Apesar de alimentar esperanças de conseguir se candidatar a presidente da República em 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaia um movimento para manter Fernando Haddad como o plano B do PT, assim como ocorreu na eleição do ano passado.
Lula decidiu carregar o ex-prefeito de São Paulo a tiracolo nas viagens que pretende fazer pelo país depois que deixou a prisão, no último dia 8. Seria uma forma, na visão dos aliados, de deixar Haddad em evidência e consolidá-lo como herdeiro do lulismo.
No ano passado, Haddad assumiu a cabeça da chapa petista a um mês do primeiro turno, depois de Lula ter sua candidatura impugnada com base na Lei da Ficha Limpa , devido à condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá . Nas primeiras semanas como candidato, o ex-prefeito se vinculou totalmente ao ex-presidente, o que ficou evidente pelo slogan adotado pela campanha: “Lula é Haddad, Haddad é Lula” . No segundo turno, para tentar conquistar o eleitorado que não simpatiza com o PT, tentou se afastar do ex-presidente, apesar de a sua primeira atividade após garantir vaga na etapa final da disputa ter sido uma visita a Lula em sua cela na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba.
Na última quarta-feira, Haddad viajou ao lado de Lula no jato particular que o levou a Salvador para participar da reunião da executiva nacional do PT. Hoje, os dois devem estar juntos em Recife para um festival em homenagem ao ex-presidente.
Prefeitura de São Paulo
Mesmo com o gesto para manter o pupilo em evidência no plano nacional, petistas de São Paulo não descartam que Lula faça Haddad entrar na disputa pela prefeitura da cidade no próximo ano. Semanas antes de ser solto, Lula disse a um dos aliados que, se até dezembro não fosse viabilizado um nome competitivo do partido na capital paulista, o ex-prefeito teria que encarar a missão.
Disposto a se manter próximo de Lula, Haddad cancelou uma viagem que faria a Buenos Aires para um encontro com líderes de esquerda da América Latina e rumou para Curitiba no dia 8, tão logo o Supremo Tribunal Federal deu sinais de que Lula seria libertado. Passou a tarde daquela sexta na cela com o ex-presidente até que um agente da Polícia Federal chegou com a notícia de que o alvará de soltura havia sido concedido.
Apesar de manter Haddad de sobreaviso para a eleição presidencial, Lula e seus aliados sonham que o Supremo Tribunal Federal (STF) vote pela suspeição do ex-juiz Sergio Moro , o que levaria à anulação da condenação do ex-presidente no caso do tríplex, sentença que já foi confirmada em segunda e terceira instâncias e que o enquadra atualmente como ficha-suja, tirando-o de disputa eleitoral. Caberá à Segunda Turma, formada pelos ministros Cármen Lúcia, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin, analisar o caso. A expectativa é que os votos de Gilmar e Lewandowski sejam contrários a Moro e os de Cármen e Fachin , a favor do ex-juiz, hoje ministro da Justiça. A grande incógnita é o voto do decano do tribunal, Celso de Mello .
Se o STF decretar a suspeição de Moro, Lula estaria livre para ser candidato, já que o outro caso mais avançado contra ele, o do sítio de Atibaia, ainda não teve confirmação em segunda instância — e antes mesmo disso pode voltar ainda à primeira instância, por causa de uma decisão do STF de que os réus têm o direito de apresentar suas alegações finais depois dos delatores.
Ao todo, Lula responde a outros sete processos além do tríplex e do sítio, mas os petistas torcem por uma espécie de “efeito dominó” que serviria para inibir outros magistrados a condenarem o ex-presidente.
Casa nova
Ao mesmo tempo em que desenha a estratégia política para o PT, Lula também tenta organizar a vida depois de deixar a cadeia. Ele procura uma casa para viver com a namorada Rosângela Silva , conhecida como Janja. O ex-presidente não quer continuar no mesmo apartamento de São Bernardo do Campo onde viveu com Marisa Letícia , ex-primeira-dama que morreu em fevereiro de 2017.
O PT discute pagar um salário mensal para Lula como já fez, nos anos 1990. O ex-presidente ainda não foi consultado sobre tema. Ele é integrante do diretório nacional e presidente de honra da legenda. O petista recebe uma aposentadoria como anistiado político de pouco mais de R$ 6 mil. Antes do início dos processos, complementava a renda com retiradas mensais da sua empresa de palestras, mas seus bens foram bloqueados.
— Nós não vamos deixar o nosso filiado mais famoso na mão. Estamos vendo isso —disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Fonte: Outline
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