A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) criticou a atuação do presidente brasileiro Jair Bolsonaro na crise de saúde provocada pela pandemia por coronavírus, em nota divulgada em seu portal de internet na noite desta sexta-feira (10).
De acordo com a HRW, “Bolsonaro está colocando os brasileiros em grave perigo ao incitá-los a não seguir o distanciamento social e outras medidas para conter a transmissão da Covid-19, implementadas por governadores no país inteiro e recomendadas por seu próprio Ministério da Saúde”. Segundo a ONG, “ele também age de forma irresponsável disseminando informações equivocadas sobre a pandemia”.
“Bolsonaro tem sabotado os esforços dos governadores e do seu próprio Ministério da Saúde para conter a disseminação da Covid-19, colocando em risco a vida e a saúde dos brasileiros”, disse José Miguel Vivanco, diretor da
Divisão das Américas da Human Rights Watch.
A nota da HRW lembrou de intervenções e falas de Bolsonaro durante a crise sanitária no Brasil.
A ONG recordou que em 20 de março, Bolsonaro editou medida provisória (MP) para retirar dos estados a competência para restringir a circulação de pessoas. Quatro dias depois, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes derrubou liminarmente a ordem.
Lembrou também que em 26 de março, o presidente editou decreto isentando igrejas e casas lotéricas de seguirem as medidas de restrição impostas por estados e municípios. No dia seguinte, a Justiça Federal suspendeu o decreto e também proibiu o governo de adotar medidas contra o distanciamento social.
Na visão do HRW, o presidente tem minimizado a gravidade da epidemia, chamando-a de “gripezinha” ou “um resfriado”, e de uma “fantasia” criada pela imprensa. Ele rotulou as medidas preventivas como “histéricas” e repetidamente requereu aos governadores que suspendessem as restrições de distanciamento social.
Segundo a ONG, Bolsonaro tem repetidamente desconsiderado as recomendações de distanciamento social e incentivado as pessoas que não são “idosas” a fazerem o mesmo, colocando-as em risco de contágio.
Bolsonaro, segue a nota, interagiu com manifestantes durante manifestação pró-governo no dia 15 de março. Na época, ele deveria estar em quarentena, já que vinte e quatro pessoas de uma delegação oficial que viajou com ele para os Estados Unidos haviam testado positivo para o vírus.
Em um pronunciamento oficial no horário nobre da televisão em 24 de março, ele pediu aos brasileiros que “voltassem à normalidade”. Pelo menos 25 dos 27 governadores estaduais do Brasil decidiram manter restrições para impedir a propagação do Covid-19.
Em 28 de março, um juiz federal ordenou que o governo federal não promovesse uma campanha publicitária sob a hashtag #OBrasil NãoPodeParar que teria incentivado os brasileiros a desrespeitarem as recomendações de distanciamento social. O juiz decidiu que a campanha contradizia as recomendações do Ministério da Saúde.
A ONG lembrou que o presidente postou no dia 1º de abril um vídeo que dizia que havia escassez de alimentos e outros produtos na central de abastecimento (CEASA) na cidade de Contagem, por causa das restrições impostas pelo governo de Minas Gerais. Mais tarde, sua própria ministra da Agricultura disse que a informação era falsa. Bolsonaro também disse que as autoridades de São Paulo estariam exagerando no número de mortes registradas, sem fornecer qualquer evidência.
Bolsonaro não se pronunciou sobre a crítica.
Na quinta-feira (9), Bolsonaro abraçou pessoas e posou para fotos em uma padaria de Brasília. Ele visitou o comércio no final da tarde, após deixar o Palácio do Planalto, depois do expediente. Uma aglomeração se formou em frente ao estabelecimento com a presença do presidente.
Na sexta (10), o presidente andou novamente por áreas comerciais e residenciais de Brasília, apesar de orientações das autoridades sanitárias de que a população mantenha o isolamento social, em decorrência da pandemia de coronavírus. Bolsonaro foi ao Hospital das Forças Armadas (HFA), depois a uma farmácia no setor Sudoeste e, por fim, a um prédio residencial, na mesma região.
Na farmácia e no prédio, apoiadores se juntaram para ver o presidente, também contrariando a orientação de se evitarem aglomerações. Bolsonaro pegou na mão de alguns apoiadores. Ele chegou a limpar o nariz e, com o mesmo braço, cumprimentou uma idosa.
Mais de mil mortes no Brasil
A Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), superou a marca de mil mortes no Brasil nesta sexta. Balanço do Ministério da Saúde aponta o total de 1.056 mortes e 19.638 casos confirmados.
O país chegou a este número 44 dias após o primeiro caso registrado e 24 dias após o registro da primeira morte. Os estados com mais mortes são: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas. Os estados com menos mortes são: Acre (2), Amapá (2), Rondônia (2), Mato Grosso (2), Mato Grosso do Sul (2), Roraima (3), Alagoas (3) e Sergipe (4). Tocantins é o único estado que não registrou mortes.
O total de mortes mais que dobrou desde a semana passada. Na sexta-feira (3), eram 432 mortes. O aumento em relação ao total divulgado nesta sexta foi de 144%.
Fonte: G1
Créditos: G1