de encargos, é de 3,71%. Caso ele desista dos produtos financeiros da instituição no meio do contrato, ele precisará pagar a “taxa de balcão”, que é de 4,75%, disponível para quem não é cliente do banco.

Segundo o contrato de compra e venda, ao qual a Folha teve acesso, a prestação assumida pelo parlamentar e por sua mulher, a dentista Fernanda Bolsonaro, foi de R$ 18.744,16 por mês.

Com base na escritura do imóvel, o valor compromete 50% da renda do casal. Juntos, segundo o documento, eles têm renda líquida de R$ 36.957,68. Flávio declarou ganhar R$ 28.307,68 e sua mulher, R$ 8.650.

Os valores somados são menores que o mínimo exigido pelo BRB para a contratação de financiamento nessas condições. Segundo simulador disponível no site da instituição, nessa linha, o tomador precisaria ganhar pelo menos R$ 46.401,25.

O prazo de financiamento do imóvel é de 360 meses —30 anos. O contrato foi registrado em Brazlândia (a 45 km de Brasília).

A mansão no Lago Sul é o 20º imóvel que Flávio adquire em um intervalo de 16 anos —considerando um andar com 12 salas comerciais de que foi proprietário.

O procedimento foi aberto no MPDFT no dia 18 de março, após o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) entrar com uma representação na ouvidoria do órgão.

De acordo com o MPDFT, no momento, a promotoria ainda está reunindo informações sobre o caso. A situação patrimonial do senador não será objeto de análise neste procedimento, já que seria uma atribuição do MPF (Ministério Público Federal).

Na denúncia oferecida contra o senador no caso das “rachadinhas”, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) apontou que as operações de compra e venda de dois imóveis por Flávio foram usadas para lavagem de dinheiro.

Em nota, o BRB afirmou que as taxas de juros de seus produtos “estão disponíveis a todos os seus clientes, conforme análise de risco de crédito”.

“O financiamento mencionado pela reportagem diz respeito a uma operação de crédito tradicional do BRB, cujas condições são disponibilizadas a todos os seus clientes. Conforme já divulgado pela imprensa, 87% dos clientes que contrataram operação semelhante tiveram acesso a taxas inferiores à praticada”, disse.

O banco acrescentou que a concessão de qualquer operação de crédito “segue padrões e normas bancárias e se fundamenta em documentos e informações fornecidos pelos clientes e/ou em informações de mercado disponíveis sobre os clientes”.

“Todas as operações de crédito imobiliário no banco são submetidas a avaliação e consideram renda individual ou composição de renda, seguindo práticas do mercado bancário brasileiro”, disse.

Em nota divulgada à imprensa no dia 2 de março, Flávio disse que usou recursos da venda de um imóvel no Rio de Janeiro para comprar a casa. Ele negou qualquer ilicitude no negócio.

“Tudo registrado em escritura pública”, afirmou nota divulgada pela assessoria de imprensa do parlamentar. “Qualquer coisa além disso é pura especulação ou desinformação por parte de alguns veículos de comunicação.”

 

Fonte: Folha de S.Paulo
Créditos: Folha de S.Paulo