Primeiro nome a revelar a existência de um gabinete de aconselhamento paralelo durante a pandemia, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, detalhou o que acontecia no Palácio do Planalto durante a proposta de mudança da bula da cloroquina, indicando o medicamento como tratamento para Covid-19. Em entrevista ao Poder360, ele afirmou que haviam pessoas fardadas no encontro.
“Eu estava em uma reunião, me lembro bem até a data, dia 6 de abril, porque era o dia que eu seria exonerado, mas resolveram não me exonerar. Quando terminei, me pediram para subir no quarto andar. Eles já estavam lá e trabalhando nisso. Que médico chega com um decreto presidencial? Médico não tem formação para escrever minuta de decreto presidencial. E nesse papel que estava lá, entre outras coisas, estava que a Anvisa deveria concordar de colocar na bula porque não tem prescrição. Eu perguntei ao senhor Barra Torres [presidente da Anvisa] se ele estava de acordo e ele foi veementemente contra. O ministro Jorge Oliveira estava ao meu lado, recolheu todos os papéis e disse que estava fora de contexto”, disse.
Mandetta afirmou que essa foi a primeira vez em que viu o presidente da Anvisa tomando uma posição firme em relação às decisões do governo federal. O médico disse também que não conhecia a médica oncologista Nise Yamaguchi, e que pessoas fardadas compareceram àquela reunião.
“Não conhecia essa médica… talvez se ela tivesse ido ao meu gabinete para se apresentar. Perguntei o nome dela e qual a formação. Tinha um outro médico do lado que eu nunca o vi antes e nem depois, esse aí nem guardei o nome […] E tinham mais pessoas lá [na reunião]… tinha o ministro Braga Netto, pessoas fardadas também”, afirmou.
DEM
O ex-ministro falou também sobre a saída de nomes do DEM, seu atual partido. De acordo com Mandetta, apesar das fugas da sigla, “está muito satisfeito” com o partido.
“Eu lamento muito a saída tanto do Rodrigo Maia [que pediu desfiliação do partido na Justiça Eleitoral] quanto do Eduardo Paes [que foi para o PSD], mas respeito. Acho que eles devem ter tido os motivos pessoais deles. Muito mais ligados às suas lógicas estaduais, principalmente o Rodrigo, que teve que sair a reboque do Eduardo Paes que hoje é o seu padrinho político. E o Eduardo porque está vendo dentro da eleição estadual o caminho mais ligado a outras candidaturas que não sejam aquelas [da polarização]”
Disse, portanto, que não há uma debandada no partido e que as saídas não abalam a identidade da sigla “O DEM já ultrapassou essa questão de ter identidade em função de nomes”.
Mandetta falou ao Poder360 que um dos principais nomes da sigla, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não pensa em sair do partido.
“Ele sabe muito bem o trabalho que foi feito por todos os partidos para que ele pudesse presidir uma Casa tão importante como o Senado da República. Isso tem um equilíbrio lá dentro, esse equilíbrio demanda muita responsabilidade e gestão para que ele não se coloque numa posição de desequilibrar as estruturas. Não vejo ele desconfortável dentro do partido, pelo contrário, vejo sempre participando de todas as discussões internas com uma voz ponderada e olhar muito sereno. Mas é uma leitura que às vezes pode acontecer em decorrência de uma possível pré-candidatura a presidente ou ao governo de Minas Gerais, que é de foro íntimo dele”, disse.
ELEIÇÕES 2022
Sobre ser pré-candidato à Presidência da República, Mandetta disse que é contrário à definição e que no momento costura pré-alianças. Disse que conversou com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o presidente do PSD, Gilberto Kassab e com os ex-presidentes da República Michel Temer (MDB), José Sarney (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), além de outros nomes.
“A candidatura só é real quando você passa na convenção partidária, que acontece no final do primeiro semestre do ano que vem. A gente está agora iniciando antecipadamente processos de pré candidatura por conta da polarização que alimenta dois pólos que se nutre dela […] Como existe esse parasitismo, em que um se nutre do outro, acaba fazendo com que a gente tenha que antecipar essa questão de pré candidaturas para poder existir. Eu sou contrário a pré candidatura, já que vamos ter que existir, eu sou favorável a pré alianças para que os partidos façam essa discussão interna, e os nomes que a gente vê no decorrer do tempo”, falou.
O ex-ministro disse que somente os nomes da terceira via serão capazes de apontar futuro, mas pondera a importância da não fragmentação. “Um é jogar para o passado [Lula] e o outro é esse presente amargo que a gente está [Bolsonaro]”.
Perguntado sobre um posicionamento em relação a um possível segundo turno entre Lula e Jair Bolsonaro, disse “vou lutar muito para que esse pesadelo não se torne realidade. Muito. E eu vou lutar muito para que o sonho de um país novo, sem esses dois monstros do pesadelo, estejam presentes”.
VOTO IMPRESSO
Mandetta disse que considera a proposta sobre a implementação do voto impresso auditável para as eleições de 2022 “dúbia”:
“Ela começa de gente que quer botar em dúvida a própria democracia, e eu tenho muito receio do que está por trás dessa proposta. Será que é uma proposta para colocar em dúvida a democracia e justificar e não respeitar o resultado eleitoral. Se essa for a motivação, eu a abomino. Depois tem pessoas que falam para manter a urna eletrônica e imprimir o papel [voto] que vai cair dentro da urna para saber se o resultado da urna eletrônica é igual ao resultado do papel para se fazer uma contagem de votos. Ou seja, a democracia vai ficar mais forte […] Se for conversa para dizer depois que a urna é causa de derrota, que vai ter e que está muito clara que vai existir, nós temos que condená-la desde já”, disse.
Fonte: Poder360
Créditos: Polêmica Paraíba