Muitos dos nomes são novos na política. Mas os sobrenomes nem tanto. O presidente Jair Bolsonaro pode ter inovado ao não pedir aos partidos a indicação de ministros, mas em ao menos um ponto o seu ministério repete os anteriores: o peso da tradição familiar fala alto.
Levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), publicado com exclusividade pelo Congresso em Foco, mostra que pelo menos metade dos 22 novos auxiliares diretos do presidente procedem de famílias de políticos ou militares.
São filhos, netos e sobrinhos de oficiais, parlamentares, ex-governadores, entre outras autoridades. Há, ainda, representantes de famílias com forte presença no Judiciário, na diplomacia e na elite empresarial (veja mais abaixo a “árvore genealógica” dos ministros).
“O antigo e o arcaico prosseguem no Brasil quando se deveria aparentemente renovar. É a continuidade do antigo regime. São famílias que já estavam no poder há 50 ou mais de 100 anos, tanto no meio empresarial, no agroindustrial, na burocracia, na elite política, militar ou da magistratura”, observa o cientista político e social Ricardo Costa Oliveira, professor da UFPR responsável pela pesquisa e principal referência no estudo sobre a genealogia do poder no país. “A política é um negócio de família no Brasil”, resume.
Entre os seis ministros de origem militar, quatro descendem de oficiais da polícia ou das Forças Armadas, assim como o vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Os cinco parlamentares que se afastaram do Congresso para ser empossados vêm de famílias com tradição política.
“A maioria do ministério tem fortes vínculos familiares de grande importância social e política. Poucos são novos emergentes. De origem popular mesmo, só a pastora Damares Alves [ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos]. Há uma reprodução do poder tradicional muito intensa no Brasil”, explica Ricardo Oliveira. “Há uma mentalidade política, uma tradição militar que são herdadas da família, dos pais, dos valores, das visões de mundo deles”, considera.
Clã Bolsonaro
O modelo continua se reproduzindo. Filho de uma dona de casa e de um dentista prático, o novo presidente inaugurou o seu próprio clã político, com os filhos Carlos, vereador no Rio, Flávio, deputado estadual e senador eleito, e Eduardo, reeleito deputado federal com a maior votação da história da Câmara.
Aos 20 anos, o quarto filho, Renan, também tem demonstrado gosto pela política. “Tá no sangue dele”, disse à Folha de S.Paulo Ana Cristina Valle, mãe do estudante de Direito e segunda esposa de Bolsonaro. Primeira esposa do presidente e mãe de Flávio, Carlos e Eduardo, Rogéria Nantes foi vereadora no Rio. Mesmo separada há anos de Bolsonaro, Ana Cristina usou o sobrenome do ex-marido na eleição para deputada federal em 2018. Não se elegeu.
Sangue verde oliva
Pelas veias do general Mourão corre sangue verde oliva. Ele é filho do também general de divisão Antonio Hamilton Mourão, que foi adido militar do Brasil nos Estados Unidos. Por causa dos deslocamentos do pai amazonense, o vice-presidente nasceu em Porto Alegre, onde viveu parte da juventude. Também chamado Antonio Hamilton Mourão, o avô dele presidiu o Tribunal de Justiça do Amazonas. A família – ressalte-se – não tem parentesco com outro famoso general, Olimpio Mourão Filho, um dos articuladores do golpe militar de 1964.
O peso da tradição familiar está longe de ser exclusividade do governo Bolsonaro. Repete-se em todo o país e chega com força a Brasília. Na primeira equipe de Michel Temer, 17 ministros eram de família de políticos. Entre os 26 prefeitos de capital, 16 têm parentesco com outros políticos, conforme pesquisa da UFPR. Levantamento exclusivo do Congresso em Foco, publicado no final de 2017, revelou que que quase 70% dos parlamentares têm parentes na política – o dobro da média da Índia, o país conhecido pelas velhas castas.
Fonte: Congresso em foco
Créditos: Congresso em foco