O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) hoje tem condições melhores para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas urnas do que em 2018, avalia o cientista político André Singer, professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-porta-voz do petista, em seu primeiro mandato como presidente (2003-2006).
Em entrevista à BBC News Brasil, Singer diz que o forte sentimento anticorrupção no país após o escândalo na Petrobras — que enfraqueceu Fernando Haddad, candidato do PT após Lula ser impedido de concorrer ao ser condenado em segunda instância — tende a perder importância diante de outros problemas que o país enfrenta, como as crises da saúde e da economia e a percepção de ameaça à democracia.
Para Singer, embora Bolsonaro tenha apoio no momento para chegar ao segundo turno presidencial, sua atuação na pandemia aumentou sua rejeição entre os eleitores de centro. “O governo Bolsonaro está num mal momento”, pontua.
Nesta semana, Lula recuperou seus direitos políticos depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin anulou suas condenações, sob o argumento de que os processos da Operação Lava Jato contra o petista deveriam ter tramitado na Justiça do Distrito Federal e não na 13ª Vara de Curitiba, do ex-juiz Sergio Moro.
Apesar de ver o petista mais forte hoje, Singer defende a importância de uma aliança ampla de forças políticas para enfrentar Bolsonaro em 2022.
No livro Estado e Democracia (Companhia das Letras), que o cientista político está lançando com Cicero Araújo e Leonardo Belinelli, os autores fazem uma revisão das origens do Estado Democrático no Ocidente;
Também apontam que ele vem sendo ameaçado nos últimos anos em diversos países com o avanço de governos de direita com viés autoritário, como os de Viktor Orbán na Hungria, de Recep Erdogan na Turquia, de Andrzej Duda na Polônia e, até janeiro, de Donald Trump nos Estados Unidos.
O livro inclui Bolsonaro nessa tendência e aponta que a possibilidade de derrota desses governos vêm justamente da aliança de forças políticas democráticas que parece distante no Brasil.
Para Singer, o grande número de partidos no Brasil, a cláusula de barreira (que exige um mínimo de deputados federais eleitos para que um partido siga recebendo financiamento público) e “componentes populistas na política brasileira” dificultam frentes amplas. “As figuras individuais ganham um peso excessivo”, ressalta.
Confira a seguir os principais trechos das entrevistas com Singer, que conversou com a BBC News Brasil em dois momentos: no final de fevereiro e após a anulação das condenações de Lula.
BBC News Brasil – Lula disse que vai conversar com diversos setores da sociedade. Se sua elegibilidade for mantida, ele pode unir a esquerda ou construir uma frente ampla em torno dele?
André Singer – O discurso dele na manhã de hoje aponta na direção de abrir conversas com setores que estão à esquerda do centro. Ele foi bastante explícito em relação a isso. Ele disse que há bastante tempo ainda para o período eleitoral propriamente dito e que acha importante que esses setores conversem.
Por outro lado, a própria candidatura dele, caso venha a se consolidar, tem um peso muito grande. Do ponto de vista de popularidade, de memória, de ele já ter sido presidente, em tese tudo isso dá uma dianteira muito grande em relação a outros possíveis candidatos. Então, é uma situação um tanto quanto ambígua. Ele disse claramente que acha importante que haja uma unidade à esquerda do centro, mas ao mesmo tempo o nome dele tem um peso natural.
Ele não descartou a frente ampla, mas claramente ele disse que seria uma segunda etapa. Não necessariamente um segundo turno. É como se ele tivesse dizendo que esse processo caminharia por etapas, e a primeira corresponderia a uma conversa mais no campo à esquerda do centro e talvez depois com setores que estão ao centro ou à direita do centro.
BBC News Brasil – Essa união é fundamental para uma vitória, ou Lula seria competitivo com uma candidatura menos ampla?
Singer – Na suposição de que ele seja candidato, quanto mais unidade ele obtiver, melhor será a perspectiva de uma possível vitória. Na verdade, nós não sabemos qual o potencial do outro candidato (que disputará o segundo turno). Se a eleição fosse hoje, seria Bolsonaro. Ele ainda está (com apoio) por volta de 25%, 30% dos votos, o que tende a coloca-lo no segundo turno.
Como em política você sempre lida com cenários hipotéticos, certamente a ideia de constituir uma frente mais ampla é importante para quem for se opor a Bolsonaro caso ele seja efetivamente o candidato. É bastante prudente pensar numa composição de forças. Mas não sabemos qual vai ser a situação em outubro de 2022 com relação a um eleitorado que tende hoje bastante a rejeitar Bolsonaro, sobretudo pela pandemia. Mas até lá a coisa pode se alterar.
BBC News Brasil – Um cenário de múltiplas candidaturas favorece a tentativa de reeleição de Bolsonaro?
Singer – O segundo turno foi justamente pensado com essa finalidade, de que as forças políticas pudessem se expressar individualmente no primeiro turno e se unificar no segundo. É uma instituição muito democrática nesse sentido e eu até acho que, em condições normais, isso vale plenamente. O problema é que nós não estamos em condições normais.
Seria melhor, eu até diria que seria muito importante, que o eleitorado recebesse um recado claro: as forças democráticas do país se unificaram, superando enormes divergências, para impedir o progresso de uma alternativa que está erodindo a democracia no Brasil. Quando a democracia for suprimida, as pessoas vão lamentar, mas nós ainda estamos em condição de impedir que isso aconteça.
BBC News Brasil – Por que é tão difícil a frente ampla funcionar?
Singer – Existem três fatores. O primeiro é uma fragilidade do sistema partidário brasileiro. Isso se expressa na excessiva fragmentação. Nós temos mais de 30 partidos na Câmara, e os maiores são relativamente pequenos. É um fator que dificulta a formação de coalizões estáveis.
A segunda questão é que a cláusula de barreira impõe necessidade para alguns partidos de terem candidaturas próprias para que eles possam ter as bancadas necessárias (eleitas na Câmara dos Deputados) para se manter (recebendo recursos públicos e tempo de propaganda de rádio e TV).
E há os componentes populistas na política brasileira, que dificultam frentes programáticas, porque as figuras individuais ganham um peso excessivo.
Tudo isso representa uma parte do problema. A outra diz respeito ao compromisso democrático de setores de centro e à direita do centro. Se nós quisermos realmente preservar a democracia, essa frente terá que ser muito ampla, e a esperança realista hoje é que isso aconteça no segundo turno. Por isso, que apesar das dificuldades, vale a pena continuar discutindo o assunto, porque nós teremos pela frente uma decisão da maior importância em 2022.
BBC News Brasil – Alguns analistas políticos entendem que Bolsonaro, a partir de meados do ano passado, moderou seu discurso e passou a buscar uma base no Congresso. Por que o senhor vê de forma tão clara que seu governo gera ameaças democráticas?
Singer – De fato, em meados do ano passado, houve uma virada no comportamento do presidente quando ocorreu a prisão do ex-PM Fabrício Queiroz. Ele mudou da água para o vinho, porque (antes da prisão) ele passou um semestre inteiro, desde que começou a pandemia, indo a manifestações públicas que pediam o fechamento do Congresso e do STF. Isso é motivo para impeachment em qualquer lugar do mundo.
Só que a mudança (em meados de 2020) se reverteu quando ocorreu a derrota de Trump nos Estados Unidos, porque ali Bolsonaro voltou a dizer que isso (a contestação da eleição feita por Trump) aconteceria no Brasil, na prática implicitamente (sinalizando para) uma tentativa de golpe se ele perdesse a eleição, porque teria havido fraude. Foi exatamente a tentativa que ocorreu nos Estados Unidos, quando rump incitou partidários a invadirem o Congresso dos Estados Unidos.
Na sequência desses acontecimentos houve uma entrevista de Fachin em que ele alerta para o fato de que, nos Estados Unidos, o que impediu que essa tentativa de golpe desse certo foi não ter apoio nas instituições e das Forças Armadas. Acontece que no Brasil nós tivemos justamente a eleição para a presidência da Câmara de um político alinhado com o Planalto e nós temos uma vasta participação de militares neste governo. Então, o nosso trabalho (dos cientistas políticos) é advertir, é mostrar o que nós estamos vendo, porque é decisivo para o futuro do Brasil essa questão.
BBC News Brasil – Bolsonaro ganhou do PT em 2018. Se a disputa se repetir com Lula candidato, qual lado é mais forte?
Singer – Para responder cientificamente, precisaria aguardar algumas pesquisas (de popularidade) após a reabilitação (dos direitos políticos) do Lula. Até então, uma candidatura do Lula era pouco provável. Essa foi a grande mudança que a decisão do ministro Fachin provocou: tornou algo que era pouco provável em algo bastante provável. É claro que ainda há várias coisas no caminho que podem alterar esse quadro, mas estamos falando na situação colocada hoje, dia 10 de março. Nessa situação nova, seria interessante saber como o eleitorado vê agora uma candidatura Lula provável, em vez de uma candidatura Lula improvável.
Tendo em vista que o governo Bolsonaro está num mal momento, com uma tendência declinante (nas pesquisas de popularidade), diria que a situação é melhor neste momento para Lula do que em 2018. Mas digo isso muito sujeito ainda à verificação empírica (nas futuras pesquisas). Em um ano e meio (até a eleição presidencial) muita coisa pode mudar, tanto para um lado como para o outro.
BBC News Brasil – Então, com a ressalva de que muita coisa pode mudar, hoje o ex-presidente estaria em condições melhores de derrotar Bolsonaro do que estava em 2018?
Singer – Sim.
BBC News Brasil – Alguns analistas dizem que a possibilidade da candidatura de Lula reforça a polarização política no país e preveem que o centro político será esvaziado. Concorda?
Singer – Sobre essa questão da polarização, há um grande equívoco no Brasil, porque o Lula, na prática, sobretudo depois que ele assumiu a Presidência, quase sempre se apresentou como um conciliador, e de fato foi. E esse traço de conciliação nunca deixou de existir, mesmo nos momentos mais difíceis para ele. Houve uma radicalização pelo fato que surgiu uma opção de extrema-direita que no começo era bastante minoritária, mas acabou ganhando espaço e voto e elegendo o presidente da República. Na verdade, o Brasil, inesperadamente, elegeu um presidente da República muito radical. Então, é uma polarização unilateral, porque ela não é correspondida por uma radicalização do outro lado. Isso precisa ser bem compreendido, se não o processo não fica transparente.
Essa força extremista, no caso de direita, se impôs na eleição de 2018. Ocupou o espaço do centro. A candidatura centrista, que era a do Geraldo Alckmin (PSDB), perdeu votos para essa candidatura extremada. Então, não houve propriamente uma polarização. O que houve foi que o eleitorado de centro se radicalizou. E, de lá pra cá, uma parte desse eleitorado já se afastou do atual presidente. Portanto, seria provável que uma candidatura ao centro tivesse hoje mais votos do que teve em 2018.
BBC News Brasil – Com desemprego e miséria em alta, a entrada mais forte de Lula no cenário político, reforçando um discurso social, pode fazer Bolsonaro se afastar ainda mais da pauta econômica liberal?
Singer – É uma dedução lógica, mas muitas vezes a política não obedece a lógica, mas a interesses. Vai ser necessário analisar as resistências para ele fazer isso. Ele fez uma aliança com setores ultraliberais que têm muita contradição com políticas de natureza mais social. Essa aliança é importante. Ele tem dificuldades de se movimentar (contrariando essa aliança). Isso está claro na questão (da demora da volta) do auxílio emergencial, por exemplo, e ela não vai desaparecer, porque surgiu um candidato como o ex-presidente Lula que, em tese, poderia provocar esse tipo de reação.
BBC News Brasil – Parte dos brasileiros celebrou a decisão de Fachin e vê injustiças na atuação da Lava Jato, mas parte também se indignou por considerar que significa a impunidade de um corrupto. O sentimento anticorrupção que pesou contra o PT em 2018 pode ser relevante contra Lula em 2022?
Singer – A corrupção é uma questão permanente da política brasileira. Sempre foi, mesmo no período ditatorial, em que o debate era muito mais restrito. Em geral, é um tópico que atinge mais o eleitorado dos estratos médios. Nesse sentido, acho que sim, não há porque imaginar que isso vai desaparecer, porque o debate em torno dessa questão é um elemento estrutural do funcionamento da política brasileira.
A tendência é, diante da importância que adquiriu agora particularmente a questão da saúde, o problema da economia e, em terceiro lugar, o problema da democracia, que não estava colocado em 2016 mas passou a ser e ficou muito agudo com a chegada ao governo de um setor de extrema-direita, tudo isso faz com que, em termos relativos, o tópico da corrupção talvez perca alguma importância. Mas não vai desaparecer.
BBC News Brasil – Seu novo livro aponta os escândalos de corrupção como um dos fatores que alimentaram o descrédito na política no mundo nas últimas décadas. Considerando o escândalo na Petrobras nos governos do PT, qual é a responsabilidade do partido no desgaste da democracia brasileira hoje?
Singer – A leitura objetiva dos acontecimentos políticos da última década dá a impressão de que havia um sistema de financiamento da política (com doações ilegais) que envolveu todos os grandes partidos. E, nessa medida, você poderia dizer que o conjunto do sistema partidário, de alguma forma, tem uma responsabilidade no desenvolvimento da democracia nessa última década. Agora, não podemos também deixar de lembrar, da mesma maneira, o fato de que a Lava jato foi muito facciosa. Digo facciosismo no sentido de ter o lado de uma facção, de favorecer uma facção contra outra.
De modo geral, a Lava Jato tem um lado republicano, porque apurou coisas importantes, mas ao mesmo tempo tem um lado faccioso em que claramente ela se voltou para a destruição da liderança do ex-presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores — e agora isso ainda está comprovado.
BBC News Brasil – Seu livro aponta o neoliberalismo como um dos fatores que alimenta o avanço do autoritarismo, na medida em que parcelas da população empobrecida e sem esperanças seriam atraídas por esse discurso. Mas ressalta que, algumas vezes, esses governos se aliam ao neoliberalismo. Como você vê esse contexto hoje no governo Bolsonaro, tendo em vista a mudança de comando na Petrobras? Houve uma mudança na relação com o mercado?
Singer – Sim. O presidente Bolsonaro fez uma aliança de ocasião com o ultraneoliberalismo em 2018. Mas, no Brasil, essa aliança com o ultraneoliberalismo não dá voto. Deu em 2018 porque uma parte do eleitorado estava muito descontente com as alternativas anteriores e caminhou na direção dessa opção de extrema direita. Ao longo desses dois anos de mandato, sobretudo o ano passado, o presidente começou a desfazer esse casamento (com o mercado).
Essa recente nomeação na Petrobras foi o segundo passo. O primeiro foi a renovação do auxílio emergencial. Ele percebeu que o auxílio tinha trazido para o governo um apoio popular que não existia. O cálculo do governo é cada vez mais voltado para 2022.
A mudança no comando da Petrobras significa que a empresa tem que fazer uma política mais popular. Por exemplo, as pessoas estão muito fixadas na questão do diesel com razão, porque envolve os caminhoneiros, mas o gás de cozinha é muito importante. Porque é um item fundamental para as camadas populares. Então, a contenção do preço do gás de cozinha tem um efeito eleitoral que o governo está começando a explorar. Claro, aí ele paga um preço. A tendência que está indicando, já vem de alguns meses, é um afastamento entre o governo Bolsonaro e o mercado financeiro em favor dessas medidas.
BBC News Brasil – Alguns críticos dessa mudança na Petrobras dizem que Bolsonaro estaria repetindo ações da presidente Dilma Rousseff. E algumas pessoas falam também em “bolsopetismo” na gestão da estatal. Como você vê esse conceito? Há convergências entre bolsonarismo e petismo?
Singer – O conceito em si é absurdo. Porque Bolsonaro ele tem uma configuração de direita claríssima. É um homem que veio dos quadros do Exército e passou a carreira inteira — e nisso ele é coerente — defendendo a ditadura militar. Então, o Bolsonaro tem uma ideologia de direita, eu diria neste momento de extrema-direita até, cujo adversário principal, para não dizer inimigo, é a esquerda. Então, falar em bolsopetismo não faz o menor sentido.
O que faz sentido é que o governo Bolsonaro, um governo de direita, tomar medidas populares, porque quer se reeleger. Nesse sentido, ele tem aspectos de contato com o que foram os governos do PT, que foram governos que fizeram políticas populares.
Eu apoio o auxílio emergencial incondicionalmente, porque ele é absolutamente necessário. A população, sobretudo os extratos de baixa renda, estão absolutamente sacrificados nessa pandemia em que muita gente está perdendo emprego, precisa desse auxílio. Agora, como analista político, eu digo: claro, isso vai favorecer a popularidade do presidente como favoreceu no ano passado. Nós temos que lidar com a realidade.
BBC News Brasil – No Brasil, parte da esquerda mantém o apoio a Nicolás Maduro, embora existam muitas denúncias de que não há uma real liberdade de atuação da oposição nos pleitos. Por que essa continuidade do apoio ao governo da Venezuela? Isso é um problema?
Singer – Pessoalmente, estou comprometido com o repúdio a qualquer medida antidemocrática e contra os direitos humanos, venha de onde vier. O compromisso com a democracia, de fato, tem que estar acima de outras coisas, até porque, do ponto de vista da esquerda, é a democracia que garante a liberdade dos trabalhadores, dos oprimidos, os que, vamos dizer, estão em condições mais desfavoráveis, para se expressar, de se organizar e lutar por uma melhora das suas condições.
Agora, no caso da Venezuela, houve um governo de natureza popular do ex-presidente Hugo Chávez, da mesma maneira como ocorreu em outros lugares da América do Sul. Foi um processo muito importante a partir do final dos anos 1990 — e novo, porque nunca tinha acontecido de haver governos populares de modo geral na região. E houve um período do governo Chávez que ele foi reconhecido como um governo democrático.
Agora, é possível que na Venezuela tenha havido uma deterioração. Hoje, há também lá, segundo as notícias, uma presença importante de militares (no governo), que é algo que não não combina com processos democráticos. De tal maneira, eu acho que há em setores políticos uma espécie de solidariedade original, compreensível, e, digamos, talvez uma dificuldade de se haver com as restrições à democracia, que são inaceitáveis.
BBC News Brasil – Não falta uma posição mais dura de repúdio ao que esse governo se tornou por parte da esquerda?
Singer – Talvez sim. Não dá para falar da esquerda como um todo. Há setores da esquerda que têm tomado posições claras de não compactuar com medidas antidemocráticas e de violação dos direitos humanos. O problema é que entrar no detalhe de cada um desses assuntos é sempre bastante polêmico e precisa ser discutido porque é uma luta política. Do mesmo modo, você poderia falar de atitudes antidemocráticas da oposição (ao governo Maduro). Não é o caso de nós entrarmos nesse detalhe.
De todo modo, há setores de esquerda que fazem claramente essa distinção e o repúdio a atitudes antidemocráticas e de violação de direitos humanos, como estou fazendo aqui. E, possivelmente, outros setores de esquerda têm dificuldades em reconhecer esses acontecimentos, por ter havido na Venezuela um avanço popular importante.
O problema é que o processo venezuelano se deteriorou do ponto de vista democrático, mas é também preciso reconhecer que há muitas pressões externas. Não que isso justifique — se nós começarmos a justificar atitudes antidemocráticas, não dá para a gente seguir a conversa — mas ajuda a entender as contradições do processo e possivelmente contradições de setores da esquerda brasileira.
Fonte: BBC
Créditos: BBC