Após um café da manhã nesta quarta-feira com senadores favoráveis à tese de convocar novas eleições, o ex-presidente Lula concordou em levar à presidente Dilma Rousseff o pleito do grupo, que defende que ela renuncie para, através de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) a ser aprovada pelo Congresso, chamar novas eleições para outubro deste ano.
Petistas simpáticos a essa tese – entre eles os senadores Jorge Viana (PT-AC) e Paulo Paim (PT-RS) – admitem que o PT seguirá atuando em duas frentes simultâneas: a defesa enérgica do mandato da presidente, alinhado ao discurso dos movimentos sociais e no qual Lula vem apostando, de que Dilma é vítima de um golpe, e cogitam até mesmo retirar as indicações do partido para a Comissão do Impeachment no Senado. Ao mesmo tempo, apostam na construção de um consenso suprapartidário em torno da proposta de novas eleições. Para isso, o grupo também já se reuniu com a ex-senadora Marina Silva, da Rede, e se reunirá ainda hoje com o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB.
Apesar de os senadores frisarem que Lula não defende a tese de novas eleições, o ex-presidente ouviu o que os parlamentares tinham a dizer e se comprometeu a transmitir a mensagem a Dilma. A Lula, o grupo fez uma avaliação “realista” da situação do impeachment no Senado, dizendo que é preciso admitir que o processo será aprovado na Casa. Por isso, a melhor saída para o país seria, segundo eles, que Dilma faça um “gesto de grandeza” e, através de um pronunciamento ao país, admita a provável derrota na votação do impeachment e diga que o país não pode ser regido por um “governo ilegítimo” – referindo-se ao vice Michel Temer (PMDB-SP), sucessor natural da petista caso ela seja afastada do cargo. Por essa lógica, a única opção seria abrir mão do cargo para que sejam convocadas novas eleições.
Os senadores já apresentaram uma PEC instituindo para o dia 2 de outubro a data para que seja realizada a eleição presidencial.
Para alguns petistas favoráveis à convocação de novas eleições, a antecipação do pleito poderá favorecer o PT. A última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 9 de abril, mostrou Lula e Marina Silva como os favoritos para a disputa em 2018, sendo que o ex-presidente cresceu nas intenções de voto na comparação com a pesquisa anterior, feita em março. Os dois aparecem tecnicamente empatados em três das quatro simulações feitas pelo instituto de pesquisa, o que animou o PT.
— Lula ouviu muito a posição sobre as eleições e pode se pronunciar depois — disse a senadora Lídice da Mata, anfitriã do encontro.
— Ele não disse nem que sim nem que não à nossa proposta. Mas fomos lá para pedir o apoio dele, não para ouvir o discurso do PT de que é golpe — acrescentou o senador João Capiberibe (PSB-AP).
Após reunião com Marina Silva, senadores disseram que ela não estaria disposta a abrir mão de apostar numa decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o assunto.
— Mas o que nos une é a questão de novas eleições — disse Lídice da Matta.
Segundo relatos, Lula estava muito rouco e fundamentou a posição de que o aconteceu no Brasil é algo de uma “brutalidade” muito grande. Ao saber do cenário desfavorável no Senado, Lula teria dito que irá “lutar até o fim”.
Entre os participantes do encontro estavam os senadores Lídice da Mata, João Capiberibe, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Otto Alencar (PSD-BA), Wellington Fagundes (PR-MT), Jorge Viana e Paulo Paim.
Além disso, Lula voltou a dizer que o impeachment é “golpe” e que os senadores deveriam rejeitar o afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Fonte: O Globo