Deputados que integram o Conselho de Ética da Câmara bateram boca nesta terça-feira (1º) ao retomarem a análise do relatório preliminar que pede a continuidade do processo de cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O clima ficou tenso quando o deputado petista Zé Geraldo (PA) atacou aliados do presidente da Câmara e acusou o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB) de ter recebido a presidência de uma comissão especial sobre seguro privado como “pagamento” pela defesa que faz de Cunha no Conselho de Ética.
“Ele ganhou isso à toa? Não. Ganhou porque o Eduardo Cunha tem que pagar exatamente toda essa defesa”, acusou Zé Geraldo.
A declaração do parlamentar petista gerou um bate-boca no plenário. Aliados de Manoel Júnior rebateram e pediram que Zé Geraldo retirasse a acusação de que a indicação para o comando da comissão especial se tratava de um “pagamento”.
Após ouvir as provocações do deputado do PT, Manoel Júnior pediu a palavra e revelou que Zé Geraldo havia confidenciado a ele que votaria contra o primeiro parecer que recomendou a continuidade do processo de cassação, de autoria do deputado Fausto Pinato (PRB-SP). O petista, entretanto, negou a acusação.
Novela no conselho
Eduardo Cunha é investigado no Conselho de Ética por supostamente ter ocultado contas bancárias na Suíça e de ter mentido, no ano passado, sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras.
O presidente da Câmara nega ser dono de contas no exterior, mas admitiu ter o usufruto de ativos geridos por trustes estrangeiros. Se o processo chegar ao plenário, Cunha pode ter o mandato cassado.
Nesta terça, os integrantes do conselho tentaram novamente votar o relatório do deputado Marcos Rogério (PDT-RO) que recomenda a continuidade do processo de quebra de decoro parlamentar. O parecer já havia sido aprovado em dezembro, mas, após manobras de aliados do peemedebistas, a votação acabou cancelada e foi preciso voltar à estaca zero.
Após mais de três horas de discussão, a sessão desta terça acabou suspensa, mais uma vez, em razão da abertura da ordem do dia no plenário principal da Câmara. As comissões permanentes da Casa são obrigadas a encerrar as atividades no momento em que tem início as votações no plenário.
Desde que foi apresentada a representação contra Cunha no Conselho de Ética, deputados que integram a “tropa de choque” do peemedebista têm promovido manobras para retardar o andamento do processo. Uma das ações que atrasaram o processo foi a destituição do primeiro relator do caso, Fausto Pinato.
Na sessão desta terça-feira, aliados de Cunha apresentaram questões de ordem para tentar impedir a análise do relatório de Marcos Rogério.
“Esse caso mancha a imagem desta Casa. Não queremos mais ver a procrastinação desse processo”, argumentou o deputado Walmir Prascidelli (PT-SP).
“Já temos mais de 100 dias corridos e mais de 90 dias úteis para tratar dessa representação, e não quero entrar no jogo daqueles que têm, de maneira renitente, buscado protelar e obstruir”, emendou o deputado Léo Brito (PT-AC).
Um dos aliados mais próximos de Cunha, o líder do PSC na Câmara, deputado André Moura (SE), saiu em defesa do presidente da Câmara e pediu que fossem respeitadas as opiniões favoráveis ao peemedebista.
“Ninguém que está denunciado pode ser condenado de forma antecipada. Se assim fosse, o que diríamos da presidente Dilma [Rousseff]? Não podemos correr o risco de cometer uma injustiça”, disse Moura.
Fonte: Do G1, em Brasília
Créditos: Fernanda Calgaro