Youssef afirmou que ex-ministro Mario Negromonte concentrava recursos e teve de deixar pasta das Cidades
POR VINICIUS SASSINE
Mário Negromonte – André Coelho / Agência O Globo
BRASÍLIA – A disputa dentro do PP pela divisão do dinheiro desviado de contratos da Petrobras provocou a troca do ministro das Cidades no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, segundo a delação do doleiro Alberto Youssef, operador do esquema. O grupo do então ministro Mário Negromonte (BA) passou a se “autofavorecer” na divisão do dinheiro enviado pelo doleiro, “em detrimento de repasses aos demais membros da bancada do PP”, diz o depoimento.
Essa iniciativa teria levado à reação de outro grupo, formado pelos senadores Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL) e pelos deputados Arthur Lira (AL), Eduardo da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB). A liderança do PP foi assumida por essa ala, e o ministro acabou substituído por Ribeiro em fevereiro de 2012. Na ocasião, Negromonte pediu demissão se queixando de “fogo amigo”.
O Ministério das Cidades era da cota do PP no primeiro mandato de Dilma. Segundo Youssef, Negromente assumiu a tarefa de distribuir as propinas após a morte do ex-deputado José Janene (PR), em 2010. “No final de 2011 ou início de 2012, tal grupo passou a fazer repasses a menor das propinas oriundas da Petrobras para os demais integrantes do PP”, afirmou o doleiro.
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Integravam o grupo de Negromonte o deputado federal Nelson Meurer (PR) e os ex-deputados federais João Pizzolatti (SC) e Pedro Corrêa (PE). A rebelião interna levou Ciro à liderança da legenda, e Ribeiro, ao ministério, ocupado por ele até maio de 2014.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também apontou a disputa interna no PP em sua delação. “Quando Ribeiro assumiu a cadeira junto ao Ministério das Cidades, na mesma época Ciro Nogueira assumiu a presidência do PP.
Durante esse período, os repasses ao PP se mantiveram constantes”, disse. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, concluiu, na petição enviada ao STF, que as delações demonstram como a estrutura criminosa no PP “era estável e perene”.