A senadora Marta Suplicy (MDB-SP) é cotada para retornar à Esplanada dos Ministérios. O presidente Michel Temer está disposto a convidar Marta para entrar na equipe, embora ainda não tenha definido a pasta. Ex-petista e ex-ministra nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Marta sempre quis comandar o Ministério da Educação, hoje controlado pelo DEM.
A estratégia que vem sendo desenhada passa por um acordo em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, onde o MDB precisa de um palanque forte para a possível candidatura de Temer a novo mandato.
A vaga ao Senado, nesse cenário, poderia entrar na negociação do MDB com outro partido, como o DEM. Até agora, o candidato do MDB ao governo paulista é o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.
Filiada ao MDB desde 2015, Marta está em pré-campanha à reeleição. Além desse imbróglio na legenda, no entanto, ela enfrenta outra dificuldade: o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), seu ex-marido, desponta como favorito nas pesquisas para voltar a ocupar uma cadeira no Senado.
“Não vejo problema nenhum nisso. Temos muitos pontos em comum, mas carreiras diferenciadas”, disse Marta ao Estado. Sobre a possibilidade de integrar a equipe de Temer, ela afirmou apenas que “isso não está em questão”.
Marta foi titular do Turismo, na gestão Lula, e da Cultura, no governo Dilma Rousseff. Em 2014, ela pregou o “Volta, Lula”, entrando em confronto com Dilma. Rompeu com o PT e em 2016 votou pelo impeachment da então presidente. Naquele ano, já no MDB, concorreu novamente à Prefeitura de São Paulo – que dirigiu de 2001 a 2004 -, mas perdeu a eleição para João Doria (PSDB).
A cúpula do MDB se movimenta para tirar aliados de Doria e do vice-governador, Márcio França (PSB), que vão disputar o Palácio dos Bandeirantes. A preocupação também é com o avanço do governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, sobre tradicionais parceiros de Temer.
Alckmin terá dois palanques para fazer campanha em São Paulo: o de Doria e o de França. Em Minas, o segundo celeiro de votos, o tucano contará com o apoio do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que vai disputar a sucessão de Fernando Pimentel (PT).
O candidato do MDB à Presidência, seja ele Temer ou outro nome, não tem até hoje aliados de peso em São Paulo. Pior: as negociações mostram que os maiores partidos ou estão com Doria ou com França ou pretendem lançar nome próprio, como é o caso do DEM, que tem Rodrigo Garcia (SP) como postulante ao Bandeirantes.
Uma ala do MDB prega acordo com o DEM para lançar Garcia ao Senado e manter Skaf como candidato ao governo. Nos bastidores, porém, há quem defenda uma dobradinha com Doria.
O presidente do MDB de São Paulo, deputado Baleia Rossi (SP), nega a possibilidade de o partido rifar Skaf. “O MDB trabalha com uma única decisão em São Paulo: lançamento de candidatura própria ao governo do Estado. O nome escolhido é o de Paulo Skaf”, disse ele, em nota. “As conversas que mantemos com outras legendas vão no sentido de fortalecer e buscar alianças necessárias para a nossa candidatura”, completou o deputado, que é líder do MDB na Câmara.
No Planalto, auxiliares de Temer afirmam que a ida de Marta para o Ministério mataria dois coelhos com uma só cajadada. Em primeiro lugar, desde que assumiu o governo, no rastro do impeachment de Dilma, em 2016, Temer é criticado por ter nomeado poucas mulheres. Em segundo, a vaga ao Senado é vista como um trunfo para a negociação do MDB com outra sigla. Há no partido, ainda, quem queira que Marta seja candidata a deputada federal, hipótese não considerada por ela.
KASSAB APOIA DORIA AO GOVERNO
A poucos dias de fechar o xadrez da reforma, Temer também pretende convidar o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, para permanecer na equipe. Chefe do PSD, Kassab vai apoiar Doria para o Bandeirantes, mas é provável que não seja ele o vice do tucano. O ministro indicou a ex-vice-prefeita Aldo Marco Antônio para o cargo.
Com o movimento na direção de Kassab, Temer espera atrair o PSD para uma aliança ao Planalto, embora no plano estadual o partido esteja com Doria. Kassab argumenta que a maioria dos diretórios do PSD, hoje, é favorável a Alckmin. Ressalva, no entanto, que essa posição nunca levou em conta uma possível candidatura de Temer, dando a entender que tudo pode ser revisto.
O plano do governo é oferecer a Kassab um ministério com mais visibilidade. Na gestão Dilma, o ex-prefeito comandou Cidades, mas a pasta, hoje, está nas mãos de Alexandre Baldy (PP), aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também pré-candidato ao Planalto.
Kassab está inclinado a não deixar a equipe de Temer até 7 de abril, prazo estipulado pela lei para que quem for concorrer entregue o cargo. O Estado apurou que o ministro quer primeiro analisar o quadro eleitoral, antes de tomar uma decisão.
Em conversas reservadas, Kassab diz que pode sair do governo por volta de junho, para viajar pelo País e coordenar as atividades do PSD na campanha. Não está fechado, porém, que a sigla apoiará Alckmin e é justamente aí que reside o interesse de Temer.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é filiado ao PSD, mas tudo indica que migrará para outro partido, na tentativa de viabilizar sua candidatura à Presidência.
“Vamos conversar com o ministro Meirelles nos próximos dias”, afirmou Kassab. “Ele reúne excelentes qualidades para ser um grande presidente da República, mas, em relação à candidatura, é preciso ver as circunstâncias políticas, que independem das suas qualidades”, emendou.
Fonte: Estadão
Créditos: Estadão