Diferentemente do que aconteceu com ex-presidente Collor, que amargou a solidão política e o abandono das ruas no seu processo de impeachment, em 1992, a presidente Dilma não parece estar só. Pelo menos foi o que demonstraram, ontem, as manifestações, em várias cidades do país. Mesmo sendo no meio da semana, sem sucessivas entradas ao vivo das emissoras de televisão e ofuscado por uma decisão importante sobre o impeachment, no STF, o protesto a favor da manutenção do governo e da cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), revelou que milhares de brasileiros querem que este governo chegue ao seu final, sem interrupção. Um sinal, claro, de que para muitos a popularidade em baixa e uma política econômica contestada, não justificam o que para eles é um “golpe”.
Não se trata aqui de fazer uma espécie de disputa, um Fla-Flu, para ver quem tem mais torcedor e apoiadores, quem lota mais as ruas e quem faz mais barulho. Nem se ela deve cair ou não. Essa leitura é apenas uma constatação de que não é o “país inteiro” que quer o afastamento da presidente, como dizem as paixões extremas. O governo respira. Pode trabalhar para mostrar aos parlamentares da base, principalmente os que ainda se equilibram em cima do muro, também responsáveis pelo afastamento ou não, que o governo ainda tem uma forte base popular, tem sustentação nas ruas e que será preciso ter uma justificativa convincente para punição extrema. Pesa menos, com esse cenário, a força política e aumenta o peso das contestações jurídicas.
E se nas ruas o governo teve um vitória, no STF, sofreu um baque grande. Pelo menos é o começo de uma possível derrota. Em um relatório longo e embasado, o ministro Edson Fachin afirmou que o Supremo não tem que mudar muito o rito do impeachment já existente. Ratificou que não há problemas constitucionais com o voto secreto para escolha de comissão independente, da mesma forma que essa comissão é legitima. O grupo pluripartidário, que vai analisar a aceitação do pedido de impeachment feito pelo presidente Cunha, foi escolhido há alguns dias. A forma como aconteceu o processo foi contestada pelo PCdoB e o caso foi parar lá no Supremo.
O julgamento do STF também caminha para que se mantenha o rito já conhecido, com a Câmara Federal aceitando efetivamente o processo de impeachment, com o Senado julgando o mérito. Se isso acontecer, o governo toma mais um tombo.
Mesmo sem o resultado completo desse julgamento, que deve acabar até o fim da semana, o que governo precisa fazer, mesmo, é juntar os cacos da sua base e conseguir os 172 votos necessários para evitar que mérito seja julgado no Senado. Afinal, quando chegar lá, não será apenas a “força ou não” das pedaladas fiscais que irão influenciar na decisão dos legisladores, mas a situação econômica do país, as perspectivas de futuro, o dólar, o número de desempregados, a inflação.
O governo pode até ter momentos de alívio, suspiro, mas não terá dias fáceis. Mostrou que tem um pouco de base popular, uma parte significativa de políticos, mas já não tem a confiança do mercado financeiro, do chamado capital especulativo, que comemora com números positivos seu fracasso. Mudar essa gangorra, não será simples.
Mordeu
Aqueles que colocavam sob suspeita a postura do ministro Fachin, por no passado ter declarado apoio ao PT, “morderam a língua”. Posição bem embasada contra o governo.
Uniu
Como aconteceu no Espaço Cultural, o movimento nas ruas, ontem, uniu socialistas, petistas e a chamada “esquerda radical”. Mesmo com divergências no campo local.
Acidez pura
Rebatendo declaração do senador Cássio (PSDB), o secretário de Comunicação da PB, Luís Torres, foi ácido: “Quem entende de uso do aparato de governo em favor de interesses pessoais é Cássio que foi cassado por isso. Ele está incomodado é com a reação popular ao movimento golpista, do qual faz parte, por não conseguir viver muito tempo sem fazer negócios com o Poder Executivo”. O senador tucano afirmou na terça-feira, e destacamos aqui, que era um absurdo o governador convocar servidores no meio do expediente para participar de um “movimento” contra o impeachment.
Questão
Uma questão de ordem: o teatro Paulo Pontes, onde o governador lançou o “movimento contra o golpe”, foi alugado pela Frente Brasil Popular, que reúne partidos e entidades de classe.
Desligar
Com a diminuição do tempo de campanha e mais tempo para se “desligar” de cargos para se candidatar, alguns vereadores de JP podem durar mais à frente de secretarias.
Um pouco
Entre os vereadores-secretários, temos Marcos Vinicius, Helton Renê, Pedro Coutinho. Havia “uma conversa” que em janeiro seria feita uma reforma. Agora, há possibilidade dela demorar mais um pouco.
Tarde
Depois de intensos debates nas comissões para preparar matérias pra votação na CMJP, o líder do governo, Marco Antônio, e Benilton Lucena, almoçaram juntos no Sonho Doce.
Jornal da Paraíba